11/07/2009

THERE'S A RUMBLE IN BRIGHTON TONIGHT


O baixista Nixxx, da banda argentina Motorama e o guitarrista Jimmy Rip, que já tocou com Jerry Lee Lewis, Mick Jagger e Debbie Harry.


Slim Jim

A banda

Adri e João

Eu e João, by Adri

Todo mundo tirou uma foto com Slim Jim ao fundo. Foto da Adri.

Fui ver o show do Slim Jim Phantom e não me arrependi nem um pouquinho! Confesso que pensei muito em não ir, dada a preguiça que tenho de festas que bombam. Imaginei que uma festa chamada Horror Billy Fest me estragaria o humor e que eu veria tantas pinups e tantos topetes que eu me irritaria.

Por isso, fiquei me enrolando entre o vai e o não vai e cheguei a 01h da manhã. Perfect! Como não bebo, salvo raras ocasiões (essa seria uma delas, mas dirigindo, nem pensar!), pensei que eu não teria empolgação suficiente para ver o show das duas bandas que abririam a noite, embora eu tivesse ouvido falar bem d' Os Sapatos Bicolores no tempo em que eu ainda lia resenhas sobre o assunto.

Encontrei com a queridíssima Adriane, que foi quem me avisou do show. Conversamos pouco, e o show começou. O que vi foi estupendo! Um rockabilly puro, limpo, honesto. E que botou a galera para dançar, unindo a velha guarda e os mocinhos.

Ver o Slim Jim, ali na minha frente, tão acessível, me fez sentir que as coisas podem se tornar verdadeiras. O cara que eu via na contracapa do vinil que comprei no Conjunto Nacional (o de Brasília, não o de São Paulo) e que escolhia, na minha imaginação, se eu namoraria com ele, com o Brian Setzer ou com o Lee Rocker.

Confesso que achei o som do Stray Cats muuuuito estranho quando ouvi pela primeira vez. Todo mundo falava em Stray Cats, que meu topete parecia com o deles, que isso, que aquilo, então eu já me sentia a própria straycatiana. Aí cheguei em casa, isso em 1983, com aquele vinil deles, e coloquei na vitrola. Não era um som facilzinho de grudar na cabeça de primeira, tipo Siouxsie ou The Cure. Nem um punk rock como os que eu estava acostumada. Fiquei meio decepcionada, achando que eu ia ter que deixar que compartilhar um gosto com a turma, que era tuuuuudo para mim.

Mas nada como uma audição mais apurada, ou duas, ou três. Rock this town, rock it inside out!!! E Stray Cats me acompanharam pelas minhas viagens para São Paulo, pelas pistas do Madame Satã, para a minha mudança para Curitiba, enfim...

Muitos movimentos foram surgindo e desaparecendo, participaei de alguns mais ativamente, fui tendo amigos das mais várias vertentes, acompanhei de longe esse boom que hoje virou o psychobilly, e os Stray Cats sempre estiveram lá, hors concours, sendo respeitados por pessoas das mais variadas tribos.

E o curioso disso é que o Slim Jim volta tocando e Brasília não numa super mega produção, como é claro que ele merece e pode ter, se quiser e fizer as concessões para isso, mas numa festinha quase caseira mas altamente legítima. Que não teve o público que ele merece, mas aí é outra estória, e só lamento pela falta de competência da cidade.

As pessoas preferiram lotar o ginásio de esportes para ver Biquini Cavadão, Ultraje à Rigor e Lulu Santos. Na verdade, eu odiaria ver o show do Slim Jim com essa gente. É, sou esnobe nesse sentido. Prefiro não ir em certos lugares, faço minhas opções muitas vezes erradas e muitas vezes pago o preço por elas. Por isso, acertei na mosca vendo o Slim Jim!!!!

09/07/2009

H2OLHOS


Ao chegarmos no Parque, Sandra falou: "vamos beber uma água?". Claro, só se pensa nisso, com umidade relativa de 49%. Eu já estava pegando minha carteira para logicamente comprar uma aguinha, quando nos deparamos com um... bebedouro! Da CAESB. Dili!

