27/02/2008

VOCAÇÃO

Casas de trabalhadores numa fazenda de pecuária no município de de Tabocas do Brejo Velho, Oeste da Bahia. Fotos de 2004.

Perto das casas, estava sendo construído um poço artesiano. No varal, não existem apenas roupas para secar. Existe também a carne.

Sim, a carne que alimenta a tão bem remunerada mão-de-obra que trabalha nas fazendas, muitas vezes instaladas à margem da lei, com descumprimento dos quesitos básicos do Código Florestal (mas não faz mal, porque logo logo o DEM vai mudar isso no Congresso).

E a água santa que brota do subsolo sem controle, sem pedido de outorga de água, mesmo que se esteja na região do São Francisco. Não importa para o fazendeiro, que se benze todo domingo na igreja e paga todas as propinas em dia.


Sempre sobra para o sujeito que cava a terra, e não para o dono dela. sempre sobra para o que usa a camisa rasgada, e não é porque está na moda. Sempre sobra para o que se cala, e não é porque está está sob efeito de remédios. Esse sujeito de camisa verde não tem o sobrenome Piau, pode apostar.



Bem maior

26.02.2008

O desfalque na verba do Ibama de Goiás é bem maior do que se supunha. Em entrevista coletiva realizada na tarde desta segunda-feira, o superintendente Ary Soares do Santos informou que os desvios somam cerca de 1 milhão de reais. O rombo é bem maior do que os 23 mil gastos por uma servidora em serviços estéticos, como inicialmente foi identificado e divulgado pela imprensa.

Suspeitas

26.02.2008

Segundo o Ibama, as irregularidades foram cometidas pela servidora Marina de Fátima Piau Ferreira ao longo dos últimos oito anos. Além dela, outras dez pessoas e uma empresa estariam envolvidas no suposto esquema de desvio de recursos. Um deles seria o próprio filho da servidora, que teria recebido cerca de 55 mil reais por meio das transferências irregulares. Se confirmada a suspeita, Marina pode ser denunciada por peculato e outros crimes.

Fonte: O Eco


Certo. Eu não duvido. MESMO. Notícia da Folha ainda diz que a tal Marina Piau ficou perplexa com a acusação. Deve ter ficado perplexa mesmo, ao perceber que depois de oito anos descobriram o esquema dela. Que peninha! Vai ter que parar com a roubalheira!

Mas o que eu estou seca para saber é o parentesco dessa Marina com a bandida da Édna Piau. A Édna Piau, aquela que vendia ATPF em Barreiras, atrelada à máfia do carvão. Aquela que autorizava desmatamento até em Unidades de Conservação e compensação de Reserva Legal, se duvidasse, até em área urbana, afinal, os sojicultores da região (como o próprio pai) precisavam prosperar.

Será que o que liga essas duas é apenas o sobrenome e o tino para falcatruas?

17/02/2008

INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS

A VOZ DO DONO


Emília Motina, a escriturária. 

Os anos estavam se passando e os sonhos de Emília Motina estavam ficando tão velhos quanto as estrelas que usava nos cabelos. Aliás, por causa delas e das tintas no rosto, muitos eram os comentários a respeito da sua sanidade mental. Apesar de ser apenas uma escriturária, não agia como uma.

Desde que era subordinada direta do Dr. Buronel, sempre encontrava com outras pessoas com os olhos inchados, que também iam chorar no banheiro da repartição. Teve uma crise nos rins e foi trabalhar nas Voluntárias Sociais, onde fazia crochê com as velhinhas.

Mas o Partido dos Melhores (PM) havia ganhado as eleições e Mimi havia regressado à repartição para resolver o caso das fábricas de biscoito.

Depois que ela e os investigadores andaram em todas as fábricas e comprovaram todos os crimes, Mimi se alegrou por achar que a vida dela faria algum sentido. Imagine que bom, parar de fazer as fábricas que escravizam crianças funcionarem! Isso seria justiça, pensava ela.

Mas H.R, que tinha décadas de prática de campanha no Partido dos Melhores, estava lá para lembrá-la que justiça era outra coisa.

Justiça é uma palavra que se escreve em caixa alta e em negrito. Que se grita. Que tem DONO. E o Dono era H.R.

