16/11/2008

DIFERENTES VERSÕES











Todas as fotos de Fernando Vivas/Agência A Tarde (13 e 14/11/08)

Existem alguns estudos científicos que fatalmente serão utilizados por gente mal intencionada para distorcer os fatos. Alie-se isso a jornalistas que não sabes escrever as coisas com os detalhes que eles merecem ter, e pronto, o estrago está feito. É o que pode acontecer com essa simples matéria do jornal A Tarde.

É óóóóbvio que as espécies que vivem num ambiente onde há uma estação notadamente seca possuem suas estratégias de sobrevivência e reprodução em situações adversas, inclusive o fogo. O que provavelmente esse pesquisador está estudando é como e em que intensidade isso ocorre, em em quais espécies. Um estudo desses leva anos, décadas, séculos, e ele provavelmente está estudando apenas um grupo de espécies.

Agora vem uma jornalista, pega uma frase solta e faz uma manchete. E lá vem um fazendeiro e pronto: "vou queimar, porque as espécies estão adaptadas e vão sobreviver". O pesquisador tem razão quando diz que há que se pensar em custos de combate, porque é óbvio que tem se traçar estratégias, vias, rotas de combate, assim como de recuperação ambiental.

O histórico da área, quantas vezes ela pegou fogo, e seus usos passados (agricultura, pecuária, compactação do solo etc) interessa muito para dizer sobre sua recuperação. Há que se pensar nisso tanto no combate como na sua recomposição. Para isso, monitoramento é essencial, e nisso, o IBAMA, com todas suas falhas, dá banho na SEMA.

Aliás, achei bem lúcida a declaração do Coordenador da Rede que concentra os guias e brigadistas, com bem mais noção de sucessão florestal e sobre os danos do fogo, até mesmo logisticamente. Falou com bem mais responsabilidade que o pesquisador e que as autoridades.

Enquanto isso, o mesmo analista ambiental que escreveu a mensagem do post anterior deu uma descrição bem mais clara dos danos irreversíveis que um evento desses causa. Faltou à jornalista (ou ao revisor da publicação on line) fazer um cursinho básico e aprender a escrever nome científico corretamente, mas mesmo assim o conteúdo não foi comprometido.

Lendo as duas matérias, a que diz que os danos à biodiversidade são inexoráveis, que cita o incêndio nas áreas onde tinham sido recém descobertas espécies endêmicas de orquídeas, que lembra dos danos aos cursos hídricos, com o assoreamento, e a outra, do Doutor em que diz que o fogo pode não ser o grande vilão, eu até entendo que o pesquisador tenha suas razões para dizer isso, mas vejo que ele está muito debruçado sobre seu tema de estudo e não consegue sair dele, enxergar o mundo lá fora.

Esse é um dos problemas da academia, e tem gente que nunca saiu dela. Sai da faculdade, entra no mestrado. Sai do mestrado, entra no doutorado. Sai do doutorado e começa a dar aula e a formar os futuros profissionais. Torcem o nariz para os que não são do seleto clã acadêmico, mas na verdade muitas vezes têm pouca interação com a praticidade da vida real.

2 comentários:

  1. Justo Tati. Impressionante a interpretação do jornalista. Deve ter "descoberto a roda", naquela pobre cabecinha.
    Que tragédia, estou de luto. Mesmo longe isso dói muito. E o pior é que por aqui já não se fala mais do assunto, ou seja?, cai no esquecimento das pessoas. Q revolta.Q sistema avassalador esse nosso, que incapacidade. Acredito na esperança, peço até para vc me encaminhar esse email q o analista disparou p vcs. Quero gritá-lo em meu blog também! Que interesses estamos defendendo ao levantar esperançosos a cada dia. Aquele nosso, de que vamos conseguir um mundo melhor? Ou aquele implícito de uma máquina travada e engasgada que pisa em ovos para não arranhar os égos? Bjo

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