30/03/2008

PEDRA BRANCA


Depois de quase uma semana sem acesso à internet (fui caçar borboletas, como diz a Tita), encontro - vejam só - comentários que não são nem da Katy nem da Tita no meu blog. Zuzo bem, mas o interessante é que era numa postagem antiga, sobre o município de Itapebi.

Os autores dos comentários são pessoas que nasceram e amam aquela cidade, que acharam meu texto na web e publicaram no site que mantêm.

Apesar de eu não suportar morar em cidades pequenas (o céu é o limite) e me irritar com o provincianismo em geral, admiro uma coisa: a sensação de pertencimento dessas pessoas a seu local de origem. Talvez eu não goste de cidades pequenas exatamente porque não saiba o que é isso, ter origem fixa, ter uma referência.

É extremamente curioso ver como as cidades adquiriram independência, se desmembraram de outras, entraram no seu período de apogeu... E como as pessoas se referem às outras: "fulano, filho de beltrano". Talvez eu me sentisse um pouco oprimida com isso, e falasse: filha de ninguém, sou Tatiana e pronto.

Mas isso é porque eu não tenho referências, buááááá! Numa cidade do interior, tudo deve ser calmo, imagino eu. Fora as desavenças políticas e as fofocas... Mas talvez quem nasça lá já venha se acostumando com isso há mais tempo...

O que achei bonito no texto que fala da história da cidade foi o final:

Hoje, Itapebi continuação a sua história acompanhando, de uma certa forma o "progresso" da região com seus novos traços, novos sabores noturnos e ao som de novos embalos, comemorando seus anos na esperança de um novo amanhã.

É preciso ter esperança e trabalhar por ela!

SAPATOS SUJOS


Peu, que tinha uma banda com Lefê, da qual eu não me lembro o nome (mas me lembro direitinho da capa do CD, com umas nadadoras), compôs uma música chamada "Sapatos Sujos". Se eu estivesse em casa, este post sairia mais redondinho, com a letra da música, que certamente eu ouviria enquanto escreveria e até mesmo as palavras seriam outras, bem como o rumo do texto.

O legal da letra, bem simples, é que por meio dos sapatos ela traça um paralelo com os caminhos que a gente fez até chegar no presente momento.

Sempre volto do mato bem suja. Sempre saio das coisas bem marcada, na verdade. Não consigo passar ilesa pelas situações e raramente elas também passam ilesas por mim. Se temos a capacidade de transformar as coisas, ainda que eu a use de forma incipiente, tresloucada, atravessada - na contramão do alegado bom senso, que assim seja.

Mas entrar no mato sem me sujar, isso não.

29/03/2008

ON THE ROAD

BR 101, proximidades do Parque Nacional Monte Pascoal, município de Itamaraju, BA

Em busca de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente

Trabalho duro, mais uma vez. Tenho me questionado muitas coisas. Estou perto dos 40. Tem coisas que não cabem mais. Campo é muito bom. Inegavelmente, sou muito boa de campo. Em dupla, sou melhor ainda, se meu parceiro for bom, como é o caso. Tivemos uma boa afinação, no primeiro dia a dinâmica flui bem. Natural. Ele gosta de levantamento topográfico, geoprocessamento, é detalhista nos mapas. Fica manejando o GPS com gosto. Eu, levemente controladora e com mania de organização, fico com a ficha de campo, coisa que ele não faz questão ("anota vc, que tem a letra mais bonita"), e tiro as fotos. Anoto as Coordenadas e as fotos associadas a cada uma delas.

A questão é: paramos em todas as nascentes secas, todas as represas, medimos toda a área para estimar a largura do rio? Quando estou no campo, não consigo deixar passar. O caso é que demora, e a Chefia às vezes quer pressa. Eu já vi Chefe chamar o peão para fazer o trabalho melhor, nunca vi chefe chamar e falar: "escuta aqui, vc tá fazendo muito bem feito, tem que fazer mais matado"...

Por essas e outras que vejo que embora tenhamos um objetivo maior - apesar deste também estar se esvaindo em acordos e pressões, me sinto tolhida por ter discernimento, ter capacidade crítica além da média - que só quer fazer suas atribuições e olhe lá - e não ter capacidade alguma de decisão.