Mimi não era dona de nada. Nem dos seus sonhos. Só era dona de sua raiva, cada vez maior.

16/02/2008

A REPARTIÇÃO

HR, o chefe

A voz vigorosa de Hadônio Rocha contrastava com seu aspecto franzino. Entrou decidido na reunião da repartição. Iria fazer justiça. Não iria deixar que as fábricas de biscoito de polvilho trabalhassem só por meio turno. Todas estavam usando mão-de-obra infantil e haviam sido parcialmente interditadas, mas as pessoas têm que trabalhar!

Dr Buronel mesmo já tratou de dar um jeito nisso. Emitiu um documento obrigando aquela fábrica do cunhado da prima a comprar um caderno novo para cada criança que foi mandada de volta para casa. Tirou do trabalho e ainda por cima deu condições de estudo. Foi recebido com homenagens na quadra de esportes, fizeram até um churrasco para ele. E o melhor: o pessoal do bairro não teve que gastar nada, a Biscoitos Lobo pagou tudo. Está todo mundo satisfeito e a empresa já voltou a funcionar. Estão trabalhando em três turnos agora. Tava "assim" de gente na fila para as vagas.

"Eu não posso ser injusto com as outras firmas", disse HR. 

Na reunião falou, com sua voz grave, em tom alto: "é errado uma poder e as outras não poderem. Temos que ser JUSTOS com todas". O erro já foi remediado. Você quer que a nossa repartição seja conhecida por impedir as pessoas de trabalhar?

15/02/2008

DORMINDO NO PONTO

Foto: passarela de pedestres do Shopping Barra, jan 2007


Mulher é atingida por pedra durante assalto

Moradores de Salvador estão assustados com um crime que vem se tornando cada vez mais comum: o assalto nas sinaleiras. Os criminosos agem principalmente em bairros nobres e de classe média e muitas vezes são violentos. Mariana Pimentel foi assaltada quando voltava do trabalho, por volta das 18h30.

Ela conta que vinha pela avenida Antônio Carlos Magalhães e em frente ao Parque da Cidade, uma área nobre de Salvador, foi abordada por um homem que quebrou a janela do carro com uma pedra. 'A pedra veio direto no meu rosto. Tive o lábio fraturado e perdi parte do dente da frente', declara a psicóloga Mariana Pimentel.

De acordo com a Polícia Militar, os casos acontecem, em geral, nos horários de pico, quando o tráfego está congestionado. 'Na ausência do policial, quando ele normalmente atende uma ocorrência, os criminosos atuam, principalmente quando o trânsito pára', conta o comandante de policiamento, major José Izidro.

Na delegacia da Pituba foram registrados, em 2006, 85 casos na região do Parque da Cidade. No ano passado, foram 97. Em janeiro deste ano, já foram registrados oito assaltos na mesma área. De acordo com o delegado da Pituba, Roberto Souza, 99% das vítimas dos assaltos em sinaleiras são mulheres.

Fonte: BA TV , 15/02/2008

No site só não passa a BRILHANTE declaração do PM comandante sei lá do quê, que, ao ser perguntado pela repórter se a câmera de segurança não estava funcionando, disse: Não, ela está funcionando sim, só que foi retirada do local por causa do Carnaval.

Mas que beleza, minha gente! O bandido não precisa nem fazer seuplano escondido; a própria polícia avisa na televisão o jeito mais fácil de roubar: nos lugares onde não tem câmera!!! Afinal, Salvador precisa manter a imagem de capital internacional da folia, receber gringos e paulistas brancos para desfilarem nos trios de lixo-music e excluir a maior população negra fora da África (que não coincidentemente, também é pobre) da festa.

Não faz mal que depois de mil anos fazendo a fama, esse aglomerado de gente que insistem em chamar de cidade não tenha estrutura sequer para as câmaras de vigilância da tal da "maior festa popular do mundo". Cara, como alguém vai fazer a "maior festa popular do mundo" se tem que tirar câmera de um bairro para colocar em outro?

E não estamos falando do subúrbio. Porque esse, se não tem nem esgoto, o que dirá câmera de segurança. Estamos falando de uma área mais requintada da cidade, mas nem por isso menos importante, já que lá tem um intenso tráfego e como a matéria mesmo diz, são quase 100 assaltos por ano. Isso num sinal só. Em cima de quem? Da mulherada que tá voltando do trabalho. Conheço uma delas, que levou uma pedrada na mão e teve que fazer cirurugia, ficou em pânico após o incidente, teve que mudar o percurso etc.

