02/05/2008

PEGA UM, PEGA GERAL


Tatinha é chata e odeia unanimidades. Por isso, não tinha visto Tropa de Elite. Me achava superiorzinha às pessoas que comentavam o filme, e senti um certo orgulho quando me falaram: vc deve ser a única brasileira que não viu.

Não acho o Wagner Moura um ator fenomenal, como todos insistem em achar, e isso contribuiu para que eu não fosse ao cinema ver o filme, nem nunca o locasse. Comprar, então, nem pensar, já que não compro DVDs piratas e se fosse comprar um original, não seria esse.

Até que estou numa sexta-feira chuvosa em Itabatã e acho o filme para ver. Em primeiro lugar, ele não me irritou tanto quanto eu imaginava, pois não é narrado por um policial corrupto e sim por um policial honesto. Violento, é verdade. Mas estou perdendo um pouco o meu pudor em relação a isso. Não acho que todas as casas de uma favela devam ser revistadas para que se ache um traficante. Lá moram pessoas de bem. Mas as merdas dos bandidos - que o são muitas vezes apenas por simples processo de causa e efeito - não dão mole.

Como funcionária pública, sei que é difícil fazer as coisas. E sei que quem faz bem, só se ferra. Não tem lugar no esquema. Não dá para esquecer que o filme é o ponto de vista de um policial, não de um (hahaha) sociólogo. Apesar de eu ter gostado do filme mais que esperava, concordo com algumas críticas que li, só depois de vê-lo. Outras, não tive paciência para ler. 

Voltando para o filme, não achei pesado. Pesado é o sistema, que como diz o filme, não trabalha para a coletividade, trabalha para ele mesmo. As partes que mais me chocaram não foram os sufocamentos, os balaços na cabeça, as porradas...

O mais triste de ver são os esquemas de corrupção. O cara é bom, mas entra numa estrutura falida. Ou vai ficar lá mofando e nunca vai se destacar, ou vai se corromper, ou vai usar a criatividade para tentar dar a volta por cima. Ou vai gritar e se indispor com todo mundo, e vai se dar mal.

É podre o esquema do choppinho de graça (isso sem dizer que beber em horário de serviço já é um absurdo!), da segurança paga, dos guinchos que o Estado não tem recursos para manter, da firma de guinchos que os manda-chuvas do batalhão são donos e que venceram a licitação (será que teve?), aí ficam multando a rodo para guinchar todo mundo. Então, o outro policial, que ganhava propina para deixar o cara estacionar irregularmente, dança na parada, pois é hierarquicamente inferior à máfia do guincho.

E é tão parecido com tudo que eu vejo diariamente na repartição... Os mesmos vícios, as mesmas respostas: não pode fazer, não dá para fazer... Depois, vêm as notícias dos verdadeiros motivos... Eu me diverti vendo, pois é tão patético, eu conheço tudo isso tão de perto... Se fazem isso com a segurança pública, com vidas, com gente morrendo, bala perdida, tráfico, crime organizado, ou seja, uma situação que todo mundo já sabe, há décadas, que é insustentável, imagine o que não fazem com o meio ambiente, que vem a reboque sempre das negociatas?

Bah! Quem quiser que se iluda e aplauda. Quando fazem, é a obrigação. Fico feliz por participar da obrigação minimamente bem feita do Estado, mas estou cada vez mais descrente que ele vá conseguir reverter os grandes acordos fechados em jantares regados a champanhe comprado com cartão coorparativo.

Tá de bobeira?

Um comentário:

  1. tatinha, não vi também, pelos mesmos motivos, odeio putaria em cima de filme.sempre foram no mínimo decepcionantes. não pagaria 5 pilas numa locadora pra ver mas se um dia, de bobeira, zapeando de canal estiver passando posso até ver, de graça até injeção na testa.

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