17/11/2009

NÓS NÃO VAMOS PAGAR NADA



Sexta de noite, tudo calmo, véspera do casamento de amigos queridos, sento em frente à TV para costurar almofadas. Cena singela.

Singela se não fosse eu uma pessoa que se importa com o que vê e se o que se vê não fosse tão bizarramente estúpido. Explico: vi o Globo Repórter sobre o Cerrado. Doeu. Foi doendo aos poucos. Fui fingindo que nada acontecia, que eu já sabia de tudo, que é assim mesmo.

Mas quando chegou no bloco da Bahia foi demais para o cabeção! Não dá, cara, não dá! Saber de tudo, em detalhes, ter participado de negativas por anos e anos para transformar essa realidade e ver, assim, numa sexta-feira banal num programa de TV, é realmente foda.

Me permitirei usar palavrões nesse post.

Ter trabalhado com afinco tentando fazer o melhor enquanto estive no licenciamento ambiental, depois de minha experiência no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, trazendo para o bojo licenciatório traços conservacionistas, isso tudo deixou mais marcas em mim do que eu pensara.

Não é à toa que hoje sou uma pessoa mais leve, mais amena. Mais alienada, talvez, não levando tudo a ferro e fogo. O trabalho na repartição e o governo petista contribui muito para isso. Para eu eu me juntasse (à mim mesma). Para que eu visse que não vou mudar o mundo, nem parar o desmatamento no Oeste, nem o avanço do Eucalipto no Sul.

Se sou uma acomodada? Acho que não. Em comparação com o que já fui? Não, decididamente não. Se tenho mais inteligência emocional? Não arriscaria a dizer que sim.

Meu ímpeto de mandar os que arquitetaram tudo isso tomar no cu é tão grande quanto antes. Eu apenas não durmo nem acordo pensando nisso.

25/10/2009

PRONOME OBLÍQUO

























Fotos de Alex Laner, um paulista perdido em Salvador que encontrei nos shows e no Twitter.

Não acreditei qdo soube que ia ter show do Wry aqui em Salvador. Fiz que não liguei, mas no dia do show gravei um CD e fiquei ouvindo o dia todo. Claro, a atmosfera da emoção que eu senti ao conhecer a banda, lá por 2003, me invadiu novamente. Aiiiiiii, como é bom ser sentimental!

O que eu mais gosto na banda, ou a coisa que mais me chama atenção em todo o conjunto, não é somente o som excepcional, mas o fato deles serem de Sorocaba e terem morado anos em Londres. Não, não é porque eles foram famosinhos e fizeram "sucesso" lá fora. É porque eles agiram contra o determinismo geográfico e cultural. Isso sim, eu gosto.

Esse desafio me fez quebrar a rotina e ir a uma casa noturma. Cheguei lá tarde, e tive que ficar esperando sozinha o show começar. Olhava algumas pessoas chegando e pensava: é verdade que isso seria um programa normal para mim há anos atrás? Não me encaixo mais nisso, não vejo um show como um grande acontecimento.

O show do Wry foi bem poético, bem mais pelas imagens que eu faço das coisas na minha cabeça do que pelas coisas propriamente como elas são. No mundo verdadeiro as coisas não são tão bonitinhas assim. Quando fui dar um papelzinho com o nome de uma música, a pedido de uma amiga, para um dos integrantes da banda, ele me perguntou: é pó?

Ahhhhh, meo filho, peraê! Olha para a minha cara! Vê se eu tenho tipo de quem us papelzinho de pó, pelamordedeus, e de quem passa isso no palco? Fiquei de ca-ri-nha, bi-chooo! Sério. Seríssimo. Em 25 anos de rock, nunca gostei dessa vinculação entre drogas e roquenrol. Já bebi, acordava  de ressaca e com o dedo amarelo de nicotina, mas cara, porque essa obrigatoriedade de ser uma porra de um papel de não sei o que?

Não, não é! É um bilhetinho. Um singelo bilhetinho, de uma fã, pedindo uma música. Tá ligado, man?

Fora isso, o show foi absolutamente impecável.


10/09/2009

É NOISE




Painel - Mata Atlântica: oportunidade ou empecilho?



Wigold Shaffer, do MMA



Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica



Matando a saudade do Mário


Rolou a Oficina "Mata Atlântica: Uma História de Destruição - É Possível Reverter?", uma iniciativa do Ministério Público do Estado da Bahia. Apesar de ninguém no meu trabalho ter me dito nada (sou apenas uma peoa), eu apareci por lá porque tinha gente muito competente falando.

Claro que eu não me refiro exatamente à maioria das autoridades que compuseram a enorme mesa de abertura, mas especialmente aos queridos Wigold e Mário, que no painel "Mata Atlântica: oportunidade ou empecilho" conseguiram, cada um a seu modo, nos dar dados contundentes que temos a chave para a conservação nas mãos.

Outros, que ocupam cargos estratégicos no Estado da Bahia, preferiram apenas rebater críticas e ficar se lamentando sobre a dificuldade de sua labuta diária. Vêem claramente o meio ambiente como um empecilho. Oh vida, oh azar!

11/07/2009

THERE'S A RUMBLE IN BRIGHTON TONIGHT


O baixista Nixxx, da banda argentina Motorama e o guitarrista Jimmy Rip, que já tocou com Jerry Lee Lewis, Mick Jagger e Debbie Harry.


Slim Jim

A banda

Adri e João

Eu e João, by Adri

Todo mundo tirou uma foto com Slim Jim ao fundo. Foto da Adri.

Fui ver o show do Slim Jim Phantom e não me arrependi nem um pouquinho! Confesso que pensei muito em não ir, dada a preguiça que tenho de festas que bombam. Imaginei que uma festa chamada Horror Billy Fest me estragaria o humor e que eu veria tantas pinups e tantos topetes que eu me irritaria.

