26/05/2010

DETONATION INC

Desmatamento em área de Mata Atlântica. Litoral Norte, Bahia, maio de 2010


Esse ano tenho trabalhado mais que em 2009, quando eu fingi que não vi meus chefes e eles fingiram que não me viram.

Se eles me deram trabalho para fazer agora, eu como boa moça, estou fazendo. Eis que durante uma inspeção naquelas empresas que eu AMO, as que plantam, Eucalipto e que estão SEMPRE certinhas, eu vejo um desmatamento num terreno vizinho.

O carro com os dois caras da Empresa foi andando na frente, enquanto eu e minha querida, amada e leal amiga e colega Anna pedimos para o motorista parar para a gente dar uma olhada naquela, por assim dizer, merda total que estava diante de nossos olhos.

Descemos do carro. Ficamos em silêncio. Embora a repartição não tenha procedimentos, a gente tem. Ou foi adquirindo, pela nossa sintonia e convivência, dentro e fora do trabalho.

Começamos a andar pela estrada, sem entrar na área. Só vendo qual era a situação. Ela com o GPS, eu com a máquina. Somos uma dupla, e gosto que seja assim.

O estrago não é pequeno. Me sinto tomada por uma revolta tão, mas tão grande, que dá vontade na hora de ir lá ver quem é o imbecilis da silva que tá fazendo aquilo.

Não dá.  Não é assim.

A gente não foi para lá preparada para isso. Não seria eficaz nem seguro. 

Estávamos sem destacamento policial, estávamos com os caras da empresa nos esperando para vermos outra área, enfim, estávamos  totalmente despreparadas. E na verdade, não sabíamos o que fazer.

Anna  se lembrou imediatamente daquele motorista do trator que vimos no areal que tinha uma morte nas costas. Para esse povo, que está em condições trabalhistas ilegais, em atividades clandestinas, se envolver num outro incidente não custa.

Os caras da Empresa voltaram com o carro. Um deles, solícito que só, fala: 

- Olha, nem adianta olhar desse jeito não, essa área não é nossa.

Eu, quieta, pois hoje em dia não sou mais aquela louca ruiva estridente, que ficava falando que aquilo é um absurdo, onde será que estava aquele filhodaputa daquele dono daquela área, blábláblá, falei apenas:

- Sei.

Depois, calmamente, perguntei se ele teria como dar para a gente os dados daquele confrontante. Dados do proprietário do imóvel rural, nome, CPF etc. Sim, porque a multa teria que sair no nome de alguém.

Ele disse que sim, pois estavam fazendo esse trabalho de georrefereciamento e cadastramento para o INCRA.

Dias depois, não sem um pequeno esforço de nossa parte na repartição, e sem um retrocesso da Empresa no fornecimento dos dados do infratores, voltamos à área.

Não foi bom.