Mas os chefes preferem tirar as câmeras. Detalhe que eu achava que o Carnaval já tinha acabado, então mesmo que a câmeras não devessem nunca ter saído de lá, elas já deveriam ter voltado. E vem Jacquinho hoje na reabertura dos trabalhos da Assembléia Legislativa falar que Segurança Pública não é varinha de condão. Competência também não é. Ou se tem, ou não. No caso, já deu para ver que não se tem. Agora, camarote e desfile na Avenida e tem, né?

12/02/2008

NEGÓCIOS

Não gosto mais de falar o nome dele. Cheio de fogos e sombras. Pensar que há dez, doze anos atrás, ele me entrevistou para um emprego e eu torcia para que desse certo... Ecaaaaaaaaa!

O governo prepara mudanças nas regras para quem derrubou ilegalmente

a Amazônia. Pacote em estudo nos Ministérios da Agricultura e do Meio
Ambiente prevê uma espécie de anistia para desmatadores, que poderão manter
devastada metade de suas fazendas, voltar à legalidade e ter direito ao
crédito agrícola oficial - desde que aceitem recuperar a floresta na outra
metade das terras. Com isso, serão regularizados 220 mil km2 de Amazônia
desmatados ilegalmente. Para quem não derrubou a mata, continua a valer a
obrigatoriedade de preservar 80% da propriedade. "A área já está desmatada.
Permitir que a recuperação nas áreas de uso intensivo seja de 50% é uma forma
de diminuir a pressão por novos desmatamentos", disse o
secretário-executivo do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco -

OESP, 10/2, Vida, p.A20.
Fonte: ISA

É a mesma coisa de sempre. Começa devagar. Uma CPMF aqui, uma CPI precisando dos votos aliados acolá... Uma Dilminha mão-de-ferro, um PMDB que chega com uma lista de cargos, um tetradáctilo que nunca sabe de nada e se reelege com o bolsa-esmola... Enfim, assim vão se forjando os ingredientes perfeitos para, com a permissão da palavra, a FODELANÇA total em cima de quem, meus amigos, quem, quem? Do meio ambiente, claro!!!

E quem mais poderia pagar o pato, a galinha, o marreco, paca, tatu (cotia não) disso tudo? Quem mais poderia, além de todos os que já fazem filas e morrem nos corredores dos hospitais, nos morros, no sertão, nas enchentes, ou os mortos viventes - os que se espremem nas filas, nos ônibus, sob chuva, sob sol, longe dos carpetes e do ar condicionado?

Claro, o meio ambiente, essa iminência parda para quem sobra a conta suja, para onde vai a gorjeta, a caixinha das negociatas do Congresso, Senado, Câmaras e que o Executivo, submissa e vergonhosamente, executa.

Dona Marina, Seu Capobianco... Belo passado remoto, amargo passado recente. Vergonhoso presente. Futuro? Qual?

06/02/2008

GARAPA

Joy Division/New Order: nada é mera coincidência, de Helena Uehara.
Já tinha lido a opinião da Katy sobre o livro e nem fiquei com vontade de ler, mas ao vê-lo por R$ 5,00 (o preço oficial é R$ 19,90), não resisti e acabei comprando. Só que eu tenho 39 anos, man, trinta e nove. São 25 anos de rock. "O que é punk", de Antonio Bivar, da famigerada Coleção Primeiros Passos (Ed. Brasiliense), eu li quando tinha uns dezesseis, e mesmo assim mais por aptidão, amor à leitura e informação do que necessariamente por não saber do que se tratava o assunto.