Por isso, fiquei me enrolando entre o vai e o não vai e cheguei a 01h da manhã. Perfect! Como não bebo, salvo raras ocasiões (essa seria uma delas, mas dirigindo, nem pensar!), pensei que eu não teria empolgação suficiente para ver o show das duas bandas que abririam a noite, embora eu tivesse ouvido falar bem d' Os Sapatos Bicolores no tempo em que eu ainda lia resenhas sobre o assunto.

Encontrei com a queridíssima Adriane, que foi quem me avisou do show. Conversamos pouco, e o show começou. O que vi foi estupendo! Um rockabilly puro, limpo, honesto. E que botou a galera para dançar, unindo a velha guarda e os mocinhos.

Ver o Slim Jim, ali na minha frente, tão acessível, me fez sentir que as coisas podem se tornar verdadeiras. O cara que eu via na contracapa do vinil que comprei no Conjunto Nacional (o de Brasília, não o de São Paulo) e que escolhia, na minha imaginação, se eu namoraria com ele, com o Brian Setzer ou com o Lee Rocker.

Confesso que achei o som do Stray Cats muuuuito estranho quando ouvi pela primeira vez. Todo mundo falava em Stray Cats, que meu topete parecia com o deles, que isso, que aquilo, então eu já me sentia a própria straycatiana. Aí cheguei em casa, isso em 1983, com aquele vinil deles, e coloquei na vitrola. Não era um som facilzinho de grudar na cabeça de primeira, tipo Siouxsie ou The Cure. Nem um punk rock como os que eu estava acostumada. Fiquei meio decepcionada, achando que eu ia ter que deixar que compartilhar um gosto com a turma, que era tuuuuudo para mim.

Mas nada como uma audição mais apurada, ou duas, ou três. Rock this town, rock it inside out!!! E Stray Cats me acompanharam pelas minhas viagens para São Paulo, pelas pistas do Madame Satã, para a minha mudança para Curitiba, enfim...

Muitos movimentos foram surgindo e desaparecendo, participaei de alguns mais ativamente, fui tendo amigos das mais várias vertentes, acompanhei de longe esse boom que hoje virou o psychobilly, e os Stray Cats sempre estiveram lá, hors concours, sendo respeitados por pessoas das mais variadas tribos.

E o curioso disso é que o Slim Jim volta tocando e Brasília não numa super mega produção, como é claro que ele merece e pode ter, se quiser e fizer as concessões para isso, mas numa festinha quase caseira mas altamente legítima. Que não teve o público que ele merece, mas aí é outra estória, e só lamento pela falta de competência da cidade.

As pessoas preferiram lotar o ginásio de esportes para ver Biquini Cavadão, Ultraje à Rigor e Lulu Santos. Na verdade, eu odiaria ver o show do Slim Jim com essa gente. É, sou esnobe nesse sentido. Prefiro não ir em certos lugares, faço minhas opções muitas vezes erradas e muitas vezes pago o preço por elas. Por isso, acertei na mosca vendo o Slim Jim!!!!

09/07/2009

H2OLHOS


Ao chegarmos no Parque, Sandra falou: "vamos beber uma água?". Claro, só se pensa nisso, com umidade relativa de 49%. Eu já estava pegando minha carteira para logicamente comprar uma aguinha, quando nos deparamos com um... bebedouro! Da CAESB. Dili!

O Parque conta com uma infraestrutura muito bacana, como lixeiras com um desenho que achei interessante

Será que em Brasília as pessoas já têm a cultura de sepação do lixo? Espero que sim! Há coleta seletiva, ao menos no Plano Piloto, que eu saiba. Na casa dos meus irmãos, vejo o caminhão do Lixo que não é Lixo passando, não é o sufoco que é em Salvador, onde vc precisa ligar para a Limpurb, saber qual é a ONG que trabalha no seu bairro (se houver uma), e rezar para que ela passe no dia e horário marcado. Senão não tem onde colocar todo o lixo reciclável da semana, do Edifício inteiro, já que vc convenceu as pessoas a separarem (e mesmo assim elas separam errado, basta ir jogar lixo na lixeira do seu andar e ver garrafas pet no lixo orgânico).


Uma das barracas que oferece massagem


Uhú, me senti no Central Park. Gente tomando sol, que moderno! Minha irmã falou que menos, que basta ir ao Parque da Cidade que isso é comum.

Há uma série de equipamentos para atividades físicas, que no final da tarde ficam bastante disputados. Na foto, um espaço específico para a terceira idade com esses equipamentos. Tem até aquele elíptico! Aquele, quue na minha academia me falram que eu só posso ir quando estiiver mais "adiantada"...

Um tronco de árvore virou uma onça!

Um gatinho se camuflando...

Existem áreas de vegetação. Alteradas, mas com vegetação. Melhor que a comunidade de Brasília tenha essa área verde, amplamente utilizada, que isso tenha virado um monte de prédio, né?

Já pensou em tudo isso aterrado? Muiita gente já!!!!

Em mais um reencontro, fui com Dona Sandra Bittencourt caminhar no Parque Olhos d'Água. Quatro voltinhas a pé. Quinze voltinhas no tempo, que parou e não passou, mas passou e continuou nos deixando lindas, risonhas e engraçadíssimas.

Ela lembrava de taaaaaanta coisa que eu não lembrava! Impressionante como existem fatos que ficam na memória dos outros. Acho que essas amizades de adolescência, essas quando uma conhece a família da outra, que foge junto do colégio, que dorme na casa da outra, que inventa mentira ou descobre as verdades juntas... Essas coisas marcam, e são marcas boas.

Às vezes fico pensando que virei a mais careta de todas minhas amigas. Ou de um bando delas. Ou talvez a minha "loucura" tenha me dado lucidez para chutar o balde na hora certa, enquanto a "caretice" delas as fez aguentarem coisas tipo dez anos de um casamento no way.

