29/05/2009

DÁ-LHE BAHIIIIIIIA!

Mapa chumbregado de Mapas SOS Mata Atlântica. Vai lá que vc vê direitinho.

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Gregório de Mattos


No último dia 26, a Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o INPE, divulgou o resultado do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica no período 2005-2008. Foram apresentados dados de 10 dos 17 estados onde o bioma ocorre, sendo que nos estados mapeados, todos os municípios foram levantados.

Os resultados? Ah, são resultados das ações realizadas, não poderia ser diferente, né? 103 mil hectares de desmatamento. Não sei qual a minha reação perante isso. Não é de surpresa. Ainda consigo me indignar, sim. Ainda consigo ter uma reação de revolta.

Sim, eu sei, a revolta não é um sentimento salutar, é bem melhor ser uma pessoa tranquila, zen, ter forças positivas para construir um panorama favorável, mas puta que pariu! Só uns bons palavrões mesmo para exprimir o que sinto. É infantilidade? Ah, que bom que me sobram arroubos da juventude! E não sou mais uma funcionariazinha pública acomodada ou me fingindo de engajada mas na verdade altamente comprometida com as negociatas que constróem esse índice inaceitável de desmatamento.

Campeões de um ranking altamente vergonhoso: os estados de Minas Gerais, Santa Catarina e ... tchan tchan tchan tchan... Bahia! Lá vem a Bahia, minha gente! Sorria, vc está na Bahia! Sobre Minas, eu não posso falar nadica, não tenho informação alguma, só que o IEF libera desmatamento de 6.000ha (ooops, isso foi um empreendedor que me disse, e em empreendedor a gente nunca pode confiar, sabe como é!).

Sobre a Santa e Bela Catarina, coitadinha, todo mundo sabe o qual é o babado. As enchentes não aconteceram a toa, e mesmo assim os deputados catarinenses aprovaram um código antiflorestal e claro, inconstitucional.

Agora, e na Baêa? Na triste Bahia, ó quão dessemelhante? Foram perdidos 24.148ha nesse período. Sinceramente, acho que tem alguém brincando. E não sou eu. As pessoas suam, passam anos e anos tentando implementar unidades de conservação de dez, doze mil hectares. E em três anos o Estado perde 24 mil hectares.

Os resultados do Atlas mostram apenas fatos. Mostram a opção de políticas públicas do Estado. Seria um ponto de partida, se a Baêa tivesse interesse ou ferramentas para fazer alguns contrapontos:

- Qual a relação entre área desmatada e área de unidades de conservação estaduais criadas? Ou com a questão fundiária regularizada? (Plano de Manejo criado ou revisados e implementação de conselhos nem sei se conta, porque é manutenção).

- Qual a relação entre autorização de supressão e a área desmatada?

- De que forma a expansão do carvão no sudoeste baiano contribuiu para a presença dos municípios que alcançaram o maior índice de desmatamento no Atlas?

Tipo: dããããr. São perguntas básicas. Respostas que já deveriam estar prontas, a todo momento, num monitoramento que se preze. Monitorar é não deixar a coisa acontecer. Estou falando isso em nível estadual. Não esperar a coisa ficar feia e oh, meu Deus, fomos surpeendidos com uma notícia muito, muito ruim, que ninguém esperava. Não sabemos como aconteceu e agora estamos nos reunindo para fazer um Pacto para a Mata Atlântica.

Nessas horas pareço pessimista. E realmente, não quero ser. Tem que se restaurar, sim! Aliás, existem duas, ou três coisas para ser fazer: conservar o que ainda existe, recompor o que foi detonado e ordenar o uso. Simples, muito simples. Bastavam as pessoas não se renderem à compatibilização de interesses.

Porque na verdade eles não compatibilizam os interesses dos segmentos da sociedade que em tese representam. Eles tentam compatibilizar os interesses dos que podem influenciar de maneiras diferentes na manutenção da estrutura do poder. Na manutenção deles, obviamente. Deles quem? Oras, dos que estão lá, dos primeiro ao enésimo escalão.

Então, ainda acredito, e realmente, me emociono com iniciativas concretas de qualquer natureza para reverter o terrível dano que o ser humano faz a si mesmo, seja sob o ponto de vista ambiental, social, econômico, ético ou quaisquer outros dos inúmeros outros. Sou bastante crédula, sobretudo esperançosa. Mas idiota, não dá para ser.

