Sucom é obrigada a reconstruir terreiro
O terreiro de Angola, Oyá Unipó Neto, destruído parcialmente na última quarta-feira, a mando da superintendente da Sucom, Kátia Carmelo, será reconstruído pela prefeitura municipal de Salvador nos próximos dias. Já a superintendente deixa a liderança do órgão e passa a cuidar exclusivamente da Secretaria de Planejamento do Município (Seplam). Pela manhã e à noite, representantes de terreiros de candomblé fizeram manifestações no local onde fica o terreiro, no Imbuí.
A prefeitura, conforme informou a secretária de reparação, Antônia Garcia, fará apuração sobre a legalidade do terreno. Caso seja confirmada a irregularidade, buscará a regularização fundiária. “Se não conseguirmos, vamos procurar outra área para erguer o templo, em comum acordo”, completa.
A prefeitura também assumiu o compromisso de arcar com os custos dos objetos de culto que foram danificados durante a demolição. As decisões referentes ao terreiro foram anunciadas por Antônia Garcia, após reunião, nesta sexta, com os responsáveis pelo terreiro, os secretários municipais de educação e governo e o subsecretário de Reparação.
O prefeito João Henrique, que havia anunciado a presença na reunião, não compareceu, o que gerou impasse para o começo da negociação. Os representantes do terreiro e da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA) se negaram a negociar na presença de Kátia Carmelo e pedem um pronunciamento do prefeito.
“Uma pessoa que considera um templo sagrado como um lugar qualquer e faz o que a superintendente fez, não é digna para conversar conosco. Não temos nada para falar com ela”, resumiu o presidente da AFA, Leonel Monteiro. Há dois dias, a reportagem tenta falar com o prefeito João Henrique, sem retorno.
O povo-de-santo solicitou ao prefeito a exoneração da superintendente, responsável por ordenar a demolição, considerada inconstitucional pelo Ministério Público por não respeitar o local como templo sagrado e os direitos dos indivíduos como cidadãos. Os técnicos destruíram o espaço com marretas e não permitiram a retirada de objetos do interior. A alegação era de que a construção é irregular e que o terreno pertence ao município.
O Conselho de Comunidades Negras (CCN) encaminhou para o prefeito, nesta sexta, um documento reforçando o pedido de exoneração de Kátia Carmelo, a recuperação total do espaço e uma retratação pública pelo ato de violência. “Para uma cidade com 80% de negros, uma secretária com essa atitude constitui um perigo constante”, afirma o presidente do CCN, João Reis.
Para Rosalice do Amor Divino, conhecida como mãe Rosa e sacerdotisa do Oyá Unipó Neto, nada vai recuperar os maiores danos da demolição. Os ibás (representação material do orixá), que foram destruídos durante a demolição, precisam de um ritual para tornar-se objeto sagrado, “não é apenas pegar outro e colocar no lugar”.
Opo Afonjá – O terreiro Ilê Axé Apo Ofonjá, localizado no bairro de São Gonçalo do Retiro, comemora parceria firmada, nesta sexta, com a Secretaria Municipal de Educação (Smec), para formação do Centro Municipal de Arte e Educação, que vai ministrar aulas para crianças carentes de artes e computação. No lançamento do convênio, Mãe Stella de Oxóssi lamentou a demolição do Oyá Unipó Neto, sem colocar a culpa no prefeito. “A prefeitura deve indenizar o terreiro e responsabilizar quem autorizou uma coisa dessa”, disse.
Danile Rebouças, d' A Tarde
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