Por isso, eu me acho muito certinha. Não ter filhos me deu essa mobilidade, essa independência, me possibilitou tomar com mais rapidez decisões que outras mulheres demoram mais para amadurecer - há mais coisas em jogo.

Claro que existem ônus nessa minha decisão, mas acho que o tempo em que eles mais pesaram já se passou. Casamento eu também não sei se é para mim, ao menos não nos moldes de muitos dos que ouço relatos - inclusive dos dois que tive - que foram desfeitos justamente por isso.

Pensando bem, nada melhor para se renovar com a solteirice do que se lembrar de como pode ser árdua a vida de uma pessoa mal acompanhada. Quero leveza! Se for sozinha, beleza! Acompanhada, melhor. Mas leve!

NÃO ADIANTA BATER

Eu e Alice, no Beirute da Asa Norte

Fachada lateral do prédio do Instituto de Artes (IdA) da UnB

Chamada para exposição no Espaço Piloto

Cometa Cenas

Cartaz d "A Casa Fechada"
Cena inicial da peça

A Casa Fechada

Ontem fui ver o espetáculo teatral "A Casa Fechada", de Roberto Gomes, em montagem de alunos do curso de Artes Cênicas da UnB. A direção foi de Alice Stefânia, professora do curso. Foram duas apresentações no dia de ontem, inseridas no Cometa Cenas, mostra de trabalhos de alunos do Instituto de Artes da UnB.

Combinei com Alice de ver a apresentação das 18h. Ao chegar mais cedo (16h50, será que sou neurótica?), a vi rodeada de pessoas do elenco, e logicamente não fui tirar a concentração deles (nem ser inconveniente).

Zanzei pelo IdA e entrei numa sala onde estava tendo uma apresentação. Teatro, mesmo de alunos, não dá para ser de médio a ruim. Teatro tem que ser bom. E aí o diretor tem que se virar. Imagino que cada ator tenha sua limitação, mas cabe ao diretor ter noção do que está suficientemente pronto para ir ao palco.

Eu não entendo de onde algumas pessoas tiram a idéia da entonação completamente caricata dos personagens. Uma coisa quue não se aplica. Parece que estou ouvindo estória da minha coleção do Disquinho. Sério. Aí, nessa hora, eu acho que isso não é resultado para se apresentar numa Universidade pública.

E fica claro que há diferenças entre os atores. Alguns, por melhores que sejam, não conseguemm segurar a cena contracenando com outros que nos constrangem de tão ruins. Olho para o relógio. Nossa, acho que a apresentação pela qual espero não será naquela sala.

Como sou lesa! Claro que não será! Precisam mudar o cenário, precisam mudar tudo! E agora, como faço para sair dali? Meu pé está dormente, estou sentada no chão, vou fazer barulho, não tenho elasticidade para levantar como uma ginasta. Ah, claro, para melhorar estou de vestido. Não muito comprido.

Após engatinhar elegantemente em direção à porta emperrada, ao sair percebo que algumas pessoas aproveitaram minha iniciativa e me seguiram. Nada como ser precursora!

Então, fui ver a exposição de diplomação da turma de Artes Plásticas de 2009 - 1o. Semestre. Gostei de alguns trabalhos, e me alivei por não encontrar mais sentido nas coisas sombrias que estavam expostas, adequadamente, no subsolo. Com exceção de um coração (ou rim?) feito em metal trançado, bem delicado e artesanal, que tinha uma lâmpada que parecia um cristal que projetava uma sombra rendada, na parede. Esse eu adorei, fiquei brincando com a lâmpada, desenhando o movimento pendular do órgão projetado.

O restante, eu gostaria há dez anos atrás, quando tinha na boca um gosto de asfalto e sangue. E barro vermelho. Hoje tenho nuvens e sorvetes e um colorido de flores. Por mais que a vida tenha sombras.

Também gostei muito do trabalho do cara com traço dos quadrinhos. Em tempo de tantas instalações, ele reacendeu a lembrança de desenhar numa folha de papel. Não é assim que tudo começa?

Depois desse giro, volto para o corredor, onde econtro Alice, que me diz que o espetáculo vai atrasar um pouco. Me convida para entrar, eu declino. Mais um passeio. Quando volto para a porta da sala, já tem uma fila enorme, distribuição de senhas, todo um esquema. Informal, mas um esquema. Como eu ia falar para o cara que eu já estava lá antes daquela fila ser formada? Melhor pegar logo minha senha.

Começo a observar. Como seriam essas pessoas em Salvador? Será que eu seria implicante com elas? Provavelmente. Tenho uma tendência a ser benevolente com as pessoas de Brasília e rígida demais com as pessoas de Salvador. Em alguns pontos. Culturalmente.

Mas Academia é Academia. E Academia de Artes, ainda por cima, tem umas coisas que realmente... As conversas que eu ouvia enquanto esperava a fila me faziam pensar nisso. A galera da Academia sempre vai ter o rei na barriga, não adianta. E tb tem um olhar um pouco deslocado da realidade, ou sei lá, o que é a realidade? Talvez eles tenham outra realidade, que não é essa nossa (minha), simples, medíocre, comezinha.

Mas chegou um cara na fila e me perguntou: "é A Casa Fechada?". Eu: "hã?". Ele, de novo: " A Casa Fechada?". Eu, como já tinha dado um furo lá com as senhas mas agora era ÍNTIMA do ambiente e sabia que precisava de senha, falei: "não". Hahahaha, achei que ele tivesse perguntando se a casa era fechada para pobres mortais como ele, mas eu quis dizer que não, que era só ir lá nna frente que eles davam uma senha e vc entrava na fila e podia ver o espetáculo. Aí, uma professora que estava na minha frente acho que ficou com pena da minha descompreensão e falou para o cara: "é!".

