25/04/2012

REPRISE


Olhava atentamente cada traço daquele rosto, conferindo com os dados da minha memória visual, cada vez mais precisos em função da assiduidade dos nossos encontros.

Ele conversava, divertido, enquanto eu, desprovida do papel de interlocutora, podia me entregar à distração de somente observá-lo.

Sim, era verdade, ele estava ali.

Momentos antes, meu coração quase saía pela boca, querendo engolir cada instante na fumaça do Marlboro vermelho na porta do Café.

Eu não queria saber se estava chovendo, se estava frio ou se eu estava com roupa de verão. Não queria saber se me olhavam dar voltinhas na praça. Não queria saber de nada, só queria saltitar de alegria, pois ele iria chegar.

11/04/2012

REFEITA



Contrariando meu cálculos, ele voltou num dia qualquer.

Não era nada mais que outra segunda-feira onde a possibilidade de recomeçar se refugiava na penumbra da veneziana ainda não aberta, fazendo do dia um retrato do meu estado: arrastado, lento, pendente.

Então, com a mesma concisão com a qual entrou na minha vida, ele anunciou o retorno.

Voltou com um pedaço de mim.

Regressaram os sorrisos sem motivo, os milhões de batimentos cardíacos e o ritual dos preparativos.

De volta a maquiagem, o perfume e o salto alto.

Novamente as minúsculas calcinhas incomodando a cada passo e a total timidez perante alguém cada dia mais íntimo.

Voltaram o silêncio ao vê-lo, o não saber o que fazer com as palavras e o delicioso desconforto de querer fazer cada momento inesquecível e irreparável.

Reapareceram meu olhar encabulado, meu gestual lascivo, o orgulho por fazer parte de algo diariamente construído e a satisfação de poder satisfazê-lo.

Voltou meu delicioso cotidiano.

Tão saudosa quanto Curitiba, recepciono quem tem o poder de me transmutar.