Tô ficando mais velha e não quero ser peoa a vida toda, não por ambição, por grana, por poder ou por dificuldade em cumprir ordens. Hoje vejo que é por ser capaz de ter uma visão mais apurada da situação, uma visão que talvez a estrutura paquidérmica do Estado não permita que os parasitas se afastem da máquina. Tenho procurado, ao menos imaginariamente, outras alternativas.

Enquanto isso não ocorre, trabalho com prazer, afinal amo o que faço e quando faço, modéstia às favas, faço bem. E já que estou na estrada, pé no acelerador e música no último volume. Gás não me falta!

15/03/2008

SANTA IGNORÂNCIA

Foto: Jean-michel Krief , em mnsbc
Bonitinho, mas equivocado
14.03.2008 | Os chimpanzés são comumente usados na publicidade. No entanto, a prática pode estar com os dias contados. Isso porque um grupo de primatologistas tem atacado a indústria da comunicação por explorar a espécie como "frívolos sub-humanos", que podem ser vistos como objetos de diversão e ridicularização. De acordo com os cientistas, vestir chimpanzés com roupas ou fazê-los realizar atividades cotidianas dos humanos dá às pessoas a impressão de que eles não são uma espécie em extinção. Segundo um levantamento realizado pelo grupo, 90% dos entrevistados acreditavam que gorilas e orangotangos eram espécies ameaçadas, contra 72% dos que pensavam a mesma coisa dos chimpanzés. O resultado indica uma percepção completamente errada, já que os chimpanzés têm sofrido um declínio catastrófico no estado selvagem e as estimativas indicam que a espécie poderá ser extinta dentro de algumas décadas. A campanha já surtiu algum efeito e a revista Science retirou de suas páginas os anúncios que exploravam os primatas. A notícia é do jornal inglês The Independent.
Fonte: O Eco

11/03/2008

TRABALHO, ESSA COMPLICAÇÃO


Paisagem bucólica? Mas parece que estão tentando fazer um atracadouro por lá...


A cidade é a "praia dos mineiros" por ficar na divisa da BA com o ES. Aí não é a sua orla, é a baía. Tem muitos pescados, mas não deu para eu ir ao Mercado do Peixe - afinal, eu estava trabalhando.



Chegamos em cinco - nós quatro e o que tirou a foto - à Secretaria de Meio Ambiente, para dar uma olhada nos processos emitidos para a atividade de silvicultura.

Semana passada foi um trampo duro. O bom de estar em campo é que eu acostumo a acordar cedo. Quando chego na capital, já me acomodo. Lá não, acho que fico tão ansiosa com os horários, tirar tudo da mala, deixar as coisas prontas, separar documentos, rever papeladas, que cinco e meia, seis horas, pulo da cama.

São dois tipos de estresses diferentes. Tenho tentado medir e escolher. "Agora, vou para o campo; agora, volto para Salvador". Não sou bem eu que escolho, as coisas têm seu período para acontecer, cabe a mim no máximo decidir se vou viajar ou não. Das últimas vezes, quase não fui, num processo de ruptura total. Mas transigi, visto que sou uma candura de pessoa.

Desta vez, não me estressei muito, não quis mudar o mundo, e acho que essa minha própria ruptura anterior gerou um pouco de descompromisso com as coisas, e que aliviou um pouco a tensão. Outra coisa que ajudou muito foi ter ficado na casa da Flávia, com as crianças, respirando coisas boas, ao invés de ter ficado num hotel impessoal e maçante.

Mas é claro que o meu "descompromisso" é apenas momentâneo. Isso, porque, sem querer parecer presunçosa, eu realmente tenho iniciativa no trabalho, agilizo as coisas, tenho desenvoltura para falar com as pessoas. Além da minha franqueza, que se por muitas vezes me atrapalha, por outras me ajuda, então faz com que eu seja lembrada. Se comumente é para os dissabores, às vezes também é para as coisas se desenrolarem, e aí, se não tem a minha mão, sinto que algumas coisas não saem tão rápido.

Isso é "sopa no mel" (aliás, que expressão ridícula é essa - sopa no mel? - ninguém toma sopa com mel, , nem põe mel na sopa, enfim....) para a minha ansiedade. Tatiana é ansiosa e é requisitada? Deixa tudo nas costas dela, uai! Então, nessa viagem desacelerei um pouco, mas nos últimos dias já resolvi umas coisas - que se eu tivesse resolvido desde o início, não teriam se encavalado tanto.