E de fora em fora, entrei no teatro. Nem parece que tenho duas irmãs atrizes e sou filha de ator e diretor. Gosto de ser ter perdido esse vínculo e ter criado outros. É a minha identidade, e nesse sentido a acho comum. E sendo comum, gostei da peça. Com meu olhar que acho crítico para uma leiga. Sente-se claramente a afinação do elenco, mesmo com uma substituição aos 50 minutos antes do início da apresentação. Mérito de todos, e muito da direção.

O figurino estava fantástico, tb gostei muito da concepção gestual principalmennte da personagem "menina". Uma peça na qual a gente nnão presta atenção nos atores. Isso é bom.

Desta vez, na volta da UnB para casa, ao passar pelo CEAN eu não senti nadica da nostalgia que senti naquele outro dia. Acostumei, baby, tenho nervos de aço!

05/07/2009

A SANTA IGREJA

A fachada da Igrejinha, com a forma de um véu de noviça

Algumas pessoas simplesmente estavam ali

A arte se manifestando

Claaaaaro que na porta da Igrejinha tinha a turma do contra, as senhouras católicas, fazendo pressão. Senhoras católicas contra a obra do Galeno, porque certamente existem senhoras que são católicas e a favor. Mas essas, educadamente, fazem questão de marcar presença em todos os lugares. Tipo cigano cobrando dívida.


O polêmico painel principal

Painel lateral, com pipas em referência às crianças que avistaram N. Sa. de Fátima

Outro painel lateral

E outro

Na saída, sorvete. Existe coisa mais gostosa para um sábado de tarde?

Placa de autorização da obra em andamento


Na Asa Sul há uma Igreja, conhecida por Igrejinha de Fátima, que é tombada pelo IPHAN e que foi projetada pelo Niemeyer. Originalmente, a casa santa era adornada por obras de Alfredo Volpi, mas aí o padre que era o DONO do pedaço na época, achava que o Volpi era muito modernoso e após raspar e lixar o reboco, mandou um pintor de paredes passar a tinta branca por cima.

Como diz um entrevistado na matéria do Correio Braziliense, a destruição foi muito bem feita. Não dá para restaurar a parada, mano. Com isso e outras demandas, houve um projeto de restauração, a cargo, como não poderia deixar de ser, do IPHAN.

O arquiteto responsável pelo projeto de restauro na Igrejinha de Fátima explica a concepção do projeto, que englobou não só o que hoje causa calor nas senhouras católicas e nos políticos engravatados que estão fazendo pressão nos órgãos que têm função social ao lidarem com essa gente que tb faz parte de sociedade. Só que qualquer pessoa minimamente cidadã sabe que um órgão público tb (e não em segundo lugar) tem função técnica, que não pode se curvar a uma vontadezinha temporal de uma parcela que provisoriamente tem acesso aos meios de poder, que por sua vez escolheu meios questionáveis de manter a "governabilidade".

O projeto restauro da Igrejinha, afinal, não engloba só os painéis que Francisco Galeno foi convidado a conceber e executar, dentro de padrões pré-definidos a partir da obra original de Volpi destruída pelo pároco e senhouras complacentes. Tais critérios eram o uso do azul cobalto como fundo, a figura centralizada de N. Sª. de Fátima e elementos ligados à sua aparição.

Zuzo bem que não houve chiadeira para os outros benefícios do projeto, como recuperação ou restauração do projeto paisagístico de Burle Marx, do acesso à Igreja feito por uma escadaria, do piso externo e interno, dos bancos projetados por Burle M., dos azulejos feitos por Athos Bulcão, pintura, impermebialização da laje, sistema de som e iluminação e outros babados litúrgicos de acordos com as "ABNTs" do Vaticano.

Mas chegou na hora da Santa, nega, a porca torceu o rabo. Ah, porque a Santa não tem rosto, ah, porque é um desrespeito, ah, isso, ah, aquilo. Agora, o Jesus todo ensanguentado que eu tinha que ver quando eu era criança não é desrespeito não, né? Aquela coisa cheia de espinhos na cabeça do cara me causando agonia e me afastando potencialmente da igreja, afastando potencialmente uma futura devota, não é um desrespeito, né?

E todas as matanças, as desigualdades, as injustiças que a Igreja Católica promoveu ao longo dos séculos não são um desrespeito? E o próprio ato de cobrir a imagem da santa com um pano branco é bem respeitosa e retrata a tolerância pregada pelos ensinamentos de qualquer religião (pelo menos as que se prezam), néam?

Sim, mas não é disso que se trata. A obra de Galeno não é um troco, um afronte, um revide aos desvarios tirânicos do catolicismo. É apenas, e grandiosamente, a visão lúdica do artista, que tem influências de Volpi e foi escolhido por isso. E, depois de escolhido, teve a obra discutida com representantes da comunidade, que agora dizem que já viajaram o mundo e nunca viram uma coisa dessas, e que não concordam que as crianças cresçam vendo essa imagem, que não inspira piedade. Então, quer dizer que só é católico se for bem triste e ensanguentado?

Basta de me fazer fugir da sala dos ex-votos! Aquilo lá parece uma casa mal assombrada! Não se pode respeitar outro tipo de manifestação artística para os espaços religiosos que não seja mórbida? Sinceramente, às vezes vc não sabe se está numa igreja ou num trem-fantasma!

Até eu, que não entendo lhufas de História da Arte, sei que a Santa Igreja se revirou o que pode contra o naturalismo das obras de Michelangelo. O nu e a falta de sofrimento no semblante das esculturas e pinturas causou espécie.

Ora, claro que não estou querendo colocar o Francisco Galeno no patamar de um Michelangelo, mas o que quero dizer é que ao contrário do que certos argumentos defendem, as coisas não são estáticas. Se obra de adoração fosse sempre do mesmo jeito, nunca tinha tido anjinho pelado na igreja.