É claro que leitura é sempre leitura, sempre há um detalhe aqui, uma frase acolá. Mas confesso, não tive a mínima paciência para o verdinho aí de cima. O livro fica expicando quem é Andy Warholl ("famoso artista plástico dos Estados Unidos que pertencia ao movimento Pop Art"), cita trecho de uma crítica de Lester Bangs, da Rolling Stone, para definir Iggy Pop ("que tipo de pessoa busca, em sua terceira e mais crucial tentaiva, se dar bem no grande circo do rock'n'roll com um álbum intitulado 'The Idiot'?"), e ainda por cima depois da tradução de Love Will Tears Us Apart, a autora nos brinda com a pérola:

Quando se está apaixonado, a tendência natural é querer estar junto à pessoa amada. No entanto, o amor é aquilo que os separa. De novo e de novo. Quando existe o ideal da vida em comum, caminha-se lado a lado na mesma direção. Mas o que resta são estradas diferentes. Quando se ama, as dificuldades podem ser superadas uma a uma. No entando, só há solidão há dois. O que fica é o conformismo, a incomunicabilidade, o ressentimento. Um paradoxo de emoções.

Eu não preciso que ninguém venha tentar me explicar as letras do Joy Division nem de banda nenhuma, que coisa! É simplesmente para ouvir, para sentir, para calar, para chorar, parar rir, para fazer o que quiser, mas não para escrever um texto que parece mais um livro de auto-ajuda! O que que é isso?

Mas ela não pára, continua interpretando as letras de "Insight", "Interzone", "Atmosphere", "Passover" e "She's Lost Control". A essas alturas, eu já tinha parado de ler o livro faz tempo.

CELEBRATION

Uma das inúmeras lindas e felizes crianças fantasiadas no Bloco (as fotos do celular, que já eram ruins, agora "deram" para sair pequeninhas)
No último dia de Carnaval, fui ao Bagunça meu Coreto, bloco tranquilinho que saiu lá da Praça São Salvador, perto do Largo do Machado. Depois de andar pelo caminho errado, apesar de estar com o mapa na mão (pois eu acho bonito o nome das ruas - rua das Laranjeiras - e cismei que era por lá), encontrei com a Marilene e seus amigos e ficamos lá na concentração esperando os músicos saírem.

Novamente, aquele clima gostoso com a presença bem despretenciosa de pessoas simplesmente a fim de se divertir. As ruas amplamente arborizadas e os prédios antigos, construídos lá pelos anos 40, ajudavam a compor um cenário muitíssimo agradável. Fantasias hilárias, muitas crianças, todo mundo respeitando o espaço comum e o alheio.

Andar acompanhando o Bloco requer que se esteja imbuído do espírito carnavalesco, coisa que definitivamente, não é a minha cara. Gosto de olhar como curiosidade, gosto de ver a alegria das pessoas e como aqui no Rio, ao menos nos Blocos, elas se divertem de maneira infinitamente menos excludente e violenta que em Salvador, por exemplo.

Agora, ficar cantando as músicas sem quase nem ouví-las não é coisa que me anime muito. É diferente de estar, como no "Flor Serena", assistindo ao espetáculo de uma orquestra, e interagindo como platéia. É ouvir um "paticum" lá na frente e ficar andando devagarinho cantando uns pedaços de música que eu, no caso, nem conhecia direito.

Para quem cresceu fazendo isso, espera o ano inteiro para o bloco passar, curte, sei lá, deve ser como ir a um show de rock, deve ser legal. Se bem que nem para show de rock eu tenho paciência, aliás é uma das coisas que tenho menos paciência hoje em dia. Enfim, cada um que vá onde bem lhe convier, mas eu já estava ficando agoniada lá atrás daquele bloco, pensava: "será que não dá para andarem um pouquinho mais rápido?".

Ao mesmo tempo, tinha noção da inconveniência do meu pensamento, era como se fosse um executivo engravatado no meio de uma praia - nada a ver, relaxe, rapaz. O pensamento voava e eu deixava me envolver pela magia das cores, dos sorrisos, da gentileza das pessoas, da capacidade de festejar.

Depois, eu lembrava dos meus tempos de punk (e quem disse que eles passaram?) e que eu achava Carnaval uma alienação, uma perda de tempo, quatro dias para esquecer trezentos e sessenta e um, energia gasta em festa quando podia estar se fazendo uma revolução etc etc etc. Porém, apesar da lembrança, naquela hora, isso tudo estava muito tênue para mim. Não achava verdadeiramente aquelas pessoas alienadas.

Ao contrário do que diziam os meus ex-chefes, até que eu não sou tão radical assim, né? Se fosse, não teria mudado nada nesses 25 anos e estaria lá com a bandeira preta do anarquismo, protestando por estarem em festa enquanto (e apesar do) planeta estar morrendo de fome, sede e de vergonha.

