23/12/2007

GRANDE SÃO PAULO



Centrão de São Paulo. Nada planejado, liguei a câmera e olhei. Cosmópolis. Pessoas de todas as categorias andando nas ruas. A "verdadeira" SP. Ou uma das mais verdadeiras. Picolés "É do Bahia". Modelos em profusão nas capas de revistas. Cama e mesa ali, na calçada - desta vez travestidos num colchão rasgado e em caixas de verduras podres.

O piso desenhado constantemente entremeando tudo isso. O meu olhar. A minha satisfação por estar lá, novamente, podendo respirar tudo aquilo. Num minuto, tudo voa. Eu bem mais feliz do que acreditava ter sido outrora, andando por aqueles mesmos lugares. Sozinha. Essa experiência pertence somente a mim.

Meu pés, o piso. Guimbas de cigarros, senhoras evangélicas, o ídolo sertanejo. Contrastando, um cabeludo, tranquilo apesar do passo paulistano. Compro Ouro. Durmo no chão, encolhido. Tenho os pés sujos. Moro em São Paulo. Casquinhas por 1 real.

16/12/2007

REVERTÉRIO

Imagem: Prodes/INPE apud Imazon

Afirmação

10.12.2007

Em entrevista hoje à rádio CBN, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco – depois de uma longa explicação das diferenças entre os dados do PRODES e do DETER sobre o desmatamento na Amazônia – disse que a estimativa do PRODES recentemente divulgada, “que fez a avaliação anual do desmatamento até 30 de julho de 2007, confirmando a tendência de redução, de queda, que nós esperávamos que fosse um pouco maior, mas chegou a 20% de redução em relação ao ano passado. Foi um dado novo importantíssimo para confirmar uma estimativa feita anteriormente, em agosto”.

Contradição

10.12.2007

Capobianco disse, também, sobre o DETER, o seguinte: “nos meses de julho, agosto, setembro e outubro, portanto nos últimos quatro meses, houve um aumento em relação aos mesmos meses do ano passado. Então, há uma clara tendência de aumento de desmatamento, porém, o que nós temos é uma tendência. Por que é que é uma tendência? Porque o desmatamento se mede em doze meses, então nós tivemos quatro meses, em que na realidade identificamos aumento do desmatamento, mas há uma ação firme aí do governo, na tentativa de reverter isso”.

Enrolação

10.12.2007

Após dizer que a seca se prolongou e contribuiu para o aumento do desmatamento e que agora entramos no período de chuva, Capobianco falou que “agora nós temos, então, que trabalhar os próximos oito meses para reverter essa tendência”. E concluiu “se nós formos capazes de revertermos isso a partir principalmente de março, que é quando o desmatamento retoma, na Amazônia, nós podemos manter essa tendência de queda. Então, de fato houve, há, uma tendência de aumento, mas, repito, essa tendência, ela só se confirmará, se nós não a revertermos nos próximos oito meses”.

Fonte: O Eco

Concordo. Tem que se trabalhar para se reverter o quadro, sempre. Mas por outro lado, é de enfurecer qualquer cristão (judeu, budista, ateu ou coisa que o valha) que o MMA tenha oito meses para reverter o quadro que se apresentou em quatro. Quais as possibilidades reais disso ocorrer, mesmo que tenhamos pela frente o período de chuvas?

E mais, era para isso estar acontecendo? Quantos anos com essa Equipe no Governo, implantando os Programas que são prioritários para a Amazônia? Ai meu deus do céu, se não conseguem reduzir o desmatamento na Amazônia, quem consegue? Ainda acredito que alguém consiga!

Em compensação, tem gente boa ralando na ponta, basta ver a apresentação da Diretoria de Proteção Ambiental do IBAMA sobre o tema, em 2006. Mas com essa série do políticas divergentes, deve ficar difícil trabalhar por lá, imagino. Além disso, salvo engano, os dados nos quais a própria Dipro se baseia em 2006 são do DETER, é essa mesma fonte que o Capô quer amenizar em 2007...