A própria Igreja não é essa coisa caquética que está tendo essa reação agora. Isso me faz envergonhar de ter sido batizada na Igreja Católica. Isso, ao lado do Padre Marcelo Rosa e do seu sucessor botocudo, me faz ver o quanto as pessoas estão realmente distantes dos ensinamentos bíblicos.

Só sei que no primeiro sábado em que cheguei à Brasília fui à manifestação a favor do trabalho de Galeno na Igrejinha. Num sábado de sol, adultos, idosos e crianças se encontraram para apoiar o artista e observar os painéis que foram novamente expostos, em meio a cadeiras e cavaletes. Aproveitaram tb para engrossar o abaixo assinado.

As senhouras, como uma sombra que não desgrudam, estavam lá! Como eu não sabia quem eram, ao entrar na Igrejinha achei simpático estarem todas em círculo. Claro, o espaço é público. Só não achei nada elegante essa afronta.

Entrei na Igrejinha e, como não podia deixar de ser, me ajoelhei e rezei. Eu não estava lá porque era contra a religião, porque para mim aquelas senhouras nem representam a religião. Claro, elas são bem mais católicas que eu, que nem sou, e longe de mim querer competir com elas. Devem saber nome de tudo que é santo, devem ser muito boazinhas e doar agasalhos nas campanhas de fraternidade.

Mas se sentem tão injustiçadas com uma Santa sem rosto que não conseguem se enxergar nela. Não, as coisas têm que ter rosto, nome e número. Código de barras se possível. Código, conduta, dogma.

Ajoelhei e rezei. Me senti meio estranha, porque era como se eu estivesse lá apoiando o Galeno necessariamente excluísse minha possibilidade de me ajoelhar, esse gesto que eu aprendi a achar tão.. brega?

Pois é, hoje sou assim, rezo em toda igreja que eu entro. Não foi assim em 2000, quando ao visitar o Convento da Penha, em Vila Velha (ES), eu fiquei tããããoo de cara, mas tão de cara com o trabalho escravo que deve ter levantado aquilo que eu mal consegui balbuciar algo com meus interlocutores. A gente mal entrou e as duas meninas com quem eu estava foram logo se ajoelhando. Aquilo me chocou. Aquela pressa delas em se ajoelhar, como se fossem todas umas pecadoras, me assustou.

O que elas tinham era medo, era temor, não era uma coisa boa. Ou ao menos não me pareceu. Não naquele lugar tão opressor. Eu ficava imaginando os escravos subindo aquela colina com as pedras no lombo, que obviamente devia sangrar. Combinando bem com as imagens de Jesus crucificado.

Depois daquilo, mudei bastante minha reação nas igrejas. Fui ficando mais leve e entendendo que nem sempre tenho quue lembrar da parte ruim do catolicismo. Isso foi resultado da minha leitura de outros textos, de outras religiões, principalmente o espiritismo e o budismo.

Fiquei mais tolerante com o catolicismo. E com muitas outras coisas, na verdade. Acho que a gente tem que pegar os pontos bons de cada coisa. Sou uma pessoa ainda muito crítica, e não quero ser ranzinza a vida toda. Quero ser leve sem ser piegas. Equilibrada sem ser chata. Acho que a religião pode ajudar muito nesse processo.

Então, me sinto muito à vontade para rezar, seja numa igreja ou na Festa de Iemanjá. É uma coisa pura, sem pretensões, sem planos. Íntima, mas ao mesmo tempo meio engraçada, pois é feita em público. Não é cotidana para mim. Mas é completamente legítima.

Agora, me vem uma psicopedagoga dizer que ela tem fé de mais?

08/06/2009

ENCONTRANDO

Imagem pega de Lost Horizons, um site bem estranho, mas foi o único lugar onde achei uma imagem que não fosse "arroz de festa" do filme.

Dando continuidade às eletrizantes sessões de cinema, foi a vez de Em Busca da Terra do Nunca. Não, o diretor não é Tim Burton, como a inteligente aqui pensava ao comprar o filme por quinzão nas americanas. Mas zuzo bem, aliás nem tudo que o Tim Burton toca vira ouro.

O filme com Johnny Depp, Kate Winslet, Dustin Hoffman e Julie Cristie conseguiu o que estava parecendo difícil: me prender à tela! Uh, e não precisa ser cabeça para isso! Basta botar um pouco de colorido nas coisas.

Umas crianças, não muita complicação, figurinos de época... O filma não descamba para aquelas coisas fantasiosas que me irritam, tipo Estória sem Fim (nem sei se me irrita, pois nunca ocnsegui ver o fim), e nem é tão melodramádico a ponto de ser óbvio, embora eu deva admitir que ele explora um pouco algumas situações um poucos piegas, sim.

Mas ele apenas sinaliza a questão da imaginação, não fica pregando um mundo cor de rosa, um mundo de mentiras. Ah, e também, em alguma hora a gente tem que ser leve, né? Se não for nessa hora, vendo aquelas árvores maravilhosas, o sol e a alegria das crianças, quando vai ser?

Eu nem acho o Johnny Depp essas coisas. Talvez ele seja tão bom ator que por isso mesmo eu não o note. Agora, a Winslet, essa sim, que olhar sofredor ela tem, hein? Não conseguia esquecer dela em "O Leitor"!

Não tem quem resista àquelas crianças, ah, isso não tem! O que é o Peter Llevelyn Davies, pelamordedeus? Queria crescer logo, pois aquela vida de criança não tava bolinho para ele não!

Enquanto isso, tantos adultescentes por aí... O mistério é poder equilibrar...

06/06/2009

OS FABULOSOS QUEM?

