23/12/2007

GRANDE SÃO PAULO



Centrão de São Paulo. Nada planejado, liguei a câmera e olhei. Cosmópolis. Pessoas de todas as categorias andando nas ruas. A "verdadeira" SP. Ou uma das mais verdadeiras. Picolés "É do Bahia". Modelos em profusão nas capas de revistas. Cama e mesa ali, na calçada - desta vez travestidos num colchão rasgado e em caixas de verduras podres.

O piso desenhado constantemente entremeando tudo isso. O meu olhar. A minha satisfação por estar lá, novamente, podendo respirar tudo aquilo. Num minuto, tudo voa. Eu bem mais feliz do que acreditava ter sido outrora, andando por aqueles mesmos lugares. Sozinha. Essa experiência pertence somente a mim.

Meu pés, o piso. Guimbas de cigarros, senhoras evangélicas, o ídolo sertanejo. Contrastando, um cabeludo, tranquilo apesar do passo paulistano. Compro Ouro. Durmo no chão, encolhido. Tenho os pés sujos. Moro em São Paulo. Casquinhas por 1 real.

16/12/2007

REVERTÉRIO

Imagem: Prodes/INPE apud Imazon

Afirmação

10.12.2007

Em entrevista hoje à rádio CBN, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco – depois de uma longa explicação das diferenças entre os dados do PRODES e do DETER sobre o desmatamento na Amazônia – disse que a estimativa do PRODES recentemente divulgada, “que fez a avaliação anual do desmatamento até 30 de julho de 2007, confirmando a tendência de redução, de queda, que nós esperávamos que fosse um pouco maior, mas chegou a 20% de redução em relação ao ano passado. Foi um dado novo importantíssimo para confirmar uma estimativa feita anteriormente, em agosto”.

Contradição

10.12.2007

Capobianco disse, também, sobre o DETER, o seguinte: “nos meses de julho, agosto, setembro e outubro, portanto nos últimos quatro meses, houve um aumento em relação aos mesmos meses do ano passado. Então, há uma clara tendência de aumento de desmatamento, porém, o que nós temos é uma tendência. Por que é que é uma tendência? Porque o desmatamento se mede em doze meses, então nós tivemos quatro meses, em que na realidade identificamos aumento do desmatamento, mas há uma ação firme aí do governo, na tentativa de reverter isso”.

Enrolação

10.12.2007

Após dizer que a seca se prolongou e contribuiu para o aumento do desmatamento e que agora entramos no período de chuva, Capobianco falou que “agora nós temos, então, que trabalhar os próximos oito meses para reverter essa tendência”. E concluiu “se nós formos capazes de revertermos isso a partir principalmente de março, que é quando o desmatamento retoma, na Amazônia, nós podemos manter essa tendência de queda. Então, de fato houve, há, uma tendência de aumento, mas, repito, essa tendência, ela só se confirmará, se nós não a revertermos nos próximos oito meses”.

Fonte: O Eco

Concordo. Tem que se trabalhar para se reverter o quadro, sempre. Mas por outro lado, é de enfurecer qualquer cristão (judeu, budista, ateu ou coisa que o valha) que o MMA tenha oito meses para reverter o quadro que se apresentou em quatro. Quais as possibilidades reais disso ocorrer, mesmo que tenhamos pela frente o período de chuvas?

E mais, era para isso estar acontecendo? Quantos anos com essa Equipe no Governo, implantando os Programas que são prioritários para a Amazônia? Ai meu deus do céu, se não conseguem reduzir o desmatamento na Amazônia, quem consegue? Ainda acredito que alguém consiga!

Em compensação, tem gente boa ralando na ponta, basta ver a apresentação da Diretoria de Proteção Ambiental do IBAMA sobre o tema, em 2006. Mas com essa série do políticas divergentes, deve ficar difícil trabalhar por lá, imagino. Além disso, salvo engano, os dados nos quais a própria Dipro se baseia em 2006 são do DETER, é essa mesma fonte que o Capô quer amenizar em 2007...

15/12/2007

QUEM TE VIU...

Foto: Isto É

Quando líder sindical, o presidente Lula adotou a mesma estratégia de dom Luiz Flávio Cappio. Preso em abril de 1980, ao liderar uma greve no ABC paulista, Lula fez jejum de seis dias no Dops (Departamento de Ordem Política e Social).