15/12/2007

QUEM TE VIU...

Foto: Isto É

Quando líder sindical, o presidente Lula adotou a mesma estratégia de dom Luiz Flávio Cappio. Preso em abril de 1980, ao liderar uma greve no ABC paulista, Lula fez jejum de seis dias no Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

Quem convenceu Lula a interrompê-lo foi d. Cláudio Hummes, então bispo de Santo André e hoje "ministro" do papa no Vaticano.

Fonte: Folha on Line

14/12/2007

JEJUM

Esse Jacques Wagner anda muito ousado... Disse que ao fazer greve de greve de fome, o Bispo de Barra, D. Luiz Flávio Cappio, "não está seguindo as regras da democracia". Acredita que o bispo está confundindo “um debate técnico e político, que é a oferta de água para os nordestinos, com o dogma de uma religião”.

Ah, governador, confundindo as coisas está o Senhor, e tentando que levar a opinião pública a enganos, já que estamos fartos dessa conversa que a transposição vai garantir água para os nordestinos. Tá, tá, é radicalismo meu, desculpe. Vai garantir água para os irrigantes nordestinos. Quer dizer, talvez eles sejam nordestinos. Mas os que continuarão sem água para consumo humano certamente são.

Eu tive a honra de em agosto participar, como palestrante, pelo CRA, de um Seminário, na Diocese de Barra, sobre a atividade de carvoejamento na região. Conheci o Bispo pessoalmente e ele foi extremamente feliz em sua afirmação: "é impossível pensar em revitalização sem a extinção da atividade clandestina de carvoejamento".

Ele recebeu o CRA muitíssimo bem, e agora o governador faz essa declaração, pela qual eu, como servidora pública da área ambiental me sinto profundamente envergonhada!

Mas a resposta de D. Cappio fala por si mesma: "Jejuo também por democracia real".

Abaixo, o texto na íntegra:

Acusam-me de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto autoritário e falacioso: o da transposição.

Acusam-me de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do rio São Francisco.
Meu gesto não é imposição voluntarista de um indivíduo. Fosse isso, não teria os apoios numerosos, diversificados e crescentes que tem tido de representantes de amplos setores da sociedade, inclusive do próprio PT.


Vivêssemos uma democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo.
Um dos mais graves males da "democracia" no Brasil é achar que o mandato dado pelas urnas confere um poder ilimitado, aval para um total descompromisso com o discurso de campanha, senha para o vale-tudo, para mais poder e muito mais riquezas. Tráficos de influências, desvios do erário, porcentagens em obras públicas e mensalões são práticas tradicionais na política brasileira, infelizmente, pelo visto, ainda longe de acabar. A sociedade está enojada e precisa se levantar.


Há políticos -e, infelizmente, não são poucos- que, por onde passaram na vida pública, deixaram um rastro de desmandos, corrupção, enriquecimento ilícito etc. Como ainda funcionam o clientelismo eleitoral, a mitificação de personagens, as falsas promessas de campanha, o "toma-lá-dá-cá" e mais deseducação que educação política do povo, esses políticos conseguem se reeleger e galgar posições de alto poder em governos, quaisquer que sejam as siglas e as alianças.


Na campanha do candidato Lula, o tema crucial da transposição era evitado o máximo possível. Mas as campanhas eleitorais, à base do marketing e das verbas de "caixa dois" das empresas, são tidas e havidas como grandes manifestações do vigor de nossa democracia, que, com urnas eletrônicas, dá exemplo até aos EUA...


O projeto de transposição não é democrático, porque não democratiza o acesso à água para as pessoas que passam sede na região semi-árida, distante ou perto do rio São Francisco.
O governo mente quando diz que vai levar água para 12 milhões de sedentos. É um projeto que pretende usar dinheiro público para favorecer empreiteiras, privatizar e concentrar nas mãos dos poucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.
A transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais.