Acho que precisamos, sim, de um Pacto para a Restauração da Mata Atlântica. A proposta do Pacto é séria, tem nomes respeitáveis. Mas, ao menos no Estado da Bahia, precisamos de mais seriedade. Sabe em qual cerimônia as entidades baianas vão aderir ao Pacto? No Dia da Mata Atlântica - Perspectivas para a Bahia, que acontece hoje, na Casa do Comércio, em Salvador. O cartaz é bem bonito.

Mas a notícia do evento no Portal Seia, desatualizadíssimo, por sinal, tira a vontade de qualquer cristão de comparecer. É tanta autoridade, tanto projeto, tanta coisa que a gente já ouviu, que sinceramente... alguém vai falar sobre as políticas públicas que têm se mostrado completamente ineficiente no sentido da restauração? Concordo que em muitos casos não adianta chorar sobre o leite derramado e a gente tem que partir logo para a ação, mas nesse caso é diferente. A ação não acontece, passam-se anos e anos de gente e organizações pongando nos projetos e falando que vão acontecer.

As autoridades vão, mais uma vez, falar disso, e deixar de lado o escândalo dos números recém publicados do desmatamento? Ou vão falar das graaaandes iniciativas artísticas de restauração que só o Estado da Bahia consegue?

Voltando ao início da minha conversa, aproveitando taaaaanta gente boa reunida, alguém vai estar perplexo com os números da Bahia, o Estado que paga o salário deles (e o meu), e do qual eles são representantes e têm o dever de falar? Não, não, vai estar todo mundo suuuper interessado em fazer lobbys, bons contatos, aparecer bem na fita com os caras do ministério, falar bem sobre os não sei quantos mil hectares que serão restaurados (eu espero, sinceramente que sim, não que eu não espere, mas isso não me faz ir ao evento e ver rostos que eu estou cansada de ver, ouvir palavras que há anos ouço).

Sorry pelo meu densânimo. Notícias cotidianas, como saber que meus chefes não deixaram de cumprimentar só a mim, não ajudam. Hahaha, enquanto era comigo, zuzo bem, porque eu sou "problem" mesmo. Mas os caras não falam com outras pessoas tb. Eu achava que os chefes tinham outras coisas para se preocupar do que com a peãozada.

Com as multas que eles sugerem para a gente suspender, por exemplo. Afinal, eles não gostam quando recebem visitas do assessor do governador. Ficam brabinhos. Acho que eles se esquecem que essas multas que damos têm correlação direta com o índice de desmatamento do Estado.

Ah, coitados, a gente não os entende, né? São tão ocupados!

24/05/2009

CHATÓFORO

Foto de Adoro Cinema

Coitado do Chico Buarque. Fizeram um filme muito ruim do livro dele. Tá certo que eu não li o livro, mas o filme é muito, muito ruim.

Talvez se o livro fosse também ruim, houvesse toda uma aura do Chico me impedindo de ver isso. Mas tem aquela coisa dos livros, de deixar nossa imaginação correr solta pela narrativa. O filme não, dá a cara das coisas, o jeito dos personagens, as cores das cidades.

E é assim que começa Budapeste. Com uma belíssima imagem da cidade, o narrador contando para a gente que, ao contrário do que pensara, Budapeste não é cinza. Nossa, penso eu, vai ser um filme fantástico. Oh, como sou uma pessoa crédula! Cusp, cusp, como fui desgostando do personagem central. Talvez, se eu estivesse lendo-o, ao invés de vendo-o, eu nem desgostasse tanto, mas vê-lo realmente esgotou a minha paciência.

Não posso ter empatia alguma com um tipo fracassado e sem emoção. Talvez no livro esteja presente algum dilema, mas no filme ele simplesmente passava pelos fatos, não me transparecia paixão alguma pelo que fazia, nem tormenta alguma pelas dificuldades. E as pessoas, as mulheres, jovens e bonitas demais para ele, diga-se de passagem, me pareceram peças, coadjuvantes.

Ora, me dirá algum senhor metido a intelectual que se identifique com o personagem, ele teve alguns rompantes exatamente em função das mulheres. Não, ele teve rompantes - indicativos do seu modo totalmente tosco de lidar com suas inabilidades - em função do seu orgulho. Não do outro, mas dele mesmo.

