01/02/2009

MIMOS DA MAMI

Livros que minha mãe tinha separado para eu ler: biografias de Baudelaire e Rimbaud


De Visconti: O Leopardo e Ludwig





Quando cheguei na casa da mamma, ela já tinha pego na Biblioteca (não a de casa, a Biblioteca Pública) uns livros para eu ler. Claro que não li nenhum, mas agredeci os relatos que ela me fez da vida de Baudelaire e de Rimbaud. Juro que entendi tudinho na hora, mas não sei se saberia repetir.

As sessões de filmes foi mais divertida, já que durante o semestre eu não havia atendido suas recomendações de ver Visconti. Na verdade tenho um pouco de medo dos filmes recomendados por minha mãe. Medo que eles sejam bons e me causem pensamentos muitos complexos, como os de Bergman, ou medo que eu entre numa roubada muito grande, tamanha a chatice, tipo "A Árvore dos Tamancos". Talvez se eu visse "A Árvore dos Tamancos hoje eu até achasse legal (seráááá?), mas na época eu achei um saco.

Esses e muitos outros ela me levava para eu ver quando eu tinha dez, onze anos de idade e a gente morava em São Paulo. Acho que ela não tinha muita noção do que era programa para criança e programa para adulto (muita não, ela não tinha a mínima noção!) e, já que ela gostava tanto dos filmes, estava pensando fazer um bem para mim me dando a grande oportunidade de ver tais obras primas.

Foi assim com ".... E o Vento Levou", que estava reestreando numa versão sei lá o quê. O filme tinha censura de 12 anos, mas ela conversou com o bilheteiro e entramos, ficando numa andar superior do cinema. Lembro que ela chorava muito no filme, levou até uma caixa de lenços (draaaaaama!).

E assim, agora nas pequenas férias de fim de ano ao lado dela, os filmezinhos escolhidos, claro, tinham que ter essa cara. Chegou uma hora em que eu falei: "mas mãe, nem um filme menos antigo, mais leve, mais despretencioso?".

Ela simplesmente não sabe o que é isso, é o universo dela. Assim como eu me tornei uma pessoa "levemente" datada dos anos 80 e 90, vou aos poucos reunindo os filmes e álbuns que foram importantes para mim ao longo da minha vida, ela assim que pode, começou a fazer o mesmo com o que foi/é importante para ela.

De tudo que vi por lá, ficou sobretudo Visconti, especialmente Ludwig. Quando fazer cinema era outra coisa, era preparar o ator. Ao assistir você percebia que ator, diretor, todos estavam realmente embrenhados naquilo. Uma obra braçal, artesanal, genial.

Para cada pessoa, algo marca em Ludwig. Para mim, foram os diálogos entre ele e o general. Todos respeitavam Ludwig, afinal ele era o Rei. O general, além de respeitá-lo, tinha amizade por ele, entendia os seus dilemas humanistas (Ludwig estava mais interessado em contratar Wagner para inaugurar um teatro com uma nova ópera que se aproximar de assuntos práticos, e não foi para o front).

Também gostei dos diálogos entre Ludwig e sua prima Sissi, vivida novamente pela Romy Schneider, que tinha interpretado a personagem na trilogia Sissi, de outro diretor. São retratados os dilemas da realeza, de não poder fugir ao papel da nobreza, de não poder chutar o balde como um simples plebeu.

Enfim, sensibilidade em excesso nem sempre combina com o poder, e talvez leve à perturbações mentais. Ou elas são impostas pelo sistemão? Ludwig e Visconti são uma boa oportunidade para pensar sobre isso.

E o Leopardo, com Burt Lancaster no papel título, nos faz ver a decadência da aristocracia italiana. O oportunismo dos recém vencedores da revolução de Garibaldi ao aliar-se com a burguesia ascendente deprime o olhar do "Gattopardo", sobretudo na longa sequência do baile, que é onde ocorre toda a percepção dele e o mal estar com a situação.

Talvez por isso, eu tenha me cansado da longa sequência, mas sempre respeitando Visconti, que passei a conhecer, como tantos outros diretores, por intermédio da mamacita.

2 comentários:

  1. Lindo demais essas duas capas de livro sobre Rimbaud!


    Dos filmes citados, só vi "E o vento levou" e "Cidadão Kane".


    Sua mãe manja!

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  2. Anônimo2/2/09 08:27

    muito bom ver filmes que significam mito para alguém, é um " compartilhar" diferente.

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