02/01/2008

E LA NAVE VA

O bichinho narigudo

Posando de alerta, mas morrendo de sono, às seis da matina

Um dos muitos desmatamentos na Serra do Timbó

Árvores? Para quê?

Flagrante de carregamento ilegal de madeira

O pouso, no pacato estádio de futebol de Amagosa - BA

Esses dias andei de helicóptero pela primeira vez. Cada vez que me perguntavam se eu já havia realizado um sobrevôo e eu respondia que não, eu não chegava a ficar constrangida, mas pensava: tenho que fazer. Desde 1997, quando eu trabalhava no Parque do Conduru, sentia na pele a impossibilidade de não ter essa ferramenta para poder monitorar o território.

Na época em que eu estava no licenciamento, novamente nunca fiz um sobrevôo. Cá para nós, eles sempre eram pagos pelas empresas, e muitas vezes substituíam as inspeções de campo, então eu nunca quis entrar nesse bolo. Sempre fiz as coisas da minha maneira - da mais difícil e trabalhosa, porém sem resquícios de desonestidade ou faltas de rigor técnico ou legal.

Agora não, conseguimos, por meio do esforço pessoal da Coordenação onde trabalho, o aluguel de uma aeronave para trabalhar. Que diferença! Antes, se vc queria ou precisava voar, vc era um fresco, estava inventando moda, afinal vc era um peão, e peão não tinha nada mais a fazer do que assinar as porras do papéis que eles queriam, além de se foder em campo, é claro.

Os técnicos que voavam nas inspeções não o faziam por terem argumentado com suas Coordenações, mas sim porque as empresas disponibilizavam o helicópetero, e via de regra o Coordenador sempre queria fazer média com a empresa, e quando possível reduzir o tempo de inspeção do técnico, para agilizar a expedição da licença. Em suma, tudo faz parte de um pacote de troca de gentilezas entre órgão ambiental e empresas, que inclui hospedagem paga para o técnico, embora este receba sua diária para tais despesas.

Foi por não concordar com estas e outras práticas que saí do Licenciamento.

Agora, na Fiscalização, tendo os dias muito felizes no CRA - se bem que meu início no Licenciamento também foi muito bom, porque eu aprendi muito e ainda não tinha descoberto em quantas armadilhas eu poderia cair - finalmente fiz meu primeiro sobrevôo.

Fomos para a região de Serra do Timbó, onde o desmatamento está atingindo níveis alarmantes. Aliada à pressão antrópica, a prioridade de conservação dos remanescentes florestais na região fizeram com que se formasse uma Base Ambiental, numa parceria entre o CRA, o Ministério Público Estadual, a Delegacia Ambiental da Polícia Civil , a Prefeitura de Amargosa e a ONG Centro Sapucaia, com o apoio do Projeto Corredores Ecológicos.

Neste sobrevôo, fomos fazer um reconhecimento da área e marcar as coordenadas e acessos das principais infrações na região, para então planejarmos uma operação por terra. Como eu sempre ouvia histórias de gente que passava mal no helicópero, tomei um Plasil antes, com receio de passar mal lá em cima e ter que pedir para descer.

O que eu não levei em conta é que quando tomo Plasil fico completamente mole. Assim, foi entrar no helicópetero e começar a ter sono. No começo, pensei que era porque eu havia acordado muito cedo - cinco da manhã. Mas depois, o sono não passava. Era para eu estar entusiasmada, mas eu só queria dormir.

Organização à toda. Uma fotografa, outra anota, outra tira o ponto. Eu anotava. O lápis escorregava. Carla - minha Coordenadora - falava: não é sete, Tati, é três. Ai, que vergonha. Eu entendia tudo, juro que entendia. Queria explicar para ela que não era por querer, que eu não era relapsa. Tentava prestar mais atenção. Presatava, não que eu não prestasse. Afinal, o que a gente via lá embaixo era tão grotesco que não tinha como ficar alheio. O que lamento é que eu não estava com toda a minha capacidade de raciocínio, por causa do Plasil!

Desmatamento? O primeiro, a gente fala: olha lá, pega a coordenada. Bizarro. No começo, pega Coordenada até de rocinha de mandioca. Depois, fica claro que tem que estabelecer uma metodologia. Claro que isso todo mundo sabe, mas quando tá lá em cima dá uma empolgação e a gente quer pegar coordenada de tudo. Besteira. Tem que otimizar o tempo da aeronave, que não é nada barato.

Foi impressionante o número de áreas sendo desmatadas no exato momento do vôo, e o carregamento de madeira tb. O interessante é que a galera sai correndo ao ver o helicópetro se aproximando, ou seja, eles têm perfeita noção que estão praticando um delito.

Depois de ver tanto desmatamento, lá de cima mesmo dá para fazer um diagnóstico entre a parte norte a a parte sul da Serra, as diferenças na dinâmica no uso e ocupação do solo - as ameaças mais preementes e as ações mais urgentes. Agora era voltar pro escritório, planejar e finalmente - graças às condições que finalmente foram disponibilizadas aos técnicos para exercerem eticamente suas funções - botar a mão na massa.

2 comentários:

  1. ai que diliça! também fico retarda quando tomo plasil fia, por isso tomo metade da metade. passa o enjoo e não dá bode.

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  2. Que lindo trabalho :)

    Ando confusa Tati. Leio no jornal - "Desmatamento diminui cerca de 30% - Marina faz um bom trabalho", depois "Brasil não contém desmatamento". O que passas? quanto falta pra chegar em um nível bom? A soja e o gado continuam tomando conta de tudo?!

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