Cartaz encontrado em de This Distractet Globe. Para link dos filmes, eu quase sempre coloco para filmes como referência a Wikipédia, apesar de saber das suas deficiências, porque eu não me adapto ao IMDB, que é chique, coisa e tals, mas eu acho chato.


Nesses findis suuuper agitados, em que tenho promovido sessões de cinema emocionantes para mim mesma, assisti Susie e os Baker Boys, com Michelle Pfeiffer, Jeff Bridges e Beau Bridges.

Devo dizer que a-m-o a Michelle Pfeiffer, o que já é um bom começo para um filme. Não sabia que o Jeff Bridges tinha um irmão, Beau. No filme, os dois são músicos, e Michelle, a cantora que a partir de um dado momento os acompanha.

Gosto dessa coisa da estrada, das turnês, de ver como o filme contou como o cotidiano pode matar o talento das pessoas - ou como elas podem sobreviver a ele.

Há uns anos atrás, talvez o que mais me prendesse na estória fosse o caso amoroso entre Susie Diamond e Jack Baker. Os dois já são bem calejados, e sabem que as coisas geralmente não dão certo.

Mas na verdade, o que me chamou a atenção foi a relação dos dois irmãos. Desde o começo fica nítido que um é o artista, o cool, o bonitão, inclusive. O outro é o mais pentelho, o que aguenta mandos e desmandos dos caras dos bares onde tocam, o cara certinho que tem uma família o esperando todas a noites depois do show.

Os dois irmãos tocam juntos desde a infância, mas aquela rotina de shows aprisiona o Jack, o talentoso, o cool. Eu passei o filme todo achando o Frank chato, só que num diálogo ele fala umas verdades para Jack e ai meu Deus!

Porque na real, Jack, Tatiana e todos os reclamões da vida (se bem que o Jack nem reclama tanto, eu já teria chutado o balde há mais tempo e ido à luta - ainda mais se fosse talentosa e bonitona como o Jack era.. Ih, Tatiana, pare de se projetar!), sim, na real é bem cômodo ficar posando de cool e ficar fora da realidade.

Só que as contas para pagar continuam, as pessoas que dependem da gente continuam, o mundo ao redor continua. Me lembrei muito da minha mãe com o diálogo visto e lembrei até da dita "governabilidade" do governo (eca, eca, eca) Lula.

Achei que no filme eles acharam um bom modo de cortar a interdependência que tinham. É um filme bonito, do tipo dos que gosto.

29/05/2009

DÁ-LHE BAHIIIIIIIA!

Mapa chumbregado de Mapas SOS Mata Atlântica. Vai lá que vc vê direitinho.

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Gregório de Mattos


No último dia 26, a Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o INPE, divulgou o resultado do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica no período 2005-2008. Foram apresentados dados de 10 dos 17 estados onde o bioma ocorre, sendo que nos estados mapeados, todos os municípios foram levantados.

Os resultados? Ah, são resultados das ações realizadas, não poderia ser diferente, né? 103 mil hectares de desmatamento. Não sei qual a minha reação perante isso. Não é de surpresa. Ainda consigo me indignar, sim. Ainda consigo ter uma reação de revolta.

Sim, eu sei, a revolta não é um sentimento salutar, é bem melhor ser uma pessoa tranquila, zen, ter forças positivas para construir um panorama favorável, mas puta que pariu! Só uns bons palavrões mesmo para exprimir o que sinto. É infantilidade? Ah, que bom que me sobram arroubos da juventude! E não sou mais uma funcionariazinha pública acomodada ou me fingindo de engajada mas na verdade altamente comprometida com as negociatas que constróem esse índice inaceitável de desmatamento.

Campeões de um ranking altamente vergonhoso: os estados de Minas Gerais, Santa Catarina e ... tchan tchan tchan tchan... Bahia! Lá vem a Bahia, minha gente! Sorria, vc está na Bahia! Sobre Minas, eu não posso falar nadica, não tenho informação alguma, só que o IEF libera desmatamento de 6.000ha (ooops, isso foi um empreendedor que me disse, e em empreendedor a gente nunca pode confiar, sabe como é!).

Sobre a Santa e Bela Catarina, coitadinha, todo mundo sabe o qual é o babado. As enchentes não aconteceram a toa, e mesmo assim os deputados catarinenses aprovaram um código antiflorestal e claro, inconstitucional.

Agora, e na Baêa? Na triste Bahia, ó quão dessemelhante? Foram perdidos 24.148ha nesse período. Sinceramente, acho que tem alguém brincando. E não sou eu. As pessoas suam, passam anos e anos tentando implementar unidades de conservação de dez, doze mil hectares. E em três anos o Estado perde 24 mil hectares.

Os resultados do Atlas mostram apenas fatos. Mostram a opção de políticas públicas do Estado. Seria um ponto de partida, se a Baêa tivesse interesse ou ferramentas para fazer alguns contrapontos:

- Qual a relação entre área desmatada e área de unidades de conservação estaduais criadas? Ou com a questão fundiária regularizada? (Plano de Manejo criado ou revisados e implementação de conselhos nem sei se conta, porque é manutenção).

- Qual a relação entre autorização de supressão e a área desmatada?

- De que forma a expansão do carvão no sudoeste baiano contribuiu para a presença dos municípios que alcançaram o maior índice de desmatamento no Atlas?

Tipo: dããããr. São perguntas básicas. Respostas que já deveriam estar prontas, a todo momento, num monitoramento que se preze. Monitorar é não deixar a coisa acontecer. Estou falando isso em nível estadual. Não esperar a coisa ficar feia e oh, meu Deus, fomos surpeendidos com uma notícia muito, muito ruim, que ninguém esperava. Não sabemos como aconteceu e agora estamos nos reunindo para fazer um Pacto para a Mata Atlântica.

