27/04/2008

CRUZADO




Esses dias, lá em Teixeira, andei lendo "Memória de minhas putas tristes", do Gabriel García Márquez. Sou uma nulidade em termos literários, mas mesmo assim, durante a leitura tinha a sensação de estar bastante decepcionada com o livro.

Não foi aquele bombardeio mental que senti quando li "Cem anos de solidão", em que eu ficava indo e voltando nas páginas, para não me perder no emaranhado da genealogia toda. Naquele, pensei: tinha que ter começado a ler esse livro com um bloco de anotações, porra! Mas já era metade, e eu não conseguia me desvencilhar da voracidade de ir em frente.

"Memória" não... Não sei se alguém se chocou com o tema, mas para mim, ela parece brincadeira de criança. Não por isso, menos importante. Quando li, eu estava mais ranzinza tanto para assuntos sexuais quanto para do amor - se é que esse joça existe, mas me pareceu tão patético o cara se apaixonar por uma idealização, por uma guria de quem não sabia nadica de nada - e nem queria saber - e a quem deu um apelido só deles...

Para mim, as coisas não podem vir descompanhadas da realidade. Maaaaas, como parece que o Gabriel García Marques deve ser "levemente" mais inteligente que eu, eis que me deparo com a seguinte passagem:

Descobri que tinha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo; não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema em simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.

Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como uma reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio.

Toma, Tatiana, um soco na boca do estômago para vc aprender!

5 comentários:

  1. fudido, esse dias eu pensei, sem saber da existência dessa reflexão, que faço tudo certo e não deixo nada pendente ou errado não por ser eficiente e sim por detestar receber broncas e não saber lidar com isso depois.

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  2. hahaha, viu como a gente é reles, Titão?

    te amo!

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  3. É covardia comparar qualquer coisa com Cem Anos de Solidão!

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  4. haha Tati! eu parei, peguei o bloquinho e recomecei, senão não ia dar!

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  5. Hahaha, é um tal de Aurélio para cá, Aurélio para lá... Mas é fenomenal, né? Vc tem razão, o cara já escreveu aquilo, e eu ainda quero mais....

    Bjo

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