15/02/2016

DELICADEZA



Entro na sala do médico:

- Oi, Doutor.

Sempre sentado atrás do seu escudo, digo, escrivaninha, faz uma força muito grande para levantar sua cabeça por um minuto e me dar um desanimado aperto de mão: 

- Por que vc está aqui?

- Eu gostaria de fazer meus exames endocrinológicos, estou há algum tempo sem fazer.

- E porque vc acha que precisa?

- Minha mãe teve nódulos e retirou a tireóide. Desde então eu tenho recomendação para acompanhamento periódico.

- Ela teve câncer?

- Não, a biópsia não acusou malignidade.

- Mas então porque tiraram a tireóide?

- Pelo motivo que eu apontei, Doutor. 

- Mas quem recomendou a retirada? Foi um endócrino ou foi o cirurgião? Vc sabe que endócrino não faz cirurgia, né?

- Sim, doutor, eu sei que quem faz a cirurgia em várias especialidades não é necessariamente o médico que detectou a necessidade de cirurgia. Ela foi ao cirurgião encaminhada pela endócrino.

- E vc sabe o que estava escrito nessa biópsia? 

- Não me lembro, Doutor.

- Preciso que vc me traga o laudo.

- Doutor, essa cirurgia foi feita há cerca de 15 anos, eu acompanhei e participei de todo o processo mas eu realmente não sei entrar em detalhes e certamente não existe mais nenhuma documentação a respeito.

- Só se retira e tireóide se há câncer. Então eles retiraram a tireóide sem motivo, né?

- Não. Isto é você quem está dizendo, a partir das informações prestadas por mim. Além de discordar da sua inferência, eu não afirmei isso.

(Se esse neurótico soubesse que a cirurgia foi feita na Bahia, o grau de de preconceito e falta de ética dele iria às alturas. Apenas para registro, o Hospital da Cidade, onde minha mãe fez a cirurgia, nos atendeu de maneira exemplar e prima pela pesquisa científica em seu corpo médico)


Ali não volto mais.

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