27/02/2011

EMA

Cachorro Grande



Eu choro em shows. E não é de tristeza.

23/02/2011

DO YOU REMEMBER?

A rich guy


- Eu fui de blue velvet no Blues Velvet.


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- Eu tenho que te contar uma coisa que eu fiz.


- Ai, Tati, não vai me dizer que vc fez xixi na calça?


- Não, que idéia, que ridículo, eu aqui pensando numa coisa séria, vou desabafar e vc me fala isso?


- Claro, vc volta do banheiro com uma cara esquisita.


- Não, é que e tenho que contar para alguém que minhas tatuagens simétricas não ficaram muito simétricas.


- Ah, mas eu acho assim mais legal.


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- Eu me lembro dela! Eu me lembro de vc, lá do Bar do Meio, do Linão, do Estorvo!

- É? Que lindo! Desculpa, mas eu não lembro de vc! Tira o chapéu.

- Tudo bem, eu era só um piá de 20 anos naquela época.

- Qtos anos vc tem?

- 36.

- Pow, mas vc é quase tão velho qto eu! Mas então o Lino's agora é na Barreirinha, né?

- Agora não, é lá desde 2007, acho.

- Então, agora.



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- Rabo de galo é o que com o quê mesmo?


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- Moço, o que é essa coisa vermelha?


- Grenadine.


- E Grenadine é o q?


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- Odeio esses caras paulistanos que fazem com que eu me ache uma caipira.


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- Oi. Eu não te conheço do Lux?




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- Eu não vivo bêbada 24 h por dia. É que sempre que vc me encontra, eu estou assim. Eu falo isso há anos?


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- Eu não lembro da Lu e vc não lembra de Ilhéus, que é muito mais recente.


- Ah é, acho que a gente já teve essa conversa. Será que na próxima eu vou ter esquecido de novo?


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- E porque vc não foi morar em Curitiba? Curitiba é muito rock, está muito mais rock que SP.

- Não dá, Curitiba é perto demais de muita gente.


- Tati, sabe o que vc precisa fazer?

- Hã.

- Ir nos shows.

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Descobri que a tarracha que eu estava procurando não existe. Achei o tic tac que eu tinha perdido dentro da minha bota.

DÉCADAS

Clube Berlim


21h30: Estou velha, sou a pessoa mais dissonante desse lugar aqui. Acho que vou deixar um bilhete para ele falando que tive que ir embora. Mas não, né? Já basta quando o Vlad foi tocar lá em Salvador e eu não fui vê-lo porque estava deprimida. Não vou fazer a mesma sacanagem com outro amigo.

05h00: Nossa, nem estou preocupada com a janela do meu vizinho!

17/02/2011

PÚBLICO E PRIVADO



Quando dei de cara com o livro do Ibsen na estante da casa da minha amiga, não titubeeei. O elegi como o meu "livro de bolsa" nessa temporada em Salvador, já que sendo uma leitora relapsa, esqueci o livro que eu andava lendo a passos lentíssimos lá em casa - e só me dei conta disso na metade do caminho, ou seja, não devo estar lá muito entusiasmada com ele.

Essas coleções populares que são encontradas em supermercados e bancas de revistas são ótimas, eu mesma tenho alguns exemplares de clássicos comprados em viagens ou em ocasiões tipo:

- Está tão barato, porque não levar esse título indispensável para qualquer biblioteca, mesmo que eu demora séculos para ler?

Na verdade, eu não sabia muito bem quem era Ibsen. Obviamente gostei do título, o livro faria boa companhia a outros de Proudhon, Bakunin e Kropotkin, todos dessas coleções "pops", que tenho lá em casa.

O prefácio contém trechos de um artigo onde ninguém menos que o então jovem James Joyce (de quem eu  até hoje sequer li uma linha, confesso) defende Ibsen das críticas pelo suposto fato do dramaturgo não ser, assim, digamos, um cara suuuper pomposo e eloquente.

A proposta de Ibsen talvez não fosse essa. A proposta, o jeito, a natureza, seja como for. O que não o torna menos brilhante.

Fazia tempo que eu não lia uma peça teatral, e a dinâmica do texto é muito boa. O modo como os fatos se desenrolam é um retrato dos dilemas da natureza humana, da vida em sociedade, da diversidade dos interesses e da dificuldade em compatibilizá-los.

Escrito em 1882 (há 129 anos), "Um inimigo do Povo" continua absurdamente atual. Por que?

Poque os argumentos que tentam nos fazer acreditar que o Anarquismo nunca passará de uma utopia continuam existindo. O incrível é que das mesmas maneiras, com os mesmos mecanismos, extremamente simples em suas essências, sofisticando-se apenas em suas camuflagens.

Dois irmãos. Um é prefeito da cidade, outro médico. O médico é idealista, visionário, ético, passou por dificuldades financeiras ao longo da vida. 

O prefeito? Bem, é um prefeito. A condição dada por tal substantivo repele vários adjetivos. Resumindo, ele não é muito parecido com o irmão.

O mote ocorre quando o médico descobre algo que vai contra os planos de desenvolvimento que o irmão tinha para a municipalidade.

O interessante é que se trata de questões ambientais, sanitárias, de articulação social, enfim, totalmente pertinentes aos dias presentes.

