06/02/2011

EM PÉ



Ver um filme de Alejandro González Iñárritu não é fácil. Não porque sejam filmes cabeção, em que a gente fica meio perdido.

Não.

O diretor mexicano deixa tudo muito, mas muito claro. De uma forma que, ao menos para mim, é quase insuportável.

Me lembro de ter passado mal, fisicamente, quando vi Amorres Perros (Amores Brutos), em 2001, sozinha na extinta Sala de Arte do Clube Baiano de Tênis. Senti náuseas logo numa das primeiras cenas, mas a intensidade do que eu via me apontava que eu deveria ir em frente.

Hoje, com Biutiful, não foi diferente.

As cores carregadas me agrediam, numa provocação. Pareciam dizer:

- Não está se sentindo bem, né? Mas é assim que é o filme, e vc sabe que ele é bom!

Ao invés do sangue, que me marcou em Amores Perros, agora a sujeira me agoniava.

Sujeira encardida, mofo, umidade. Dá vontade de passar um paninho com alvejante em tudo.

Mas não vai limpar. A vida dos personagens é muito mais densa do que uma propaganda de produto de limpeza.

Biutiful não tem a poesia de 21 Gramas, que mesmo sendo pesado é belíssimo.

Existem poucos trechos agradáveis nesse filme onde Javier Barden interpreta um sobrevivente em Barcelona. Duro, o personagem passa sem se lamentar por situações que me fizeram pensar que, realmente, eu não tenho problemas.

A doença diagnosticada é apenas um dos conflitos que ele tenta, como pode, gerenciar. É um cara que não se entrega, não se vitimiza.

O contraponto para tanto racionalismo é sua ex-mulher, completamente alucinada e sentimental.

Em meio a passagens que me fizeram lembrar de O Jardineiro Fiel, pelas questões de exploração étnica, e de Invasões Bárbaras, pelo fato de lidar com a morte iminente por câncer, eu torcia para que cada cena acabasse e viesse uma mais leve.

Raramente vinham, mas o personagem aguentou firme.

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