Os anos estavam se passando e os sonhos de Emília Motina estavam ficando tão velhos quanto as estrelas que usava nos cabelos. Aliás, por causa delas e das tintas no rosto, muitos eram os comentários a respeito da sua sanidade mental. Apesar de ser apenas uma escriturária, não agia como uma.
Desde que era subordinada direta do Dr. Buronel, sempre encontrava com outras pessoas com os olhos inchados, que também iam chorar no banheiro da repartição. Teve uma crise nos rins e foi trabalhar nas Voluntárias Sociais, onde fazia crochê com as velhinhas.
Mas o Partido dos Melhores (PM) havia ganhado as eleições e Mimi havia regressado à repartição para resolver o caso das fábricas de biscoito.
Depois que ela e os investigadores andaram em todas as fábricas e comprovaram todos os crimes, Mimi se alegrou por achar que a vida dela faria algum sentido. Imagine que bom, parar de fazer as fábricas que escravizam crianças funcionarem! Isso seria justiça, pensava ela.
Mas H.R, que tinha décadas de prática de campanha no Partido dos Melhores, estava lá para lembrá-la que justiça era outra coisa.
Justiça é uma palavra que se escreve em caixa alta e em negrito. Que se grita. Que tem DONO. E o Dono era H.R.
Mimi não era dona de nada. Nem dos seus sonhos. Só era dona de sua raiva, cada vez maior.
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