O Parque conta com uma infraestrutura muito bacana, como lixeiras com um desenho que achei interessante

Será que em Brasília as pessoas já têm a cultura de sepação do lixo? Espero que sim! Há coleta seletiva, ao menos no Plano Piloto, que eu saiba. Na casa dos meus irmãos, vejo o caminhão do Lixo que não é Lixo passando, não é o sufoco que é em Salvador, onde vc precisa ligar para a Limpurb, saber qual é a ONG que trabalha no seu bairro (se houver uma), e rezar para que ela passe no dia e horário marcado. Senão não tem onde colocar todo o lixo reciclável da semana, do Edifício inteiro, já que vc convenceu as pessoas a separarem (e mesmo assim elas separam errado, basta ir jogar lixo na lixeira do seu andar e ver garrafas pet no lixo orgânico).


Uma das barracas que oferece massagem


Uhú, me senti no Central Park. Gente tomando sol, que moderno! Minha irmã falou que menos, que basta ir ao Parque da Cidade que isso é comum.

Há uma série de equipamentos para atividades físicas, que no final da tarde ficam bastante disputados. Na foto, um espaço específico para a terceira idade com esses equipamentos. Tem até aquele elíptico! Aquele, quue na minha academia me falram que eu só posso ir quando estiiver mais "adiantada"...

Um tronco de árvore virou uma onça!

Um gatinho se camuflando...

Existem áreas de vegetação. Alteradas, mas com vegetação. Melhor que a comunidade de Brasília tenha essa área verde, amplamente utilizada, que isso tenha virado um monte de prédio, né?

Já pensou em tudo isso aterrado? Muiita gente já!!!!

Em mais um reencontro, fui com Dona Sandra Bittencourt caminhar no Parque Olhos d'Água. Quatro voltinhas a pé. Quinze voltinhas no tempo, que parou e não passou, mas passou e continuou nos deixando lindas, risonhas e engraçadíssimas.

Ela lembrava de taaaaaanta coisa que eu não lembrava! Impressionante como existem fatos que ficam na memória dos outros. Acho que essas amizades de adolescência, essas quando uma conhece a família da outra, que foge junto do colégio, que dorme na casa da outra, que inventa mentira ou descobre as verdades juntas... Essas coisas marcam, e são marcas boas.

Às vezes fico pensando que virei a mais careta de todas minhas amigas. Ou de um bando delas. Ou talvez a minha "loucura" tenha me dado lucidez para chutar o balde na hora certa, enquanto a "caretice" delas as fez aguentarem coisas tipo dez anos de um casamento no way.

Por isso, eu me acho muito certinha. Não ter filhos me deu essa mobilidade, essa independência, me possibilitou tomar com mais rapidez decisões que outras mulheres demoram mais para amadurecer - há mais coisas em jogo.

Claro que existem ônus nessa minha decisão, mas acho que o tempo em que eles mais pesaram já se passou. Casamento eu também não sei se é para mim, ao menos não nos moldes de muitos dos que ouço relatos - inclusive dos dois que tive - que foram desfeitos justamente por isso.

Pensando bem, nada melhor para se renovar com a solteirice do que se lembrar de como pode ser árdua a vida de uma pessoa mal acompanhada. Quero leveza! Se for sozinha, beleza! Acompanhada, melhor. Mas leve!

NÃO ADIANTA BATER

Eu e Alice, no Beirute da Asa Norte

Fachada lateral do prédio do Instituto de Artes (IdA) da UnB

Chamada para exposição no Espaço Piloto

Cometa Cenas

Cartaz d "A Casa Fechada"
Cena inicial da peça

A Casa Fechada

Ontem fui ver o espetáculo teatral "A Casa Fechada", de Roberto Gomes, em montagem de alunos do curso de Artes Cênicas da UnB. A direção foi de Alice Stefânia, professora do curso. Foram duas apresentações no dia de ontem, inseridas no Cometa Cenas, mostra de trabalhos de alunos do Instituto de Artes da UnB.

Combinei com Alice de ver a apresentação das 18h. Ao chegar mais cedo (16h50, será que sou neurótica?), a vi rodeada de pessoas do elenco, e logicamente não fui tirar a concentração deles (nem ser inconveniente).

Zanzei pelo IdA e entrei numa sala onde estava tendo uma apresentação. Teatro, mesmo de alunos, não dá para ser de médio a ruim. Teatro tem que ser bom. E aí o diretor tem que se virar. Imagino que cada ator tenha sua limitação, mas cabe ao diretor ter noção do que está suficientemente pronto para ir ao palco.

