Contrariando meu cálculos, ele voltou num dia qualquer.
Não era nada mais que outra segunda-feira onde a possibilidade de recomeçar se refugiava na penumbra da veneziana ainda não aberta, fazendo do dia um retrato do meu estado: arrastado, lento, pendente.
Então, com a mesma concisão com a qual entrou na minha vida, ele anunciou o retorno.
Voltou com um pedaço de mim.
Regressaram os sorrisos sem motivo, os milhões de batimentos cardíacos e o ritual dos preparativos.
De volta a maquiagem, o perfume e o salto alto.
Novamente as minúsculas calcinhas incomodando a cada passo e a total timidez perante alguém cada dia mais íntimo.
Voltaram o silêncio ao vê-lo, o não saber o que fazer com as palavras e o delicioso desconforto de querer fazer cada momento inesquecível e irreparável.
Reapareceram meu olhar encabulado, meu gestual lascivo, o orgulho por fazer parte de algo diariamente construído e a satisfação de poder satisfazê-lo.
Voltou meu delicioso cotidiano.
Tão saudosa quanto Curitiba, recepciono quem tem o poder de me transmutar.
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