Mas deixa estar, assim as pessoas talvez tenham chance de ver que não foram muito competentes.

O fato é que eu amo o que faço. Mesmo. Quando vou ao campo, ou quando estou, como hoje ou ontem, em contato direto com o Ministério Público, corre em mim um ímpeto, uma empolgação, uma fé, uma crença que as coisas vão dar certo, que serão resolvidas, que o meu trabalho está adiantando para algo e faz parte de uma coisa maior...

Mas quando vejo as pessoas envoltas em pilhas de papéis que não despacham por acharem que precisam corrigir todas as vírgulas, quando vejo assessores que nunca foram ao campo comandarem equipes inteiras, quando vejo as multas paradas por um, dois, cinco anos sem serem emitidas, quando vejo os filhos de coronéis galgando cargos na Secretaria do Meio Ambiente, quando vejo todos os "novos" Diretores saindo para se candidatarem, quando vejo que o MEU trabalho talvez só sirva para que os infratores façam acordo com meus chefes....

Aí me dá uma vontade de sair... Sair, sair. Assobiando, se eu fosse calma e dissimulada. Não sou, fui sair esse poço que jorra espontaneidade. Tenho um plano: pedir meus mil dias de férias, ficar em casa, escrevendo, terminar meu mestrado (será que dessa vez sai?)...

Só que essa minha alucinação de querer fazer tudo também quer aproveitar essa oportunidade de estar em campo fiscalizando. Então, penso: é só mais essa Operação. São dados importantíssimos, como eu não vou participar disso?

Agora, acho que é só mais essa mesmo. Que deve ir até junho, acho.

03/03/2008

GUERRA




Emília Motina estava em guerra. Todos diziam que era contra ela mesma, e ela dizia que era contra todos. Parecia uma coisa bem tardia para ela, que passava dos quarenta, mas depois daquela maquiagem definitiva e da discussão com AgáErre, ela desistiu de muitas coisas.

Decidiu então se vestir como uma guerreira, e todo dia era mais um pedaço de sua batalha particular. Uma batalha que ela fazia do seu modo. Não seria silenciosa e velada como a guerrazinha diária da repartição, mas também não seria ostensiva e violenta como a estupidez daquele cauboy texano Presidente do Mundo. Não seria pacífica, mas talvez fosse tão patética e infrutífera quanto a  

Talvez Mimi fosse uma cópia do que ela menos quisesse. Agora não importava, ao menos não seguiu nenhuma profissão óbvia e era escriturária com orgulho e não dependia de ninguém para pagar as contas. Gostava de resolver o caso das fábricas de biscoito, pena que HR fosse o Dono da Justiça.

Mimi estava ficando bem chata, se indispondo com todo mundo. Ás vezes ficava muito quieta e se isolava. Às vezes pensava que tinha que ouvir os outros e aceitar. Mesmo que tivesse certeza que os outros não eram tão bons quanto ela naquele assunto dos biscoitos - e isso não era megalomania, era a realidade.

Mas noutras vezes, falavam: "Mimi, vc precisa ir lá amanhã. O AgáErre vai estar lá e estamos precisando de alguém como vc para falar umas coisas". Aí Mimi ficava nervosa de véspera. Ensaiava o que ia falar, escrevia, andava na frente do espelho ensaiando a melhor pose.

Ontem, Mimi não foi lá onde todos os colegas achavam que ela tinha que estar. Pensou: "porque eles não falam?". Estava cansada de ser sempre ela a falar, falar, falar. Já que não havia diferença entre os bons e os maus funcionários da repartição, ela foi fazer as unhas. E eu ouvi dizer que ela não acreditava que o que ela falasse pudesse fazer alguma diferença.

Amanhã, Mimi vai começar a olhar de novo as fábricas de biscoito do bairro com mais fiscais. A troupe de HR disse para Mimi e os outros dez que está tudo bem, e que eles podem olhar as fábricas em paz. Mas Mimi está de olhos abertos, e em guerra. Contra tudo e contra todos.

O cerco se fecha, ela está sozinha. Agindo assim, não consegue aliados. Mas estava farta de ser boazinha e também não tê-los.