Eu não entendo de onde algumas pessoas tiram a idéia da entonação completamente caricata dos personagens. Uma coisa quue não se aplica. Parece que estou ouvindo estória da minha coleção do Disquinho. Sério. Aí, nessa hora, eu acho que isso não é resultado para se apresentar numa Universidade pública.

E fica claro que há diferenças entre os atores. Alguns, por melhores que sejam, não conseguemm segurar a cena contracenando com outros que nos constrangem de tão ruins. Olho para o relógio. Nossa, acho que a apresentação pela qual espero não será naquela sala.

Como sou lesa! Claro que não será! Precisam mudar o cenário, precisam mudar tudo! E agora, como faço para sair dali? Meu pé está dormente, estou sentada no chão, vou fazer barulho, não tenho elasticidade para levantar como uma ginasta. Ah, claro, para melhorar estou de vestido. Não muito comprido.

Após engatinhar elegantemente em direção à porta emperrada, ao sair percebo que algumas pessoas aproveitaram minha iniciativa e me seguiram. Nada como ser precursora!

Então, fui ver a exposição de diplomação da turma de Artes Plásticas de 2009 - 1o. Semestre. Gostei de alguns trabalhos, e me alivei por não encontrar mais sentido nas coisas sombrias que estavam expostas, adequadamente, no subsolo. Com exceção de um coração (ou rim?) feito em metal trançado, bem delicado e artesanal, que tinha uma lâmpada que parecia um cristal que projetava uma sombra rendada, na parede. Esse eu adorei, fiquei brincando com a lâmpada, desenhando o movimento pendular do órgão projetado.

O restante, eu gostaria há dez anos atrás, quando tinha na boca um gosto de asfalto e sangue. E barro vermelho. Hoje tenho nuvens e sorvetes e um colorido de flores. Por mais que a vida tenha sombras.

Também gostei muito do trabalho do cara com traço dos quadrinhos. Em tempo de tantas instalações, ele reacendeu a lembrança de desenhar numa folha de papel. Não é assim que tudo começa?

Depois desse giro, volto para o corredor, onde econtro Alice, que me diz que o espetáculo vai atrasar um pouco. Me convida para entrar, eu declino. Mais um passeio. Quando volto para a porta da sala, já tem uma fila enorme, distribuição de senhas, todo um esquema. Informal, mas um esquema. Como eu ia falar para o cara que eu já estava lá antes daquela fila ser formada? Melhor pegar logo minha senha.

Começo a observar. Como seriam essas pessoas em Salvador? Será que eu seria implicante com elas? Provavelmente. Tenho uma tendência a ser benevolente com as pessoas de Brasília e rígida demais com as pessoas de Salvador. Em alguns pontos. Culturalmente.

Mas Academia é Academia. E Academia de Artes, ainda por cima, tem umas coisas que realmente... As conversas que eu ouvia enquanto esperava a fila me faziam pensar nisso. A galera da Academia sempre vai ter o rei na barriga, não adianta. E tb tem um olhar um pouco deslocado da realidade, ou sei lá, o que é a realidade? Talvez eles tenham outra realidade, que não é essa nossa (minha), simples, medíocre, comezinha.

Mas chegou um cara na fila e me perguntou: "é A Casa Fechada?". Eu: "hã?". Ele, de novo: " A Casa Fechada?". Eu, como já tinha dado um furo lá com as senhas mas agora era ÍNTIMA do ambiente e sabia que precisava de senha, falei: "não". Hahahaha, achei que ele tivesse perguntando se a casa era fechada para pobres mortais como ele, mas eu quis dizer que não, que era só ir lá nna frente que eles davam uma senha e vc entrava na fila e podia ver o espetáculo. Aí, uma professora que estava na minha frente acho que ficou com pena da minha descompreensão e falou para o cara: "é!".

E de fora em fora, entrei no teatro. Nem parece que tenho duas irmãs atrizes e sou filha de ator e diretor. Gosto de ser ter perdido esse vínculo e ter criado outros. É a minha identidade, e nesse sentido a acho comum. E sendo comum, gostei da peça. Com meu olhar que acho crítico para uma leiga. Sente-se claramente a afinação do elenco, mesmo com uma substituição aos 50 minutos antes do início da apresentação. Mérito de todos, e muito da direção.

O figurino estava fantástico, tb gostei muito da concepção gestual principalmennte da personagem "menina". Uma peça na qual a gente nnão presta atenção nos atores. Isso é bom.

