07/09/2008

LUNAR CAUSTIC

Finalmente terminei de ler "Caústico Lunar", do inglês Malcom Lowry. A tradução é de Maurício Búrigo, bem como as esmeradas notas. A edição é de 2005, pela LGE Editora e Círculo de Brasília Editora, num projeto que o Maurício submeteu ao Fundo da Arte e Cultura - FAC da Secretaria de Estado da Cultura do Distrito Federal.

Achei o livro bem difícil de ler, apesar de ter ouvido comparações entre o Lowry e o Bukowski (acho que foi para me ganhar). Talvez eu esteja gostando de coisas menos agoniantes e o sufocamento dos personagens foi me sufocando também, o que foi postergando a leitura.

O livro trata da passagem de Bill Plantagenet na ala psiquiátrica de um hospital, e no início faz sucessivos emaranhados de cenas do hospitalares e cenas da embarcação onde estivera Plantagenet. Aos poucos, vai ficando clara a relação entre Plantagenet, seus companheiros de Ala e os médicos.

Em alguns trechos, me diverti com tentativas de advinhações sobre as personalidades de alguns colegas de Plantagenet. Mas acho que sou muito simplória para as letras. e isso fez com que eu não me empolgasse muito com o livro.

Eu cometi o pecado de não gostar de "O Velho e o Mar" também. Lembro até hoje da cara de surpresa da minha mãe quando eu contei para ela que não gostei do livro. Aquela cara de "nossa, mas que filha insensível eu tenho, acho que vou ter que criá-la de novo".

É a vida.

HOMEM DE TRINTA

Por esses dias vai ser aniversário do meu pai. De nascimento. Ele faria 69 anos. Estaria ficando véio, hein véio? Esses dias tenho ouvido Sérgio Sampaio e tenho lembrado de coisas que acabam me remetendo ao meu pai.

Para começar, tenho essas fases de ouvir música e tenho também umas fases de puro silêncio. Tendo em vista que mais de metade dos meus quarenta anos de vida eu passei com música all the time nos meus ouvidos, eu cansei. Gosto muito de silêncio. Gosto muito de música ainda, mas não a toda hora. E gosto só da minha música. Claro que adoro ouvir música dos outros quando isso é uma boa experiência para mim, mas como isso é uma raridade, eu prefiro não compartilhar de experiência de ouvir música a não ser sozinha.

Mas voltando ao Sérgio Sampaio, me lembrei de quando ele se hospedou lá em casa, (na casa do meu pai, onde eu morava, para ser mais exata), em 1982. Ele estava fazendo shows para divulgar o álbum "Sinceramente", que tinha sido lançado de forma independente e que meu pai vendia lá na loja de produtos naturais e discos (vinis, claaaaro) independentes que ele tinha - o Jegue Elétrico.

Eu já conhecia o disco, porque e trabalhava lá no Jegue durante o meio período em que não estudava, então ficava ouvindo todos os discos que se vendia por lá, das gravadoras Som da Gente, Lira Paulistana, Baratos e Afins e umas outras que não lembro. Mas era só coisa boa. Tá certo que lá não vendia os da Punk Rock Discos - não era bem o público alvo.

Aí quando o Sérgio ficou lá em casa que eu fui me tocar que ele que era o autor da famigerada música "Eu quero é botar o meu bloco na rua". Eu com 14 anos, topete rockabilly, três vinizinhos punks vindos de São Paulo, duas reportagens lidas na Revista Som Três, me achava a mais punk do mundo e andava meio alheia ao que acontecia em relação ao meu pai e aos amigos dele.

Mas gostei do Sérgio. Gostava dos amigos do meu pai de forma geral, não achava nenhum deles ripongão chato (pois de fato não eram, todos eram bem interessantes, tinham trabalhos legais, geralmente ligados a coisas criativas, e não eram perdidos no tempo).

Lembro que o Sérgio tinha algo de ácido. Meu pai não bebia, então em casa não tinha bebida. Mas com o Sérgio por lá, isso mudou. Estava sempre com o copinho de uísque na mão. Era um cara engraçado, divertido, altamente sentimental. Não convivi tanto tempo com ele assim, mas foi a impressão que ficou.

Lembro que depois li a dedicatória que ele deixou na capa do vinil e fiquei bem sensibilizada por ver o quanto aquela passagem por lá tinha sido importante para ele.

Agora que já sou uma mulher adulta (hahaha), estou ouvindo o tal do disco e me vieram várias coisas à mente: primeiro o talento desse cara e a forma que morreu. Musicalidade não nasce assim fácil. Mas segurar a cabeça tb não é fácil. Lamento muito que tenha sido difícil para ele.

Em "Sinceramente", existem trechos em "Homem de Trinta" que enaltecem a volta à rotina: "tenho almoçado e jantado, tenho tomado café da manhã; barra pesada não, muito obrigado, tenho levado uma vida sã". Se eu, com as minhas crises de depressão, sei o quanto é bom estar de volta à rotina, imagina uma pessoa com problemas maiores, tipo alocoolismo.

Em "Meu filho, minha filha", ele canta para um filho que ainda não tinha nascido. Aí, vem de novo aquela história de que todo mundo tenta ser o melhor que pode. E aí entra o meu pai na história. Ah, essas músicas dos pais para os filhos!

Tá tudo certo. Feliz aniversário. A gente sempre faz o melhor que pode.