Uma das inúmeras lindas e felizes crianças fantasiadas no Bloco (as fotos do celular, que já eram ruins, agora "deram" para sair pequeninhas)
No último dia de Carnaval, fui ao Bagunça meu Coreto, bloco tranquilinho que saiu lá da Praça São Salvador, perto do Largo do Machado. Depois de andar pelo caminho errado, apesar de estar com o mapa na mão (pois eu acho bonito o nome das ruas - rua das Laranjeiras - e cismei que era por lá), encontrei com a Marilene e seus amigos e ficamos lá na concentração esperando os músicos saírem.
Novamente, aquele clima gostoso com a presença bem despretenciosa de pessoas simplesmente a fim de se divertir. As ruas amplamente arborizadas e os prédios antigos, construídos lá pelos anos 40, ajudavam a compor um cenário muitíssimo agradável. Fantasias hilárias, muitas crianças, todo mundo respeitando o espaço comum e o alheio.
Andar acompanhando o Bloco requer que se esteja imbuído do espírito carnavalesco, coisa que definitivamente, não é a minha cara. Gosto de olhar como curiosidade, gosto de ver a alegria das pessoas e como aqui no Rio, ao menos nos Blocos, elas se divertem de maneira infinitamente menos excludente e violenta que em Salvador, por exemplo.
Agora, ficar cantando as músicas sem quase nem ouví-las não é coisa que me anime muito. É diferente de estar, como no "Flor Serena", assistindo ao espetáculo de uma orquestra, e interagindo como platéia. É ouvir um "paticum" lá na frente e ficar andando devagarinho cantando uns pedaços de música que eu, no caso, nem conhecia direito.
Para quem cresceu fazendo isso, espera o ano inteiro para o bloco passar, curte, sei lá, deve ser como ir a um show de rock, deve ser legal. Se bem que nem para show de rock eu tenho paciência, aliás é uma das coisas que tenho menos paciência hoje em dia. Enfim, cada um que vá onde bem lhe convier, mas eu já estava ficando agoniada lá atrás daquele bloco, pensava: "será que não dá para andarem um pouquinho mais rápido?".
Ao mesmo tempo, tinha noção da inconveniência do meu pensamento, era como se fosse um executivo engravatado no meio de uma praia - nada a ver, relaxe, rapaz. O pensamento voava e eu deixava me envolver pela magia das cores, dos sorrisos, da gentileza das pessoas, da capacidade de festejar.
Depois, eu lembrava dos meus tempos de punk (e quem disse que eles passaram?) e que eu achava Carnaval uma alienação, uma perda de tempo, quatro dias para esquecer trezentos e sessenta e um, energia gasta em festa quando podia estar se fazendo uma revolução etc etc etc. Porém, apesar da lembrança, naquela hora, isso tudo estava muito tênue para mim. Não achava verdadeiramente aquelas pessoas alienadas.
Ao contrário do que diziam os meus ex-chefes, até que eu não sou tão radical assim, né? Se fosse, não teria mudado nada nesses 25 anos e estaria lá com a bandeira preta do anarquismo, protestando por estarem em festa enquanto (e apesar do) planeta estar morrendo de fome, sede e de vergonha.
No entanto, que se dance. Que se cante, que se celebre! A comemoração é legítima, assim como o protesto. O que interessa é o modo como se faz.
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