Desta vez, na volta da UnB para casa, ao passar pelo CEAN eu não senti nadica da nostalgia que senti naquele outro dia. Acostumei, baby, tenho nervos de aço!

05/07/2009

A SANTA IGREJA

A fachada da Igrejinha, com a forma de um véu de noviça

Algumas pessoas simplesmente estavam ali

A arte se manifestando

Claaaaaro que na porta da Igrejinha tinha a turma do contra, as senhouras católicas, fazendo pressão. Senhoras católicas contra a obra do Galeno, porque certamente existem senhoras que são católicas e a favor. Mas essas, educadamente, fazem questão de marcar presença em todos os lugares. Tipo cigano cobrando dívida.


O polêmico painel principal

Painel lateral, com pipas em referência às crianças que avistaram N. Sa. de Fátima

Outro painel lateral

E outro

Na saída, sorvete. Existe coisa mais gostosa para um sábado de tarde?

Placa de autorização da obra em andamento


Na Asa Sul há uma Igreja, conhecida por Igrejinha de Fátima, que é tombada pelo IPHAN e que foi projetada pelo Niemeyer. Originalmente, a casa santa era adornada por obras de Alfredo Volpi, mas aí o padre que era o DONO do pedaço na época, achava que o Volpi era muito modernoso e após raspar e lixar o reboco, mandou um pintor de paredes passar a tinta branca por cima.

Como diz um entrevistado na matéria do Correio Braziliense, a destruição foi muito bem feita. Não dá para restaurar a parada, mano. Com isso e outras demandas, houve um projeto de restauração, a cargo, como não poderia deixar de ser, do IPHAN.

O arquiteto responsável pelo projeto de restauro na Igrejinha de Fátima explica a concepção do projeto, que englobou não só o que hoje causa calor nas senhouras católicas e nos políticos engravatados que estão fazendo pressão nos órgãos que têm função social ao lidarem com essa gente que tb faz parte de sociedade. Só que qualquer pessoa minimamente cidadã sabe que um órgão público tb (e não em segundo lugar) tem função técnica, que não pode se curvar a uma vontadezinha temporal de uma parcela que provisoriamente tem acesso aos meios de poder, que por sua vez escolheu meios questionáveis de manter a "governabilidade".

O projeto restauro da Igrejinha, afinal, não engloba só os painéis que Francisco Galeno foi convidado a conceber e executar, dentro de padrões pré-definidos a partir da obra original de Volpi destruída pelo pároco e senhouras complacentes. Tais critérios eram o uso do azul cobalto como fundo, a figura centralizada de N. Sª. de Fátima e elementos ligados à sua aparição.

Zuzo bem que não houve chiadeira para os outros benefícios do projeto, como recuperação ou restauração do projeto paisagístico de Burle Marx, do acesso à Igreja feito por uma escadaria, do piso externo e interno, dos bancos projetados por Burle M., dos azulejos feitos por Athos Bulcão, pintura, impermebialização da laje, sistema de som e iluminação e outros babados litúrgicos de acordos com as "ABNTs" do Vaticano.

Mas chegou na hora da Santa, nega, a porca torceu o rabo. Ah, porque a Santa não tem rosto, ah, porque é um desrespeito, ah, isso, ah, aquilo. Agora, o Jesus todo ensanguentado que eu tinha que ver quando eu era criança não é desrespeito não, né? Aquela coisa cheia de espinhos na cabeça do cara me causando agonia e me afastando potencialmente da igreja, afastando potencialmente uma futura devota, não é um desrespeito, né?

E todas as matanças, as desigualdades, as injustiças que a Igreja Católica promoveu ao longo dos séculos não são um desrespeito? E o próprio ato de cobrir a imagem da santa com um pano branco é bem respeitosa e retrata a tolerância pregada pelos ensinamentos de qualquer religião (pelo menos as que se prezam), néam?

Sim, mas não é disso que se trata. A obra de Galeno não é um troco, um afronte, um revide aos desvarios tirânicos do catolicismo. É apenas, e grandiosamente, a visão lúdica do artista, que tem influências de Volpi e foi escolhido por isso. E, depois de escolhido, teve a obra discutida com representantes da comunidade, que agora dizem que já viajaram o mundo e nunca viram uma coisa dessas, e que não concordam que as crianças cresçam vendo essa imagem, que não inspira piedade. Então, quer dizer que só é católico se for bem triste e ensanguentado?