01/03/2008

INTERESSES PARTICULARES

Foto: Welton Araújo / Agência A Tarde

Sucom é obrigada a reconstruir terreiro

O terreiro de Angola, Oyá Unipó Neto, destruído parcialmente na última quarta-feira, a mando da superintendente da Sucom, Kátia Carmelo, será reconstruído pela prefeitura municipal de Salvador nos próximos dias. Já a superintendente deixa a liderança do órgão e passa a cuidar exclusivamente da Secretaria de Planejamento do Município (Seplam). Pela manhã e à noite, representantes de terreiros de candomblé fizeram manifestações no local onde fica o terreiro, no Imbuí.

A prefeitura, conforme informou a secretária de reparação, Antônia Garcia, fará apuração sobre a legalidade do terreno. Caso seja confirmada a irregularidade, buscará a regularização fundiária. “Se não conseguirmos, vamos procurar outra área para erguer o templo, em comum acordo”, completa.

A prefeitura também assumiu o compromisso de arcar com os custos dos objetos de culto que foram danificados durante a demolição. As decisões referentes ao terreiro foram anunciadas por Antônia Garcia, após reunião, nesta sexta, com os responsáveis pelo terreiro, os secretários municipais de educação e governo e o subsecretário de Reparação.

O prefeito João Henrique, que havia anunciado a presença na reunião, não compareceu, o que gerou impasse para o começo da negociação. Os representantes do terreiro e da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA) se negaram a negociar na presença de Kátia Carmelo e pedem um pronunciamento do prefeito.

“Uma pessoa que considera um templo sagrado como um lugar qualquer e faz o que a superintendente fez, não é digna para conversar conosco. Não temos nada para falar com ela”, resumiu o presidente da AFA, Leonel Monteiro. Há dois dias, a reportagem tenta falar com o prefeito João Henrique, sem retorno.

O povo-de-santo solicitou ao prefeito a exoneração da superintendente, responsável por ordenar a demolição, considerada inconstitucional pelo Ministério Público por não respeitar o local como templo sagrado e os direitos dos indivíduos como cidadãos. Os técnicos destruíram o espaço com marretas e não permitiram a retirada de objetos do interior. A alegação era de que a construção é irregular e que o terreno pertence ao município.

O Conselho de Comunidades Negras (CCN) encaminhou para o prefeito, nesta sexta, um documento reforçando o pedido de exoneração de Kátia Carmelo, a recuperação total do espaço e uma retratação pública pelo ato de violência. “Para uma cidade com 80% de negros, uma secretária com essa atitude constitui um perigo constante”, afirma o presidente do CCN, João Reis.

Para Rosalice do Amor Divino, conhecida como mãe Rosa e sacerdotisa do Oyá Unipó Neto, nada vai recuperar os maiores danos da demolição. Os ibás (representação material do orixá), que foram destruídos durante a demolição, precisam de um ritual para tornar-se objeto sagrado, “não é apenas pegar outro e colocar no lugar”.

Opo Afonjá – O terreiro Ilê Axé Apo Ofonjá, localizado no bairro de São Gonçalo do Retiro, comemora parceria firmada, nesta sexta, com a Secretaria Municipal de Educação (Smec), para formação do Centro Municipal de Arte e Educação, que vai ministrar aulas para crianças carentes de artes e computação. No lançamento do convênio, Mãe Stella de Oxóssi lamentou a demolição do Oyá Unipó Neto, sem colocar a culpa no prefeito. “A prefeitura deve indenizar o terreiro e responsabilizar quem autorizou uma coisa dessa”, disse.

Danile Rebouças, d' A Tarde

Essa Prefeitura se supera a cada dia na incompetência! Com uma infinidade de áreas públicas invadidas por mansões, com áreas de risco desabando por todos os cantos com a chuva, com tanta pobreza saltando aos olhos, com tanto sem-teto precisando de áreas para morar, com as áreas abandonadas do Comércio precisando ser revitalizadas, com o Plano Diretor sendo aprovado para atender aos interesses do segmento imobiliário e liberar de vez o gabarito na Orla, com as barracas de praia poluindo visualmente e sanitariamente a área marítima de Salvador, com as passarelas de pedestres interditadas devido à sua total falta de condições para trânsito...

Enfim, com tanta coisa para fazer, eles conseguem detectar justamente um lugar onde NÃO É para eles mexerem, e mexem, destróem, desrespeitam, barbarizam. É muita incompetência, né?