Esses números são dos EIAs-Rima (Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente), públicos por lei, já que, na internet, o governo só colocou peças publicitárias.
O projeto de transposição é ilegal e vem sendo conduzido de forma arbitrária e autoritária: os estudos de impacto são incompletos, o processo de licenciamento ambiental foi viciado, áreas indígenas são afetadas e o Congresso Nacional não foi consultado como prevê a Constituição.
Há 14 ações que comprovam ilegalidades e irregularidades ainda não julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Mas o governo colocou o Exército para as obras iniciais, abusando do papel das Forças Armadas, militarizando a região. A decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, de Brasília, em 10/12 deste ano, obrigando a suspensão das obras, é mais uma evidência disso.
O mais revoltante, porque chega a ser cruel, é que o governo insiste em chantagear a opinião pública, em especial a dos Estados pretensos beneficiários, com promessas de água farta e fácil, escondendo quem são os verdadeiros destinatários, os detalhes do funcionamento, os custos e os mecanismos de cobrança pelos quais os pequenos usos subsidiariam os grandes, como já acontece com a energia elétrica. Os destinos da transposição os EIAs/Rima esclarecem: 70% para irrigação, 26% para uso industrial, 4% para população difusa.


Temos um projeto muito maior. Queremos água para 44 milhões de pessoas no semi-árido. Para nove Estados, não apenas quatro. Para 1.356 municípios, não apenas 397. Tudo pela metade do preço previsto no PAC para a transposição.


O Atlas Nordeste da ANA (Agência Nacional de Águas) e as iniciativas da ASA (Articulação do Semi-Árido) são muito mais abrangentes, têm prioridade no abastecimento humano e utilizam as águas abundantes e suficientes do semi-árido.


Fui chamado de fundamentalista e inimigo da democracia porque provoquei que o povo se levantasse e, disso, os "democratas" que me acusam têm medo. Por que não se assume a verdade sobre o projeto e se discute qual a melhor obra, qual o caminho do verdadeiro desenvolvimento do semi-árido? É nisso que consiste a nossa luta e a verdadeira democracia.


DOM FREI LUIZ FLÁVIO CAPPIO, 61, é bispo diocesano da cidade de Barra (BA) e autor do livro "Rio São Francisco, uma Caminhada entre Vida e Morte".

04/11/2007

LA BALSITA

Indo da Sta Cruz Cabrália para Belmonte. Cara, Belmonte é longe de onde eu estou. 130 km só de ida. E eu chego lá, tem um mooooonte de licenças para olhar, um monte. Não dá para fazer tudo num dia. Volta para Eunápolis. Ai. Vinte dias dormindo no hotel. Volta cinco para casa, mais vinte em campo de novo. Agora, quando durmo na minha cama, até estranho.

UMA BEIRA NO JEQUITINHONHA












Estava eu andando pelo Sul da Bahia, nessa minha jornada de prefeitura em prefeitura para dar uma olhada nas licenças emitidas para os plantios de Eucalipto. Tenho amado fazer esse trabalho, que na verdade é um pouco chato, mas é necessário e importantíssimo.

Então, entro na cidade de Itapebi.

Escolada em interior da Bahia do jeito que sou, já tendo sofrido muito com as mazelas sociais e ambientais de cada lugar visitado, já tendo chorado e me desesperado ao entrar em dezenas de cidades e me deparar inevitavelmente com o mesmo cenário, somente comprovei o habitual. Cidadezinha pequeninha, pobrezinha, feinha. Brinquei com o motorista, de um modo preconceituoso: "que bom que eu moro em Salvador".... Sendo que eu não acho bom, eu acho Salvador um cocô, imagine se eu morasse nessas cidades onde vou a trabalho... Aí a relatividade das coisas começa a te pegar. Mas não pode deixar pegar muito, senão se conforma com uma vida no meio do mato, como a que eu tive durante alguns anos, e quando vi, estava com uma vida que nada tinha a ver comigo.

