Claaaaaro que na porta da Igrejinha tinha a turma do contra, as senhouras católicas, fazendo pressão. Senhoras católicas contra a obra do Galeno, porque certamente existem senhoras que são católicas e a favor. Mas essas, educadamente, fazem questão de marcar presença em todos os lugares. Tipo cigano cobrando dívida.
O polêmico painel principal
Painel lateral, com pipas em referência às crianças que avistaram N. Sa. de Fátima
Outro painel lateral
E outro
Na saída, sorvete. Existe coisa mais gostosa para um sábado de tarde?
Placa de autorização da obra em andamento
Painel lateral, com pipas em referência às crianças que avistaram N. Sa. de Fátima
Outro painel lateral
E outro
Na saída, sorvete. Existe coisa mais gostosa para um sábado de tarde?
Placa de autorização da obra em andamento
Na Asa Sul há uma Igreja, conhecida por Igrejinha de Fátima, que é tombada pelo IPHAN e que foi projetada pelo Niemeyer. Originalmente, a casa santa era adornada por obras de Alfredo Volpi, mas aí o padre que era o DONO do pedaço na época, achava que o Volpi era muito modernoso e após raspar e lixar o reboco, mandou um pintor de paredes passar a tinta branca por cima.
Como diz um entrevistado na matéria do Correio Braziliense, a destruição foi muito bem feita. Não dá para restaurar a parada, mano. Com isso e outras demandas, houve um projeto de restauração, a cargo, como não poderia deixar de ser, do IPHAN.
O arquiteto responsável pelo projeto de restauro na Igrejinha de Fátima explica a concepção do projeto, que englobou não só o que hoje causa calor nas senhouras católicas e nos políticos engravatados que estão fazendo pressão nos órgãos que têm função social ao lidarem com essa gente que tb faz parte de sociedade. Só que qualquer pessoa minimamente cidadã sabe que um órgão público tb (e não em segundo lugar) tem função técnica, que não pode se curvar a uma vontadezinha temporal de uma parcela que provisoriamente tem acesso aos meios de poder, que por sua vez escolheu meios questionáveis de manter a "governabilidade".
O projeto restauro da Igrejinha, afinal, não engloba só os painéis que Francisco Galeno foi convidado a conceber e executar, dentro de padrões pré-definidos a partir da obra original de Volpi destruída pelo pároco e senhouras complacentes. Tais critérios eram o uso do azul cobalto como fundo, a figura centralizada de N. Sª. de Fátima e elementos ligados à sua aparição.
Zuzo bem que não houve chiadeira para os outros benefícios do projeto, como recuperação ou restauração do projeto paisagístico de Burle Marx, do acesso à Igreja feito por uma escadaria, do piso externo e interno, dos bancos projetados por Burle M., dos azulejos feitos por Athos Bulcão, pintura, impermebialização da laje, sistema de som e iluminação e outros babados litúrgicos de acordos com as "ABNTs" do Vaticano.
Mas chegou na hora da Santa, nega, a porca torceu o rabo. Ah, porque a Santa não tem rosto, ah, porque é um desrespeito, ah, isso, ah, aquilo. Agora, o Jesus todo ensanguentado que eu tinha que ver quando eu era criança não é desrespeito não, né? Aquela coisa cheia de espinhos na cabeça do cara me causando agonia e me afastando potencialmente da igreja, afastando potencialmente uma futura devota, não é um desrespeito, né?
E todas as matanças, as desigualdades, as injustiças que a Igreja Católica promoveu ao longo dos séculos não são um desrespeito? E o próprio ato de cobrir a imagem da santa com um pano branco é bem respeitosa e retrata a tolerância pregada pelos ensinamentos de qualquer religião (pelo menos as que se prezam), néam?
Sim, mas não é disso que se trata. A obra de Galeno não é um troco, um afronte, um revide aos desvarios tirânicos do catolicismo. É apenas, e grandiosamente, a visão lúdica do artista, que tem influências de Volpi e foi escolhido por isso. E, depois de escolhido, teve a obra discutida com representantes da comunidade, que agora dizem que já viajaram o mundo e nunca viram uma coisa dessas, e que não concordam que as crianças cresçam vendo essa imagem, que não inspira piedade. Então, quer dizer que só é católico se for bem triste e ensanguentado?