E também, depois de "Clube da Luta" tudo fica brincadeira de criança no campo "o que será que aconteceu?". Enfim, achei tedioso, várias vezes me lembrei tanto do Clube da Luta como do "Livro de Cabeceira". Será que as pessoas ficam chocadas de ver o Chico tratando de temas menos nobres?

Ah, tem a questão da língua, que não me comoveu. Achei que conheci pouco da Hungria, e ficou claro que esse não era o propósito do filme, mas achei interessantes as paisagens, a cena dos músicos, as ruas.

E o contraste com a praia do Rio! Esse deu a sensação que a gente tem quando viaja de um lugar para o outro. Agora, existem coisas que são fracas, muito fracas, como o samba cantado em húngaro. Filmezinho chumbrega! E vem cá, o que é aquele ator de mais de 50 anos de idade pegando a Giovanna Antonelli, a Paola Oliveira e a atriz húngara, que não por acaso é linda?

Porque não botar no elenco mulheres imperfeitas esteticamente como ele? E da faixa etária dele? Ou então, porque não colocar como protagonista um bonitão como as moçoilas? É machismo siiiim! E eu não digo porque eu não goste de mais velhos, todo mundo sabe que são meus preferidos, só acho que as coisas têm que ser igualitárias.

Então, o fracassado é o bambambam! A Giovanna Antonelli está num dos seus primeiros papéis como uma mulher madura. Num dos primeiros que eu vejo, porque graças a Deus eu não acompanho a carreira dela. Agora, a húngara se interessando por ele é realmente demais! Tão óbvio que vai acontecer, e tão inverossímel, ao menos na pele daquele ator inconsistente...

Como eu disse, coitado do Chico Buarque, que aparece no final do filme. Eu acho que ele teve vergonha de aparecer num filme tão ruim. Me deu a impressão que estava com um sorriso meio amarelo.

19/05/2009

BONDADE

Impacto? Que impacto? Foto de Usina Hidrelétrica no município de Valença, Bahia. 2003.


Lula reduz valor pago por impacto ambiental


Decreto do presidente Lula reduziu o valor da compensação ambiental a ser pago por empreendimentos, como a construção de rodovias e hidrelétricas, por seus impactos no meio ambiente. A nova regra prevê um teto para a cobrança - de 0,5% sobre uma parcela do valor da obra. O valor está bem aquém do percentual proposto pelo Ministério do Meio Ambiente. Antes, o piso da compensação era de 0,5% sobre o valor total da obra, e o MMA advogou aumentar para 2%. O teto de 0,5% não se aplica mais sobre o valor total do empreendimento. O cálculo passou a descontar do valor total do empreendimento os custos do licenciamento ambiental e da mitigação de impactos sobre o meio ambiente, assim como os custos financeiros - FSP, 19/5, Brasil, p.A7.

Fonte: ISA


Pronto, gente! Agora sim, todo mundo fica tranquilo porque sobra o troco no caixa para as eleições!

03/05/2009

COM FIM


O vendedor já indo embora do bus

No mesmo ônibus, outro vendedor, vendendo "Hallis" (Halls) em diversos sabores, no prazo de validade, pessoal! Todo mundo aqui chama Halls de Hallis.

Mais um deles.

Esse vendia "picolé de fruta"

Minutos mais tarde: esse era mal educado e não gostou de ser fotografado, acho que queria uma gorjeta.

Tive que aguentá-lo dançar pagode e cantar "rala a **** no asfalto". A classe das pessoas é assombrosa!

Que eu sou uma peoa e ando de buzú não é novidade. A novidade é que eu não vou mais andar em pouco, pouquíssimo tempo. Mas quando eu nem imaginava que isso seria uma realidade tão próxima, um pouco antes de viajar de férias para Curitiba, eu fiz essas fotos, já com a paciência estourando com tantos vendedores que entram pela porta dianteira dos coletivos nesta grande, maravilhosa e organizada cidade da São Salvador.

Aqui, entramos pela porta de trás e os que têm isenção de tarifa pela porta de frente, para ficar apinhando quando a gente quer descer. Por que não dão um cartão de isento para eles passarem na roleta, como em Curitiba? Lá se entra pela frente e os ônibus têm uma porta no meio, assim se o ônibus tá cheio a pessoa não precisa fazer a via sacra até o final dele. Em Salvador, os poucos ônibus que têm a porta do meio não a utilizam.