Bom, mas voltemos a Itapebi. Como toda cidade, eu entro reclamando, mas na conversa com os Secretários de Meio Ambiente, sinto tanta realização... Tanta coisa a fazer, e em vez de pensar, como antes: "que droga, está tudo errado, que se dane tudo", eu penso, e tenho o discurso "vamos fazer juntos, essa é uma etapa do nosso trabalho". Essa é a diferença de ser sacaneada e de ser valorizada no trabalho. Estou sendo valorizada, e tenho que aproveitar, pois não sei o quanto isso dura.

Depois do trabalho feito, o Secretário foi me mostrar uma matinha onde quer fazer uma UC. Linda, mas o mais surpreendente não é isso. Atrás dela, à beira do Jequitinhonha, existe a cidade velha. Velha porque os moradores foram se mudando para o alto, e poucos ficaram na beira do rio. Uma pena! Ruas de paralelepípedo, praça com (dizem) a maior canoa do mundo, casario merecedor de conservação, um lugar onde dá vontade de andar, conversar com os poucos moradores que restaram, saber porque ficaram, como era antes...

Porque as pessoas se vão? Os lugares morrem, outros mais feios surgem, os que eram belos viram decadentes... Aquilo lá tem que ser revitalizado, virar roteiro turístico... Mas fazer o quê, se a galera que vem para a região (leia-se Porto Seguro) quer encher os cornos de cachaça e dançar axé espremido?

Enquanto isso, vou andando.

22/05/2007

PUNGUIS

Reunião (2007)

Res publica. Coisa pública. Dinheiro. Meu, seu. Carros quebrados, mais de 150.000 km rodados. Tem uma intrução normativa que diz que tem que devolver, mas quem segue isso? Quem planeja esse caos, esse mofo, esse paquiderme que virou o Estado?

Quem vai penalizar a antiga diretora, que deu um cargo para uma funcionária fantasma que é também dona de um bar badalado da cidade? Quem vai procurar saber porque havia um pagamento fixo de R$5.000,00/mês para arranjos de ikebana da Igreja Messiânica? Quem vai investigar o uso de vouchers de táxi para volta de festas de casamento? Quem vai prender o ladrão que roubou perto de R$100.000,00 em pequenos gastos? Quem vai demitir o cara que foi indicado por ele da informática? Quem vai botar a mão na consciência e pensar que não precisa gastar R$ 10.000,00 em canecas de alumínio para serem dadas de brinde na Semana de Meio Ambiente?

Ninguém, né? E eu, o que faço, já que não quero ficar (mais) nerbiosa?


08/05/2007

PRENDAS

Então, na volta do almoço de domingo, no qual mais uma vez eu fiquei falando mal do PT para petistas, eu e uma amiga pegamos uma caroninha com um hoje ocupante de um cargo graças à militância política. Na bagunça do carro, cai uma caixa com uns 80 CDs. Gentil, ele ajuda a gente a arrumar, e face às nossas brincadeirinhas, comenta: "são CDs de programas, das minhas consultorias".

Ahhhhh tá. Achei que a gente, como servidor público - coisa que ele era mesmo antes de ocupar o cargo, pois passamos no mesmo concurso - não pudesse (ou ao menos não devesse) fazer esse tipo de coisa. Mas pode ser que eu esteja enganada, às vezes ele dá consultoria em outra área, pode ser um consultor culinário, um enólogo, um perfumista, sei lá.

Confesso que senti um mal estar de estar por cinco minutos naquele carro que eu não sei com qual dinheiro foi comprado.

03/05/2007

JERICO

Mas estou aqui, desestimulada de novo. Não vou ficar gritando aos quatro ventos que o Decreto Estadual 10.193/06 é pífio. Sabe, quem quiser comprar essa idéia que compre. Não são eles os chefes? Não foram eles designados para a gestão ambiental do Estado? Não são eles que estão se matando para ver quem é mais poderoso e quem dá a rasteira em quem antes? Não são eles que têm anos de militância nas costas, isso e aquilo?

Argh. Se matem. Um dia vocês vão responder pelo aumento do índice do desmatamento no Estado. Enqanto isso, aguardo a resposta sobre a BTS. Afinal, ficaram 10 anos aqui e continuam, com o aval dos novos, não é? Então... Façam o que quiserem. O poder é de vcs, e não meu.