Basta de me fazer fugir da sala dos ex-votos! Aquilo lá parece uma casa mal assombrada! Não se pode respeitar outro tipo de manifestação artística para os espaços religiosos que não seja mórbida? Sinceramente, às vezes vc não sabe se está numa igreja ou num trem-fantasma!

Até eu, que não entendo lhufas de História da Arte, sei que a Santa Igreja se revirou o que pode contra o naturalismo das obras de Michelangelo. O nu e a falta de sofrimento no semblante das esculturas e pinturas causou espécie.

Ora, claro que não estou querendo colocar o Francisco Galeno no patamar de um Michelangelo, mas o que quero dizer é que ao contrário do que certos argumentos defendem, as coisas não são estáticas. Se obra de adoração fosse sempre do mesmo jeito, nunca tinha tido anjinho pelado na igreja.

A própria Igreja não é essa coisa caquética que está tendo essa reação agora. Isso me faz envergonhar de ter sido batizada na Igreja Católica. Isso, ao lado do Padre Marcelo Rosa e do seu sucessor botocudo, me faz ver o quanto as pessoas estão realmente distantes dos ensinamentos bíblicos.

Só sei que no primeiro sábado em que cheguei à Brasília fui à manifestação a favor do trabalho de Galeno na Igrejinha. Num sábado de sol, adultos, idosos e crianças se encontraram para apoiar o artista e observar os painéis que foram novamente expostos, em meio a cadeiras e cavaletes. Aproveitaram tb para engrossar o abaixo assinado.

As senhouras, como uma sombra que não desgrudam, estavam lá! Como eu não sabia quem eram, ao entrar na Igrejinha achei simpático estarem todas em círculo. Claro, o espaço é público. Só não achei nada elegante essa afronta.

Entrei na Igrejinha e, como não podia deixar de ser, me ajoelhei e rezei. Eu não estava lá porque era contra a religião, porque para mim aquelas senhouras nem representam a religião. Claro, elas são bem mais católicas que eu, que nem sou, e longe de mim querer competir com elas. Devem saber nome de tudo que é santo, devem ser muito boazinhas e doar agasalhos nas campanhas de fraternidade.

Mas se sentem tão injustiçadas com uma Santa sem rosto que não conseguem se enxergar nela. Não, as coisas têm que ter rosto, nome e número. Código de barras se possível. Código, conduta, dogma.

Ajoelhei e rezei. Me senti meio estranha, porque era como se eu estivesse lá apoiando o Galeno necessariamente excluísse minha possibilidade de me ajoelhar, esse gesto que eu aprendi a achar tão.. brega?

Pois é, hoje sou assim, rezo em toda igreja que eu entro. Não foi assim em 2000, quando ao visitar o Convento da Penha, em Vila Velha (ES), eu fiquei tããããoo de cara, mas tão de cara com o trabalho escravo que deve ter levantado aquilo que eu mal consegui balbuciar algo com meus interlocutores. A gente mal entrou e as duas meninas com quem eu estava foram logo se ajoelhando. Aquilo me chocou. Aquela pressa delas em se ajoelhar, como se fossem todas umas pecadoras, me assustou.

O que elas tinham era medo, era temor, não era uma coisa boa. Ou ao menos não me pareceu. Não naquele lugar tão opressor. Eu ficava imaginando os escravos subindo aquela colina com as pedras no lombo, que obviamente devia sangrar. Combinando bem com as imagens de Jesus crucificado.

Depois daquilo, mudei bastante minha reação nas igrejas. Fui ficando mais leve e entendendo que nem sempre tenho quue lembrar da parte ruim do catolicismo. Isso foi resultado da minha leitura de outros textos, de outras religiões, principalmente o espiritismo e o budismo.

Fiquei mais tolerante com o catolicismo. E com muitas outras coisas, na verdade. Acho que a gente tem que pegar os pontos bons de cada coisa. Sou uma pessoa ainda muito crítica, e não quero ser ranzinza a vida toda. Quero ser leve sem ser piegas. Equilibrada sem ser chata. Acho que a religião pode ajudar muito nesse processo.

Então, me sinto muito à vontade para rezar, seja numa igreja ou na Festa de Iemanjá. É uma coisa pura, sem pretensões, sem planos. Íntima, mas ao mesmo tempo meio engraçada, pois é feita em público. Não é cotidana para mim. Mas é completamente legítima.

Agora, me vem uma psicopedagoga dizer que ela tem fé de mais?