Mas fora os isentos de passagem, quem entra, e muito, pela porta da frente são os vendedores. A Prefeitura de Salvador resolveu organizá-los, dando-lhes um uniforme. Eu já vi um passar o uniforme para outro, mas na verdade isso não importa, pois entram desuniformizados tb. O fato é que com a "legalização" o número de vendedores nos ônibus, legais ou não, aumentou vertiginosamente.

Existem viagens em que entram mais que quatro vendedores, sem exageros. Quando o ônibus para em frente a lugares de grande movimento, como o Shopping Iguatemi, é uma profusão de vendedores, uma verdadeira batalha! Tem de tudo: água gelada, caneta automática quatro cores e para CDs, cartilhas educativas, quebra-cabeça, kit para costura, balas e guloseimas em geral e mais uma dezena de artigos inusitados.

Peculiar tb é a forma de venda. Existem desde os que dão agonia e vontade de sumir, compartilhando com vc as desgraças pessoais e usando a tática da culpa social para tentar alavancar as vendas, até os bem humorados e os que parecem recém saídos de uma escola de marketing. Existem os que usam as vendas para levar as palavras de Deus, existem os que falam tão baixo e para dentro que terão que penar muito para vender algo. Existem os insistentes, que apesar de ninguém fazer menção de comprar nada, continuam repetindo, repetindo, repetindo.

E o mantra ecoa na cabeça da gente: "boa tarde, pessoal! Desculpe estar incomodando a viagem de vcs, mas estou vendendo _______ (deliciosos, práticos, divertidos) ___________ (amendoins, canetas, passatempos)"... E por aí vai.

Às vezes eu nem escuto, às vezes me dá vontade de falar: "mas de novo? Acabou de sair um vendendo isso agorinha!", às vezes me dá simplesmente vontade de tapar os ouvidos. Numa cidade séria, isso não acontece, os formuladores de políticas públicas pensam em outras formas de dar alternativas para essa gente produzir meios de sobrevivência. Péra, péra. Eu falei séria? Isso existe no Brasil? Estou querendo demais, né? Menos avacalhada, digamos!


01/05/2009

PALAVRA CHATA

Nem o Chico, maravilhoso, conseguiu salvar o filme. Foto do site da chatice ambulante

Fui ver Palavra Encantada. Não tinha lido nada sobre o filme nem ouvido falar sobre ele e o convite veio de sopetão, no trabalho. O filme se propõe a abordar a relação entre música e poesia na música brasileira, com depoimentos de Chico Buarque, Maira Bethânia, BNegão, Adriana Calcanhotto, Jorge Mautner, Ferrez, Zé Celso, Paulo César Pinheiro, Luiz Tatit.

O chato é que aí vc tem que aguentar Antônio Cícero, Lenine, Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Martinho da Vila, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Arnaldo Antunes e José Miguel Wisnik, além da péssima luz das entevistas. E ainda por cima uns trechos de clips das artistas, parecendo uma coisa educativa, para burro ver. Tipo olha, estou falando disso aqui, que vc, burro, nunca viu, nem tem discernimento para saber se gosta ou não.

E isso cai como uma luva para a platéia de Salvador. Desculpem, mas ou eu levo muito azar ou é verdade. Seguinte, cinema é um lugar onde a gente entre para ver filme, e não para conversar. Quer conversar, fica vendo novela em casa. A galera a-do-ra ficar comentando qualquer coisinha, deve se achar inteligente por estar entendendo o que o Chico Buarque diz. Ou então o que aquele poço de inteligência, o Lenine, balbucia.

E o coitado do Tom Zé não pode aparecer na tela que começam a gargalhar. Se eu gosto ou não gosto do Tom Zé, é outra história, mas eu acho que antes de tudo, tem que se ouvir o que o cara tá dizendo. E o que ele disse de Caymmi foi bonito, reverencial. Não foi engraçado. Mas as antas riem. Eu tive que fazer força para não sair do cinema, na verdade não saí porque minhas amigas iam achar que eu estava mal humorada. E antes de começar o filme, eu não estava.

E eu nem estava num cinema de shopping. Estava numa sala de circuito de arte, com pessoas que se dizem intelectualizadas. Sinceramente, eu devia ter vindo embora para casa. Amo o Chico, mas ele não me disse nenhuma novidade. Gostei só de ver como era a casa de todo mundo. E ver que um verdinho dá uma paz no ambiente.

Agora, alguém me diz como podem fazer um filme tão ruim apesar de ter tanta gente boa no roteiro?