TRATOR

O Ministro das Mnas e Energia deu um ultimato ao IBAMA para a licenças das Usinas do Madeira sair até o fim de maio. Marina diz que não há previsão para a análise do processo. Saiu a MP que divide o IBMA e cria cargos, cargos e cargos para o Instituto Chico Mendes, que vai cuidar das UCs. De todas, e não só as Reservas Extrativistas, como o nome poderia levar a crer. Capobianco é o chefe. Langone, pelo jeito, já era. Como os servidores do IBAMA, nem soube que o assunto estava sendo discutido. O delegado que ia presidir o IBAMA não foi. Dilminha, a doce, assinou a demissão do Diretor de Licenciamento.

É. Ainda bem que não estou lá.

09/04/2007

MATA

Forte de Nossa Senhora de Mont Serrat

Começar a viver me dá muito medo, pois viver dói. Só que me falaram que não viver dói mais ainda.

06/04/2007

REVISÃO

Nicotina (2007)

Naquela sexta-feira, ao passar pelo Largo da Dinha não achei tudo aquilo tão patético. Não odiei tanto as pessoas e pensei que sair de noitinha não é tão ruim assim. Cheguei a comprar um maço de cigarros, mas não iria beber.

Sair ainda é difícil, e aguentar o papo dos outros também. As coisas não são mais tão geniais quanto foram, mas também elas podem ser menos dolorosas do que estavam sendo.

03/04/2007

CAIXA

Setenta e dois kilos. Vinte unhas nos meus pés. Quatro gramas de terra nos dedos. Quinze decibéis me importunando.

Trinta e oito anos em tratamento. Dezenove vidas desperdiçadas - quantos pedaços de joelho serão necessários para refazê-las?

22/03/2007

ARCO


Ô Fulano! Sei que há muito tempo vc não fala coisa com coisa, mas chamar os usineiros de heróis já é um pouquinho demais, não? Será que gasto meu tempo com resposta para vc?

21/03/2007

PASSA

Entonces. Ontem eu estava de noite em casa, e quando dei por mim, estava tranquila. Em paz. Realizada com meu dia, que não tinha tido nada de excepcional, mas afinal de contas, tinha sido um dia vivido.

Percebi, então, que muito do que sentia se devia a duas pessoas: meus colegas de sala. Dois Engenheiros Químicos, um com mais de 65 e outro com cerca de 55. Meu assunto com eles se desenrola de maneira natural durante o dia. Mortandade de peixes na BTS, venda da Ipiranga, a Lei que entrou em vigor e não está coberta por Decreto, a aposentadoria, o cara que não assumiu o Ministério da Agricultura...

Não concordo com eles em tudo em se tratando de meio ambiente, eles certamente concordam comigo menos ainda, mas são pessoas boas. E quando eu vejo estou sorrindo, fazendo gracinhas, sendo cordial. Enfim, estou fazendo algo diferente que estar trancada em casa chorando.

E quem participa comigo deste processo não são os grandes amores da minha vida. Não é a minha família, não são os homens a quem amei. Não são os amigos moderninhos, não são as bandas de rock, não é a cultura underground.

Quem está nessa sou eu, e pessoas simples estão me ajudando embora nem desconfiem disso.

07/03/2007

NITRATO

Je vous trouve très beau

Eu adoro filmes lindos. Só os filmes LINDOS conseguem me deixar impactada, pensativa, emocionada, transformada, esperançosa, confiante. Tabém gosto dos filmes que não são tão lindos mas que me deixam mais triste, mais saudosa, com mais pânico frente à existência humana, à existência do planeta, à minha parca existência ou à existência de uma pessoa qualquer, num lugar improvável qualquer, numa situação limítrofe qualquer.

Gosto de filmes sobre GENTE. Curiosamente, de verdade eu não suporto muito bem quase nenhum tipo de gente. Mas no escuro, naquele momento em que você é absorvido durante duas horas por uma imagem que toma todo seu campo de visão e com isso conquista seu pensamento, que começa a passear junto com o filme, gosto de pensar que existe gente no mundo.