Basta de me fazer fugir da sala dos ex-votos! Aquilo lá parece uma casa mal assombrada! Não se pode respeitar outro tipo de manifestação artística para os espaços religiosos que não seja mórbida? Sinceramente, às vezes vc não sabe se está numa igreja ou num trem-fantasma!
Até eu, que não entendo lhufas de História da Arte, sei que a Santa Igreja se revirou o que pode contra o naturalismo das obras de Michelangelo. O nu e a falta de sofrimento no semblante das esculturas e pinturas causou espécie.
Ora, claro que não estou querendo colocar o Francisco Galeno no patamar de um Michelangelo, mas o que quero dizer é que ao contrário do que certos argumentos defendem, as coisas não são estáticas. Se obra de adoração fosse sempre do mesmo jeito, nunca tinha tido anjinho pelado na igreja.
A própria Igreja não é essa coisa caquética que está tendo essa reação agora. Isso me faz envergonhar de ter sido batizada na Igreja Católica. Isso, ao lado do Padre Marcelo Rosa e do seu sucessor botocudo, me faz ver o quanto as pessoas estão realmente distantes dos ensinamentos bíblicos.
Só sei que no primeiro sábado em que cheguei à Brasília fui à manifestação a favor do trabalho de Galeno na Igrejinha. Num sábado de sol, adultos, idosos e crianças se encontraram para apoiar o artista e observar os painéis que foram novamente expostos, em meio a cadeiras e cavaletes. Aproveitaram tb para engrossar o abaixo assinado.
As senhouras, como uma sombra que não desgrudam, estavam lá! Como eu não sabia quem eram, ao entrar na Igrejinha achei simpático estarem todas em círculo. Claro, o espaço é público. Só não achei nada elegante essa afronta.
Entrei na Igrejinha e, como não podia deixar de ser, me ajoelhei e rezei. Eu não estava lá porque era contra a religião, porque para mim aquelas senhouras nem representam a religião. Claro, elas são bem mais católicas que eu, que nem sou, e longe de mim querer competir com elas. Devem saber nome de tudo que é santo, devem ser muito boazinhas e doar agasalhos nas campanhas de fraternidade.
Mas se sentem tão injustiçadas com uma Santa sem rosto que não conseguem se enxergar nela. Não, as coisas têm que ter rosto, nome e número. Código de barras se possível. Código, conduta, dogma.
Ajoelhei e rezei. Me senti meio estranha, porque era como se eu estivesse lá apoiando o Galeno necessariamente excluísse minha possibilidade de me ajoelhar, esse gesto que eu aprendi a achar tão.. brega?
Pois é, hoje sou assim, rezo em toda igreja que eu entro. Não foi assim em 2000, quando ao visitar o Convento da Penha, em Vila Velha (ES), eu fiquei tããããoo de cara, mas tão de cara com o trabalho escravo que deve ter levantado aquilo que eu mal consegui balbuciar algo com meus interlocutores. A gente mal entrou e as duas meninas com quem eu estava foram logo se ajoelhando. Aquilo me chocou. Aquela pressa delas em se ajoelhar, como se fossem todas umas pecadoras, me assustou.
O que elas tinham era medo, era temor, não era uma coisa boa. Ou ao menos não me pareceu. Não naquele lugar tão opressor. Eu ficava imaginando os escravos subindo aquela colina com as pedras no lombo, que obviamente devia sangrar. Combinando bem com as imagens de Jesus crucificado.
Depois daquilo, mudei bastante minha reação nas igrejas. Fui ficando mais leve e entendendo que nem sempre tenho quue lembrar da parte ruim do catolicismo. Isso foi resultado da minha leitura de outros textos, de outras religiões, principalmente o espiritismo e o budismo.
Fiquei mais tolerante com o catolicismo. E com muitas outras coisas, na verdade. Acho que a gente tem que pegar os pontos bons de cada coisa. Sou uma pessoa ainda muito crítica, e não quero ser ranzinza a vida toda. Quero ser leve sem ser piegas. Equilibrada sem ser chata. Acho que a religião pode ajudar muito nesse processo.
Então, me sinto muito à vontade para rezar, seja numa igreja ou na Festa de Iemanjá. É uma coisa pura, sem pretensões, sem planos. Íntima, mas ao mesmo tempo meio engraçada, pois é feita em público. Não é cotidana para mim. Mas é completamente legítima.