No entanto, que se dance. Que se cante, que se celebre! A comemoração é legítima, assim como o protesto. O que interessa é o modo como se faz.

05/02/2008

A FLOR DO SERENO


Foto: Silvana Marques, fotógrafa oficial do Rancho

Ontem, sem dúvida minha melhor programação do Carnaval: fui ver o Rancho Flor do Sereno. Como diria um carioca da gema, que categoria! Rapaz, é de deixar o sujeito boquiaberto com tanta coisa boa acontecendo ali, assim, na sua frente, na rua, espontaneamente, com público, empolgação, integração e o que parece ser mais raro hoje em dia, mas aqui no Rio parece não ser artigo tão de luxo: boa música.
São 20 músicos de primeira (músico mesmo, que lê partitura e tudo mais, uns professores de Universidade, outros estudiosos, sem aquela pecha de intelectual, mas gente de gabarito, não essas porras que não sabem nem falar o português, não têm ouvido para porra nenhuma, acham que o negócio é subir no trio e cantar Vixe Mainha).
Como todo músico tem o público que merece (ou seria o contrário?), a platéia estava repleta de gente feliz, bonita, jovens, velhos, fantasiados, à paisana, mas todo mundo de bem. Impressionante como a juventude gosta, entende, conhece e vibra ao ouvir não só as marchinhas mais manjadas, mas todo o repertório do Rancho, que passa por Noel Rosa, Pixinguinha, polcas, sambas e maxixes.
Isso é cultura, é gente que lê, que tem educação, senso, discernimento, que não confunde diversão com baixaria, que preza a diversidade, a inclusão. O oposto do perfil do carnaval em Salvador, por exemplo. O oposto da vulgaridade.
Sim, é claro que aí eu só posso gostar. Meio perplexa ainda, primeiro por eu estar no meio daquilo tudo. Não sou a foliã mais animada do mundo. Aliás, nem me consideraria uma foliã, e sim uma observadora. Quase uma participante.
Muitas músicas boas, muitas. Isso me rendeu a festa. Além de algumas elocubrações ao ver os casais apaixonados. "Será que ainda vou me apaixonar por alguém dessa maneira?". Ver esse Carnaval no Rio é como ver um pedacinho da vida novamente. De uma vida que não é a Bahia, que não é o meu trabalho, que não é a minha família. Tipo: há vida inteligente lá fora, Tatiana.
Ao mesmo tempo, é me deparar com isso - comigo mesma - em alguns momentos. Observar o lá fora remete-me a mim mesma. Tudo bem, não quero fugir disto. Em suma, sei que essa fase que estou atravessando é uma das que estou (som na caixa!) "sensível demais"...
A orquestra em ação




Estar na rua, ver as cores, ouvir os sons, sentir os sabores e metabolizar tudo isso por aqui tem valido muito a pena.

03/02/2008

SABADÃO

Saara

Sábado de manhã fui no Saara porque eu queria porque queria comprar um turbante de baiana. Tudo é uma nova sensação, desde os camelôs que vendem vestidos falsificados da Farm até entrar na abarrotadíssima Casa Turuna, onde o tal do chapéu de Carmem Miranda (não era bem isso que eu queria, mas podia até ser) custava a partir de R$110,00. Mas tinham outras coisas baratas, o que é melhor: um monte de cartolas inacabadas, para customizar. Aliás, como existem chapéus à venda no Rio! Que maravilha! Em Salvador, só se acham bonés ou chapéu de praia. Aqui não, é uma variedade imensa, para minha alegria.

Depois da maior bateção de perna volto à Copacabana para complementar as compras. Enfim, o turbante sai por R$ 4,00 (dois metros e meio de morim). 
Ai!
Finalmente, volto para casa para deixar as compras, tomar um banho e fazar a produ de baiana. O vestido, o turbante, a maquiagem. Já são cinco e meia da tarde. Os blocos já saíram, e eu preciso escolher se eu vou n' Os Barbas ou na Banda de Ipanema. E eu andei o dia todo. Ai que preguiça. Hum, Carnaval são vários dias, né? Por que fazer hoje o que eu posso deixar para amanhã?