28/01/2007

PARA QUEM PRECISA



Redução da participação no Luz para Todos gera economia para o estado

A redução de 20 para 10% da participação do estado no financiamento do Luz para Todos, aprovada pelo Ministério de Minas e Energia, vai gerar uma economia para a Bahia de R$ 52,6 milhões nas obrigações do exercício de 2007 e mais R$ 134,6 milhões até o final do programa.

Segundo o secretário de Infra-estrutura, Antônio Carlos Batista Neves, o dinheiro economizado deve ser aplicado em obras de energia para projetos de irrigação no oeste do estado, contemplando as regiões de Rio do Meio, Itaguari, Formosa do Rio Preto e Pratudão.

Diário Oficial, 25/01/2007


Acho estranha a destinação desse dinheiro, principalmente porque o público alvo do "Luz para Todos" são pequenas comunidades que ainda não tiveram acesso à energia elétrica e com ela podem alcançar, quiçá, um patamar minimamente aceitável de acesso a serviços básicos que devem ser oferecidos pelo Estado. São famílias que têm baixa renda e pequenos índices de desenvolvimento humano (mesmo levando-se e conta que o IDH não é um bom indicador).

O caso é que o público alvo das obras de energia para irrigação no oeste da Bahia é BEM diferente. Comumente com dinheiro subsidiado (leia-se: o meu e o seu dinheiro), os projetos de irrigação são coisa para gente grande, e não para os que ainda não saíram da linha da pobreza.

Agricultura irrigada é coisa para gente valente, que pega água direto do rio (outorga? o que é isso?) para regar suas plantinhas. Não sem antes construir sem pavimentação, cobertura ou ventilação adequadas os galpões para armazenamento de agrotóxicos - que vão de "brinde" na aguinha usada.


Pivô central de irrigação, com captação direta do rio Pratudão 


Tubulação para alimentação dos pivôs


Bomba d´água para captação no canal


Instalação utilizada para ferti-irrigação, próximo ao canal do rio Pratudão.


Se o rio passar muito longe da plantação, não faz mal, o homem pode tudo, até mesmo desviar um rio e fazer um canal com largura muito superior ao leito original. Área de Preservação Permanente? Vegetação nativa? Biota aquática? Detalhes, meu povo, apenas detalhes.


 
Canal desviado do rio Pratudão


E por que não aproveitar o rio desviado para gerar energia para a minha própria fazenda? Tudo é meu - o rio, as terras que eu comprei a preço de banana e ainda não paguei, os empregados que ganham salários miseráveis e que, ao invés de cultivarem seu alimento e poderem gerar renda com o excedente, estão ajudando a plantar soja para os porcos comerem. Não interessa que a soja e monoculturas afins sejam desagregadores sociais e ambientais. O que interessa é a fatia do PIB, e essa tem sido gorda, como a proteína animal que vem sendo exportada.


Então, vêm os gaúchos, vêm os paranaenses conterrâneos de meus ancestrais, vêm os japoneses, vêm todo tipo de gente que não seja baiano - porque aos baianos, restam as migalhas.


Espelho d'água da barragem



Canalização da barragem para a Pequena Central Hidrelétrica


Encontro da PCH com o rio Pratudão


Queimada em área de vereda


 
Queimada em área de campo-cerrado



Fornos de carvão, com capacidade para 12 m3 cada, na Fazenda Humaitá (município de Jaborandi), que arrenda a terra para carvoeiros, tendo assim o solo preparado para plantio.

Captação d’água diretamente do recurso hídrico, na localidade Morais, próximo a uma estrada vicinal, danificando vereda.