Agora, me vem uma psicopedagoga dizer que ela tem fé de mais?
Como diz um entrevistado na matéria do Correio Braziliense, a destruição foi muito bem feita. Não dá para restaurar a parada, mano. Com isso e outras demandas, houve um projeto de restauração, a cargo, como não poderia deixar de ser, do IPHAN.
O arquiteto responsável pelo projeto de restauro na Igrejinha de Fátima explica a concepção do projeto, que englobou não só o que hoje causa calor nas senhouras católicas e nos políticos engravatados que estão fazendo pressão nos órgãos que têm função social ao lidarem com essa gente que tb faz parte de sociedade. Só que qualquer pessoa minimamente cidadã sabe que um órgão público tb (e não em segundo lugar) tem função técnica, que não pode se curvar a uma vontadezinha temporal de uma parcela que provisoriamente tem acesso aos meios de poder, que por sua vez escolheu meios questionáveis de manter a "governabilidade".
O projeto restauro da Igrejinha, afinal, não engloba só os painéis que Francisco Galeno foi convidado a conceber e executar, dentro de padrões pré-definidos a partir da obra original de Volpi destruída pelo pároco e senhouras complacentes. Tais critérios eram o uso do azul cobalto como fundo, a figura centralizada de N. Sª. de Fátima e elementos ligados à sua aparição.
Zuzo bem que não houve chiadeira para os outros benefícios do projeto, como recuperação ou restauração do projeto paisagístico de Burle Marx, do acesso à Igreja feito por uma escadaria, do piso externo e interno, dos bancos projetados por Burle M., dos azulejos feitos por Athos Bulcão, pintura, impermebialização da laje, sistema de som e iluminação e outros babados litúrgicos de acordos com as "ABNTs" do Vaticano.
Mas chegou na hora da Santa, nega, a porca torceu o rabo. Ah, porque a Santa não tem rosto, ah, porque é um desrespeito, ah, isso, ah, aquilo. Agora, o Jesus todo ensanguentado que eu tinha que ver quando eu era criança não é desrespeito não, né? Aquela coisa cheia de espinhos na cabeça do cara me causando agonia e me afastando potencialmente da igreja, afastando potencialmente uma futura devota, não é um desrespeito, né?
E todas as matanças, as desigualdades, as injustiças que a Igreja Católica promoveu ao longo dos séculos não são um desrespeito? E o próprio ato de cobrir a imagem da santa com um pano branco é bem respeitosa e retrata a tolerância pregada pelos ensinamentos de qualquer religião (pelo menos as que se prezam), néam?
Sim, mas não é disso que se trata. A obra de Galeno não é um troco, um afronte, um revide aos desvarios tirânicos do catolicismo. É apenas, e grandiosamente, a visão lúdica do artista, que tem influências de Volpi e foi escolhido por isso. E, depois de escolhido, teve a obra discutida com representantes da comunidade, que agora dizem que já viajaram o mundo e nunca viram uma coisa dessas, e que não concordam que as crianças cresçam vendo essa imagem, que não inspira piedade. Então, quer dizer que só é católico se for bem triste e ensanguentado?
Basta de me fazer fugir da sala dos ex-votos! Aquilo lá parece uma casa mal assombrada! Não se pode respeitar outro tipo de manifestação artística para os espaços religiosos que não seja mórbida? Sinceramente, às vezes vc não sabe se está numa igreja ou num trem-fantasma!
Até eu, que não entendo lhufas de História da Arte, sei que a Santa Igreja se revirou o que pode contra o naturalismo das obras de Michelangelo. O nu e a falta de sofrimento no semblante das esculturas e pinturas causou espécie.
Ora, claro que não estou querendo colocar o Francisco Galeno no patamar de um Michelangelo, mas o que quero dizer é que ao contrário do que certos argumentos defendem, as coisas não são estáticas. Se obra de adoração fosse sempre do mesmo jeito, nunca tinha tido anjinho pelado na igreja.
A própria Igreja não é essa coisa caquética que está tendo essa reação agora. Isso me faz envergonhar de ter sido batizada na Igreja Católica. Isso, ao lado do Padre Marcelo Rosa e do seu sucessor botocudo, me faz ver o quanto as pessoas estão realmente distantes dos ensinamentos bíblicos.