A flexibilidade e a moderação, tão aclamadas atualmente, também são retratadas. O protagonista, Dr. Stockmann, como qualquer pessoa que tome alguma decisão que vá contra a ordem estabelecida, foi acusado de ser inflexível, radical, inapropriado.

Curioso é que até o momento em que a pessoa se insere, mesmo que de modo crítico, no estabelecido, ela é apropriada. E foi, inclusive, bastante flexível para poder estar ali até então.

Mas quem vai começar a ser flexível (leia-se fazer alianças) agora é quem se sente ameaçado. É incrível, mas o poder se sente ameaçado por qualquer coisa, por menor que seja.

E aí, ele vem na modalidade "rolo compressor".

A primeira coisa que eles tentam destruir é a honra da pessoa. Que o diga o Dr. Stockmann, que virou "O Inimigo do Povo".

Muito bom o livro.

Felizmente, assim como certos dilemas humanos, a arte tb é atemporal!

PATINHO

Imagem d' El Multicine


Aí a pessoa vê o trailer de Cisne Negro e acha que vai ser um filme sensacional. Chega a ficar nervosa com as pessoas falando no cinema - o que não é novidade - imaginando que não vão fazer silêncio quando o filme começar e que vão atrapalhar sua concentração.

Tanta expectativa em vão!

Foi agradável ver os bastidores do ballet, ver os calos nos pés das bailarinas e a rivalidade entre elas, ver que as graciosidades que aparecem flutuando no palco dão duro, pegam metrô, lutam por dias melhores.

Também é sempre bom ver a Winona Rider, que nesse filme interpretou a bailarina principal da Companhia que, mais por seu modo pouco ortodoxo de viver que por sua já não tão tenra idade, é levada pelo Diretor à uma aposentadoria involuntária.

Entretanto, o anunciado "suspense e drama psicológico" não dá frio na barriga nem comove. Natalie Portman é Nina, uma bailarina esmerada que mora com a mãe, ex-bailarina, e dorme num quarto cor-de-rosa cercada de bichinhos de pelúcia.

Certamente seu histórico familiar e a maneira com que encara a vida e a dança têm papel fundamental no modo com que ela age quando ganha o papel principal na nova montagem da Companhia. O filme, ao invés de se aprofundar nisso, prefere banalizar os acontecimentos, algumas vezes até tentando um certo tom de comédia.

Não é que eu não tenha senso de humor. É, muitas vezes não tenho, quando substimam minha inteligência. Quando é uma coisa rasa, tangenciando o patético. E da metade do filme em diante, creio que o roteiro se perdeu, ficando sem interesse, querendo surpreender mas na verdade se perdendo.

Enfim, nem tudo que parece, é.

12/02/2011

LACUNA

Foto de Filmcritic

Não sei se eu iria, de livre e espontânea vontade, ver "Além da Vida" (Hereafter), dirigido por Clint Eastwood.

Embora a sequencia inicial passada na Tailândia seja espetacular, fiquei com a impressão de que poderia sempre ter ocorrido alguma coisa. Quando o filme terminou, eu percebi que não ocorreu.

Não curto sair do cinema assim.

Prefiro sair sem chão, destroçada, desiludida, chocada, que assim, decepcionada por algo não ter acontecido.

Gosto de cinema como gosto da vida. Intensamente.

06/02/2011

EM PÉ



Ver um filme de Alejandro González Iñárritu não é fácil. Não porque sejam filmes cabeção, em que a gente fica meio perdido.

Não.

O diretor mexicano deixa tudo muito, mas muito claro. De uma forma que, ao menos para mim, é quase insuportável.

Me lembro de ter passado mal, fisicamente, quando vi Amorres Perros (Amores Brutos), em 2001, sozinha na extinta Sala de Arte do Clube Baiano de Tênis. Senti náuseas logo numa das primeiras cenas, mas a intensidade do que eu via me apontava que eu deveria ir em frente.

Hoje, com Biutiful, não foi diferente.

As cores carregadas me agrediam, numa provocação. Pareciam dizer:

- Não está se sentindo bem, né? Mas é assim que é o filme, e vc sabe que ele é bom!

Ao invés do sangue, que me marcou em Amores Perros, agora a sujeira me agoniava.

Sujeira encardida, mofo, umidade. Dá vontade de passar um paninho com alvejante em tudo.

Mas não vai limpar. A vida dos personagens é muito mais densa do que uma propaganda de produto de limpeza.

Biutiful não tem a poesia de 21 Gramas, que mesmo sendo pesado é belíssimo.

Existem poucos trechos agradáveis nesse filme onde Javier Barden interpreta um sobrevivente em Barcelona. Duro, o personagem passa sem se lamentar por situações que me fizeram pensar que, realmente, eu não tenho problemas.

A doença diagnosticada é apenas um dos conflitos que ele tenta, como pode, gerenciar. É um cara que não se entrega, não se vitimiza.

O contraponto para tanto racionalismo é sua ex-mulher, completamente alucinada e sentimental.

Em meio a passagens que me fizeram lembrar de O Jardineiro Fiel, pelas questões de exploração étnica, e de Invasões Bárbaras, pelo fato de lidar com a morte iminente por câncer, eu torcia para que cada cena acabasse e viesse uma mais leve.

Raramente vinham, mas o personagem aguentou firme.