Vegetação após a ação do correntão para preparo do solo para soja, entre a margem esquerda do rio Pratudão e direita do rio Arrojadinho

Fazenda Jaó, com 1.200 ha em aração, dotada de grande infraestrutura, com poço, caixa d´água de 50.000 l, galpão para revisão mecânica de tratores e bombas para abastecimento de combustível. Localizada a cerca de 10 km do rio Arrojadinho, tem como curso d´água mais próximo o rio Pratudão. Solo preparado, aguardando plantio e altamente vulnerabilizado pela erosão eólica.


Área gradeada para plantio de feijão, invadindo o fundo da vereda

Área com aplicação de agrotóxicos na Fazenda Porta do Céu, para combate à lagarta da soja; foram avistados 9 filhotes de ema, com sua mãe.

Desmatamento na vereda do Rio Pratudão Faz. Cotovelo

Fotos by me, a Eng. Florestal otária.

18/01/2007

RINDO POR ÚLTIMO

SUPERINTENDÊNCIA DE RECURSOS HÍDRICOS – SRH PORTARIA Nº 053/07-DG

O Diretor Geral da Superintendência de Recursos Hídricos - SRH no uso das suas atribuições,

RESOLVE: Suspender os efeitos das Portarias nº 005/07, 006/07, 007/07 que concedeu as outorgas à Cooperativa dos Criadores de Camarão do Extremo Sul do Estado da Bahia – COOPEX, com base nos art. 2º inciso III da Lei Federal Nº9.433, combinado com art. 3º inciso III da Lei Estadual nº 10.432 de 20.12.2006, por conveniência e oportunidade até ulterior deliberação.

GABINETE DO DIRETOR GERAL, 16 de janeiro de 2007.


Hahahaha! Agora eu quero ver o povo dançar miúdo!

Foto: Peixe-pedra/Parque Nacional Marinho de Abrolhos/IBAMA.

05/01/2007

DÚVIDA

Ontem Lulinha e Jaquinho se reuniram com os diretores da Ford no Brasil e América Latina, que anunciou investimentos de ordem de 2,2 bilhões em suas fábricas brasileiras (que são 3) entre 2007 e 2011.

Ué, mas o Lulinha não era contra a instalação da Ford na Bahia?

SERÁ que agora quando a Ford for licenciar a ampliação da fábrica a portaria será publicada antes da inspeção?

04/01/2007

POR QUEM DOBRAM

Quando deram a multa de 1,2 milhão, para as empresas que comprovadamente lançaram efluentes indevidos no rio dos Sinos, eu pensei: nossa, que pouco, porque se só em uma fazenda de soja eu propus 1,6 mi, por ter desmatado sem autorização, essa multa dos gaúchos tá muito tímida, ainda mais sendo para 6 empresas e para a extensão do dano, que tem dentre outros agravantes o comprometimento da saúde humana.

Agora leio de novo que mais peixes morreram. Ou seja, o dano estimado na época aumentou, como deve aumentar a multa. Mas meu chefe não entenderia, mesmo que eu lesse em voz alta todos os artigos das Leis, Decretos, Resoluções, Portarias. Será que o próximo entenderá?

COM QUE ROUPA?

O cara aí precisa se decidir se gosta ou não gosta dos índios e quilombolas. Uma hora fala que eles são um entrave no crescimento do país. Noutra, promete céus e terras.

SERÁ que ele troca de discurso como quem... Deixa para lá!

03/01/2007

DIFICULIDADE

O Presidente está mesmo determinado a fazer o país crescer. Tenho mais um ano difícil pela frente, a não ser que mude meus padrões éticos e morais. Ou seja: tenho mais um ano difícil pela frente.

Como ele é o chefe de todos, e o chefe da Bahia é muito amigo do chefe de todos, e os chefes do puxadinho onde ganho o pão só serão chefes porque ajudaram o amigo do chefe de todos a ser chefe, a vida fácil da chefia significa vida difícil para mim.

02/01/2007

CURTA


Tem foto do Esquadrão na matéria da Apremavi sobre a Lei da Mata Atlântica. Quem só ouviu falar em meio ambiente quando estava no último semestre da faculdade ou então pouco antes de assumir seu carguinho político, talvez não saiba o que isso quer dizer.