Nessas horas pareço pessimista. E realmente, não quero ser. Tem que se restaurar, sim! Aliás, existem duas, ou três coisas para ser fazer: conservar o que ainda existe, recompor o que foi detonado e ordenar o uso. Simples, muito simples. Bastavam as pessoas não se renderem à compatibilização de interesses.

Porque na verdade eles não compatibilizam os interesses dos segmentos da sociedade que em tese representam. Eles tentam compatibilizar os interesses dos que podem influenciar de maneiras diferentes na manutenção da estrutura do poder. Na manutenção deles, obviamente. Deles quem? Oras, dos que estão lá, dos primeiro ao enésimo escalão.

Então, ainda acredito, e realmente, me emociono com iniciativas concretas de qualquer natureza para reverter o terrível dano que o ser humano faz a si mesmo, seja sob o ponto de vista ambiental, social, econômico, ético ou quaisquer outros dos inúmeros outros. Sou bastante crédula, sobretudo esperançosa. Mas idiota, não dá para ser.

Acho que precisamos, sim, de um Pacto para a Restauração da Mata Atlântica. A proposta do Pacto é séria, tem nomes respeitáveis. Mas, ao menos no Estado da Bahia, precisamos de mais seriedade. Sabe em qual cerimônia as entidades baianas vão aderir ao Pacto? No Dia da Mata Atlântica - Perspectivas para a Bahia, que acontece hoje, na Casa do Comércio, em Salvador. O cartaz é bem bonito.

Mas a notícia do evento no Portal Seia, desatualizadíssimo, por sinal, tira a vontade de qualquer cristão de comparecer. É tanta autoridade, tanto projeto, tanta coisa que a gente já ouviu, que sinceramente... alguém vai falar sobre as políticas públicas que têm se mostrado completamente ineficiente no sentido da restauração? Concordo que em muitos casos não adianta chorar sobre o leite derramado e a gente tem que partir logo para a ação, mas nesse caso é diferente. A ação não acontece, passam-se anos e anos de gente e organizações pongando nos projetos e falando que vão acontecer.

As autoridades vão, mais uma vez, falar disso, e deixar de lado o escândalo dos números recém publicados do desmatamento? Ou vão falar das graaaandes iniciativas artísticas de restauração que só o Estado da Bahia consegue?

Voltando ao início da minha conversa, aproveitando taaaaanta gente boa reunida, alguém vai estar perplexo com os números da Bahia, o Estado que paga o salário deles (e o meu), e do qual eles são representantes e têm o dever de falar? Não, não, vai estar todo mundo suuuper interessado em fazer lobbys, bons contatos, aparecer bem na fita com os caras do ministério, falar bem sobre os não sei quantos mil hectares que serão restaurados (eu espero, sinceramente que sim, não que eu não espere, mas isso não me faz ir ao evento e ver rostos que eu estou cansada de ver, ouvir palavras que há anos ouço).

Sorry pelo meu densânimo. Notícias cotidianas, como saber que meus chefes não deixaram de cumprimentar só a mim, não ajudam. Hahaha, enquanto era comigo, zuzo bem, porque eu sou "problem" mesmo. Mas os caras não falam com outras pessoas tb. Eu achava que os chefes tinham outras coisas para se preocupar do que com a peãozada.

Com as multas que eles sugerem para a gente suspender, por exemplo. Afinal, eles não gostam quando recebem visitas do assessor do governador. Ficam brabinhos. Acho que eles se esquecem que essas multas que damos têm correlação direta com o índice de desmatamento do Estado.

Ah, coitados, a gente não os entende, né? São tão ocupados!

24/05/2009

CHATÓFORO

Foto de Adoro Cinema

Coitado do Chico Buarque. Fizeram um filme muito ruim do livro dele. Tá certo que eu não li o livro, mas o filme é muito, muito ruim.

Talvez se o livro fosse também ruim, houvesse toda uma aura do Chico me impedindo de ver isso. Mas tem aquela coisa dos livros, de deixar nossa imaginação correr solta pela narrativa. O filme não, dá a cara das coisas, o jeito dos personagens, as cores das cidades.

E é assim que começa Budapeste. Com uma belíssima imagem da cidade, o narrador contando para a gente que, ao contrário do que pensara, Budapeste não é cinza. Nossa, penso eu, vai ser um filme fantástico. Oh, como sou uma pessoa crédula! Cusp, cusp, como fui desgostando do personagem central. Talvez, se eu estivesse lendo-o, ao invés de vendo-o, eu nem desgostasse tanto, mas vê-lo realmente esgotou a minha paciência.

Não posso ter empatia alguma com um tipo fracassado e sem emoção. Talvez no livro esteja presente algum dilema, mas no filme ele simplesmente passava pelos fatos, não me transparecia paixão alguma pelo que fazia, nem tormenta alguma pelas dificuldades. E as pessoas, as mulheres, jovens e bonitas demais para ele, diga-se de passagem, me pareceram peças, coadjuvantes.

Ora, me dirá algum senhor metido a intelectual que se identifique com o personagem, ele teve alguns rompantes exatamente em função das mulheres. Não, ele teve rompantes - indicativos do seu modo totalmente tosco de lidar com suas inabilidades - em função do seu orgulho. Não do outro, mas dele mesmo.

E também, depois de "Clube da Luta" tudo fica brincadeira de criança no campo "o que será que aconteceu?". Enfim, achei tedioso, várias vezes me lembrei tanto do Clube da Luta como do "Livro de Cabeceira". Será que as pessoas ficam chocadas de ver o Chico tratando de temas menos nobres?

Ah, tem a questão da língua, que não me comoveu. Achei que conheci pouco da Hungria, e ficou claro que esse não era o propósito do filme, mas achei interessantes as paisagens, a cena dos músicos, as ruas.