E assim fiquei bem feliz da vida descansando.

02/02/2008

O FEITIÇO DA VILA

Para não dizerem que só fico na Zona Sul, ontem fui com minha grande amiga Marila para o bloco Eu sou Eu, Jacaré é Bicho d'água, em Vila Isabel. Foi muito bom, porque ficamos sentadas, podendo conversar e ouvindo marchinhas e sambas antigos num clima onde cada um curtia a sua, todo mundo se misturava com respeito ao espaço do outro.

Confete, serpentina, velho, moço, criança, um monte de gente fantasiada, cantando, dançando, pulando, bebendo - não é coisa de santo, mas é calmo, ou seja, quem quer curtir, curte, quem quer ficar na sua, fica. O massa é que as pessoas se fantasiam. Não tem os abadás de Salvador, ou seja, todo mundo uniformizado, igualzinho, massificado. É coisa espontânea, de rua, que vem ressurgindo no Rio nos últimos anos. Carnavalzinho assim eu até encaro.

01/02/2008

DE JANEIRO

Mural na Estação de Metrô Siqueira Campos, em Copacabana. Foto escura, de celular. Inscrições: letra de "Tem mais samba", de Chico Buarque (1964) - Para o musical Balanço de Orfeu, de Luiz Vergueiro:
Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida
Tem mais samba no porto que na vela
Tem mais samba o perdão que a despedida
Tem mais samba nas mãos do que nos olhos
Tem mais samba no chão do que na lua
Tem mais samba no homem que trabalha
Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer

Vem que passa
Teu sofrer
Se todo mundo sambasse
Seria tão fácil viver

Divisa de Ipanema e Leblon - Av. Borges de Medeiros. Ao fundo, os Morros Dois Irmãos.


O cúmulo do charme, na Visconde de Pirajá os canteiros das árvores não são forrados de pedrinhas - e sim de... conchinhas!!!

Isso que é cidade! Salvador fica tão.. tão... tão o que é, perto do Rio... um arremedo de cidade, uma tentativa de cosmópolis... E assim passei a manhã, meio revoltadinha ainda, tentando digerir tantas diferenças, tantas dificuldades pelas quais têm-se que passar naquele esboço de urbis chamado Soterópolis. Que pólis que nada.
No Rio "tu" acha tudo bem à mão. Tudo bem sortido, colorido e barato. Barato pela qualidade, pela diversidade, pelo estilo, pela amplitude de escolha, pela distribuição da oferta, pela competitividade do mercado.
As pessoas andam nos bairros, e estes são providos de comércio. Não é aquela coisa idiota de depender de carro, carro, carro, de precisar fazer tudo de carro. Então, a cidade tem vida. E é bonita. Não tem só gente feia e pobre nas ruas, tem gente interessante, as pessoas se misturam muito mais.
Está certo que estou na Zona Sul, mas se eu fosse no equivalente à Zona Sul de Salvador, só quem eu veria andando na rua seriam as empregadas domésticas, porque os bacanas só andam de carro, não andam nas ruas.
Aqui se vê todo o tipo de comércio na rua, à toda hora. Das deliciosas lojas de roupa que fui correndo ver lá em Ipanema até as quitandas cheias de frutas penduradas, botequins que fazem boas refeições por 5 pilas, floriculturas, chaveiros, lojas de ferragens, enfim, tudo misturado.
Existem muitas galerias com lojinhas interessantes, sebos, antiquários, coisas para a casa... Elas têm mais ou menos a cara do Copan, mas é como se fosse um Copan colorido, numa terra de calor, com pessoas mais desinibidas e mais tranquilas.
Certamente se eu tivesse sempre morado no Sul e tivesse caído direto aqui no Rio, iria estranhar muito. Mas depois desses anos de Brasília e Bahia, minha relação com o clima e com a cores mudou completamente, então me sinto totalmente à vontade com o "modo carioca de ser", o tipo que vejo na rua é um tipo com o qual me identifico, ao contrário do baiano. O paulista tenho achado tenso demais, São Paulo aquela coisa rock demais.
Gosto dessa coisa sol-vestido-colorido do Rio. Enquanto estou passeando sozinha, gosto. Vamos ver se a paz resiste ao Carnaval.