Culto religioso - Inhambupe - BA - 02/03/2010
Depois de dois anos sem participar de Opeações de Fiscalização, resolveram me escalar novamente. Havia um acordo tácito: não me incomodem que eu não os incomodo. Resolveram quebrá-lo, e eu, como sou boazinha, não falei "não".
Pensei nos pontos positivos e decidi que não seria uma boa hora para ser reativa, o que de maneira alguma significou que correu tudo às mil maravilhas. Aliás, é uma coisa quase certa: não vai correr tudo bem numa estrutura de faz-de-conta.
Começou antes de ir: avisam a gente por e-mail. Nessas horas vejo a decadência da área técnica, da gestão. Não tem mais reunião de planejamento da Operação, de alinhamento, de nada. Aliás, reunião para quê? O lance é cumprir as metas, o lance é no final do ano falar que fizemos 30 Operações, X apreensões, Y interdições.
Para quê, porque, como? Não interessa, e para de questionar. Para onde o órgão quer caminhar, qual a finalidade das ações, quais os procedimentos? Ah, cala a boca e não enche o saco!
Não quis fazer a estressada, mas me lembrei da época em que ainda achava que minha dedicação podia REALMENTE influir nos rumos do lugar onde eu trabalhava: se vc não grita, nada sai. Então, fui procurar saber quais eram os objetivos da Operação, como ia ser a logística, quais eram as rotas, como a gente estava da mapa, enfim, coisas que até a pessoa mais limitada pensa em fazer.
Mas claro, eu sou ansiosa e criadora de caso, para que saber? Afinal eu sou experiente, sei tudo (é aquela velha desculpa- eu confio em vc, vc é bala, vai lá e se vire), a Operação está redonda e mais detalhes vcs terão no dia da chegada.
Ah tá, então a gente vai perder um dia que poderia estar trabalhando efetivamente, tendo reunião, sendo que podia tê-la aqui? Zuzo bem, só para saber.
Qdo entrei no carro, o motorista já avisou que o mesmo não devia nem estar rodando. ADORO! Adoro viajar em carro que não está apto para o trabalho! Ainda mais agora, que eles são alugados, acho MASSA a repartição ter um contrato com uma Empresa que nem é da Bahia, que oferecia carros que não eram nem plotados (assim algumas pessoas nomeadas pelo PV podiam usá-lo para ir dar aula na faculdade sem dar bandeira), e que não tem nem competência para colocar um carro decente em substituição a algum que quebra.
Assim, torceríamos para aquele carro não quebrar, e se a gente fosse em terreno de difícil acesso, não poderíamos ir sozinhos, já que havia risco REAL e aumentado de uma quebra. Tem nexo escalar um carro que não pode se distanciar de outros numa Operação? Ou o povo que vai estar no carro vai fazer só figuração? Ah, vem cá, mas reunião de planejamento para quê, né?
Ao descobrir que o ar não funcionava e os vidros traseiros não abria (melhor que isso, só se tivesse um aquecedor permanentemente ligado), pensei, apertada num bando traseiro onde não havia espaço para minhas pernas: essa vai ser minha última Operação!
Pilates para quê, se minha coluna já estava doendo? Ergonometria? Nem pensar, vc é experiente e enfrenta todas, vá para a Operação. Lembrei de todos os técnicos, concursados como eu, que se submetem a andar de ônibus, muitas vezes pagando a passagem para receber depois. Fiquei pensando que realmente não há limites, e se vc impõe limites, fica mal vista.
Minha aceitação para participar da Operação estava provando que após dois anos eu estava disposta a relevar algumas coisas, mas que se tinha havido alguma mudança, decididamente ela não tinha sido para melhor. Apostam cotidianamente no EMBURRECIMENTO das pessoas. Ficam incutindo que fazer tudo isso, enfrentar a incompetência gerencial e técnica é edificante, que a gente é uma espécie de Indiana Jones.
Só que a gente não é. A instituição não tem procedimento NENHUM documentado, ao contrário do IBAMA, que mesmo assim enfrenta as dificuldades sabidas.
Chegando no Escritório Regional, os meninos de lá falam, felizes com nossa chegadam: vem cá, vcs que estão chegando de Salvador, digam para a gente como vão ser as coisas.
Hahaha, é para rir?