E o contraste com a praia do Rio! Esse deu a sensação que a gente tem quando viaja de um lugar para o outro. Agora, existem coisas que são fracas, muito fracas, como o samba cantado em húngaro. Filmezinho chumbrega! E vem cá, o que é aquele ator de mais de 50 anos de idade pegando a Giovanna Antonelli, a Paola Oliveira e a atriz húngara, que não por acaso é linda?

Porque não botar no elenco mulheres imperfeitas esteticamente como ele? E da faixa etária dele? Ou então, porque não colocar como protagonista um bonitão como as moçoilas? É machismo siiiim! E eu não digo porque eu não goste de mais velhos, todo mundo sabe que são meus preferidos, só acho que as coisas têm que ser igualitárias.

Então, o fracassado é o bambambam! A Giovanna Antonelli está num dos seus primeiros papéis como uma mulher madura. Num dos primeiros que eu vejo, porque graças a Deus eu não acompanho a carreira dela. Agora, a húngara se interessando por ele é realmente demais! Tão óbvio que vai acontecer, e tão inverossímel, ao menos na pele daquele ator inconsistente...

Como eu disse, coitado do Chico Buarque, que aparece no final do filme. Eu acho que ele teve vergonha de aparecer num filme tão ruim. Me deu a impressão que estava com um sorriso meio amarelo.

19/05/2009

BONDADE

Impacto? Que impacto? Foto de Usina Hidrelétrica no município de Valença, Bahia. 2003.


Lula reduz valor pago por impacto ambiental


Decreto do presidente Lula reduziu o valor da compensação ambiental a ser pago por empreendimentos, como a construção de rodovias e hidrelétricas, por seus impactos no meio ambiente. A nova regra prevê um teto para a cobrança - de 0,5% sobre uma parcela do valor da obra. O valor está bem aquém do percentual proposto pelo Ministério do Meio Ambiente. Antes, o piso da compensação era de 0,5% sobre o valor total da obra, e o MMA advogou aumentar para 2%. O teto de 0,5% não se aplica mais sobre o valor total do empreendimento. O cálculo passou a descontar do valor total do empreendimento os custos do licenciamento ambiental e da mitigação de impactos sobre o meio ambiente, assim como os custos financeiros - FSP, 19/5, Brasil, p.A7.

Fonte: ISA


Pronto, gente! Agora sim, todo mundo fica tranquilo porque sobra o troco no caixa para as eleições!

03/05/2009

COM FIM


O vendedor já indo embora do bus

No mesmo ônibus, outro vendedor, vendendo "Hallis" (Halls) em diversos sabores, no prazo de validade, pessoal! Todo mundo aqui chama Halls de Hallis.

Mais um deles.

Esse vendia "picolé de fruta"

Minutos mais tarde: esse era mal educado e não gostou de ser fotografado, acho que queria uma gorjeta.

Tive que aguentá-lo dançar pagode e cantar "rala a **** no asfalto". A classe das pessoas é assombrosa!

Que eu sou uma peoa e ando de buzú não é novidade. A novidade é que eu não vou mais andar em pouco, pouquíssimo tempo. Mas quando eu nem imaginava que isso seria uma realidade tão próxima, um pouco antes de viajar de férias para Curitiba, eu fiz essas fotos, já com a paciência estourando com tantos vendedores que entram pela porta dianteira dos coletivos nesta grande, maravilhosa e organizada cidade da São Salvador.

Aqui, entramos pela porta de trás e os que têm isenção de tarifa pela porta de frente, para ficar apinhando quando a gente quer descer. Por que não dão um cartão de isento para eles passarem na roleta, como em Curitiba? Lá se entra pela frente e os ônibus têm uma porta no meio, assim se o ônibus tá cheio a pessoa não precisa fazer a via sacra até o final dele. Em Salvador, os poucos ônibus que têm a porta do meio não a utilizam.

Mas fora os isentos de passagem, quem entra, e muito, pela porta da frente são os vendedores. A Prefeitura de Salvador resolveu organizá-los, dando-lhes um uniforme. Eu já vi um passar o uniforme para outro, mas na verdade isso não importa, pois entram desuniformizados tb. O fato é que com a "legalização" o número de vendedores nos ônibus, legais ou não, aumentou vertiginosamente.

Existem viagens em que entram mais que quatro vendedores, sem exageros. Quando o ônibus para em frente a lugares de grande movimento, como o Shopping Iguatemi, é uma profusão de vendedores, uma verdadeira batalha! Tem de tudo: água gelada, caneta automática quatro cores e para CDs, cartilhas educativas, quebra-cabeça, kit para costura, balas e guloseimas em geral e mais uma dezena de artigos inusitados.

Peculiar tb é a forma de venda. Existem desde os que dão agonia e vontade de sumir, compartilhando com vc as desgraças pessoais e usando a tática da culpa social para tentar alavancar as vendas, até os bem humorados e os que parecem recém saídos de uma escola de marketing. Existem os que usam as vendas para levar as palavras de Deus, existem os que falam tão baixo e para dentro que terão que penar muito para vender algo. Existem os insistentes, que apesar de ninguém fazer menção de comprar nada, continuam repetindo, repetindo, repetindo.

E o mantra ecoa na cabeça da gente: "boa tarde, pessoal! Desculpe estar incomodando a viagem de vcs, mas estou vendendo _______ (deliciosos, práticos, divertidos) ___________ (amendoins, canetas, passatempos)"... E por aí vai.

Às vezes eu nem escuto, às vezes me dá vontade de falar: "mas de novo? Acabou de sair um vendendo isso agorinha!", às vezes me dá simplesmente vontade de tapar os ouvidos. Numa cidade séria, isso não acontece, os formuladores de políticas públicas pensam em outras formas de dar alternativas para essa gente produzir meios de sobrevivência. Péra, péra. Eu falei séria? Isso existe no Brasil? Estou querendo demais, né? Menos avacalhada, digamos!