Só sei que no primeiro sábado em que cheguei à Brasília fui à manifestação a favor do trabalho de Galeno na Igrejinha. Num sábado de sol, adultos, idosos e crianças se encontraram para apoiar o artista e observar os painéis que foram novamente expostos, em meio a cadeiras e cavaletes. Aproveitaram tb para engrossar o abaixo assinado.
As senhouras, como uma sombra que não desgrudam, estavam lá! Como eu não sabia quem eram, ao entrar na Igrejinha achei simpático estarem todas em círculo. Claro, o espaço é público. Só não achei nada elegante essa afronta.
Entrei na Igrejinha e, como não podia deixar de ser, me ajoelhei e rezei. Eu não estava lá porque era contra a religião, porque para mim aquelas senhouras nem representam a religião. Claro, elas são bem mais católicas que eu, que nem sou, e longe de mim querer competir com elas. Devem saber nome de tudo que é santo, devem ser muito boazinhas e doar agasalhos nas campanhas de fraternidade.
Mas se sentem tão injustiçadas com uma Santa sem rosto que não conseguem se enxergar nela. Não, as coisas têm que ter rosto, nome e número. Código de barras se possível. Código, conduta, dogma.
Ajoelhei e rezei. Me senti meio estranha, porque era como se eu estivesse lá apoiando o Galeno necessariamente excluísse minha possibilidade de me ajoelhar, esse gesto que eu aprendi a achar tão.. brega?
Pois é, hoje sou assim, rezo em toda igreja que eu entro. Não foi assim em 2000, quando ao visitar o Convento da Penha, em Vila Velha (ES), eu fiquei tããããoo de cara, mas tão de cara com o trabalho escravo que deve ter levantado aquilo que eu mal consegui balbuciar algo com meus interlocutores. A gente mal entrou e as duas meninas com quem eu estava foram logo se ajoelhando. Aquilo me chocou. Aquela pressa delas em se ajoelhar, como se fossem todas umas pecadoras, me assustou.
O que elas tinham era medo, era temor, não era uma coisa boa. Ou ao menos não me pareceu. Não naquele lugar tão opressor. Eu ficava imaginando os escravos subindo aquela colina com as pedras no lombo, que obviamente devia sangrar. Combinando bem com as imagens de Jesus crucificado.
Depois daquilo, mudei bastante minha reação nas igrejas. Fui ficando mais leve e entendendo que nem sempre tenho quue lembrar da parte ruim do catolicismo. Isso foi resultado da minha leitura de outros textos, de outras religiões, principalmente o espiritismo e o budismo.
Fiquei mais tolerante com o catolicismo. E com muitas outras coisas, na verdade. Acho que a gente tem que pegar os pontos bons de cada coisa. Sou uma pessoa ainda muito crítica, e não quero ser ranzinza a vida toda. Quero ser leve sem ser piegas. Equilibrada sem ser chata. Acho que a religião pode ajudar muito nesse processo.
Então, me sinto muito à vontade para rezar, seja numa igreja ou na Festa de Iemanjá. É uma coisa pura, sem pretensões, sem planos. Íntima, mas ao mesmo tempo meio engraçada, pois é feita em público. Não é cotidana para mim. Mas é completamente legítima.
Agora, me vem uma psicopedagoga dizer que ela tem fé de mais?
Você escreve demais! (em grande quantidade)
ResponderExcluirEu lixaria e pintaria por cima de Volpi sem remorsos.
Pergunta: o painel central de quem é?
Não venha me censurar! Já me basta o twitter com 140 caracteres e o padreco raspando o Volpi.
ResponderExcluirOs três painéis são do Francisco Galeno.
Tatiana,
ResponderExcluirSó hoje me deparei com o seu texto sobre o galeno e a igrejinha. Sou Rogério, arquiteto e autor do projeto de restauração. Li e gostei muito de saber o que achou.
Abraço grande!
Oi Rogério!
ResponderExcluirNossa, que surpresa tê-lo aqui, e ainda por cima comentando!
Obrigada por ter lido tudo, hoje após mais de um ano de ter escrito o texto vejo o quanto ele é extenso e truncado... ;)
Que bom que vc conseguiu extrair de todo esse emaranhado coisas que te interessaram.
Um outro abraço, de admiração!