Quem convenceu Lula a interrompê-lo foi d. Cláudio Hummes, então bispo de Santo André e hoje "ministro" do papa no Vaticano.

Fonte: Folha on Line

14/12/2007

JEJUM

Esse Jacques Wagner anda muito ousado... Disse que ao fazer greve de greve de fome, o Bispo de Barra, D. Luiz Flávio Cappio, "não está seguindo as regras da democracia". Acredita que o bispo está confundindo “um debate técnico e político, que é a oferta de água para os nordestinos, com o dogma de uma religião”.

Ah, governador, confundindo as coisas está o Senhor, e tentando que levar a opinião pública a enganos, já que estamos fartos dessa conversa que a transposição vai garantir água para os nordestinos. Tá, tá, é radicalismo meu, desculpe. Vai garantir água para os irrigantes nordestinos. Quer dizer, talvez eles sejam nordestinos. Mas os que continuarão sem água para consumo humano certamente são.

Eu tive a honra de em agosto participar, como palestrante, pelo CRA, de um Seminário, na Diocese de Barra, sobre a atividade de carvoejamento na região. Conheci o Bispo pessoalmente e ele foi extremamente feliz em sua afirmação: "é impossível pensar em revitalização sem a extinção da atividade clandestina de carvoejamento".

Ele recebeu o CRA muitíssimo bem, e agora o governador faz essa declaração, pela qual eu, como servidora pública da área ambiental me sinto profundamente envergonhada!

Mas a resposta de D. Cappio fala por si mesma: "Jejuo também por democracia real".

Abaixo, o texto na íntegra:

Acusam-me de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto autoritário e falacioso: o da transposição.

Acusam-me de inimigo da democracia por estar em jejum e oração combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do rio São Francisco.
Meu gesto não é imposição voluntarista de um indivíduo. Fosse isso, não teria os apoios numerosos, diversificados e crescentes que tem tido de representantes de amplos setores da sociedade, inclusive do próprio PT.


Vivêssemos uma democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo.
Um dos mais graves males da "democracia" no Brasil é achar que o mandato dado pelas urnas confere um poder ilimitado, aval para um total descompromisso com o discurso de campanha, senha para o vale-tudo, para mais poder e muito mais riquezas. Tráficos de influências, desvios do erário, porcentagens em obras públicas e mensalões são práticas tradicionais na política brasileira, infelizmente, pelo visto, ainda longe de acabar. A sociedade está enojada e precisa se levantar.


Há políticos -e, infelizmente, não são poucos- que, por onde passaram na vida pública, deixaram um rastro de desmandos, corrupção, enriquecimento ilícito etc. Como ainda funcionam o clientelismo eleitoral, a mitificação de personagens, as falsas promessas de campanha, o "toma-lá-dá-cá" e mais deseducação que educação política do povo, esses políticos conseguem se reeleger e galgar posições de alto poder em governos, quaisquer que sejam as siglas e as alianças.


Na campanha do candidato Lula, o tema crucial da transposição era evitado o máximo possível. Mas as campanhas eleitorais, à base do marketing e das verbas de "caixa dois" das empresas, são tidas e havidas como grandes manifestações do vigor de nossa democracia, que, com urnas eletrônicas, dá exemplo até aos EUA...


O projeto de transposição não é democrático, porque não democratiza o acesso à água para as pessoas que passam sede na região semi-árida, distante ou perto do rio São Francisco.
O governo mente quando diz que vai levar água para 12 milhões de sedentos. É um projeto que pretende usar dinheiro público para favorecer empreiteiras, privatizar e concentrar nas mãos dos poucos de sempre as águas do Nordeste, dos grandes açudes, somadas às do rio São Francisco.
A transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais.


Esses números são dos EIAs-Rima (Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente), públicos por lei, já que, na internet, o governo só colocou peças publicitárias.
O projeto de transposição é ilegal e vem sendo conduzido de forma arbitrária e autoritária: os estudos de impacto são incompletos, o processo de licenciamento ambiental foi viciado, áreas indígenas são afetadas e o Congresso Nacional não foi consultado como prevê a Constituição.
Há 14 ações que comprovam ilegalidades e irregularidades ainda não julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. Mas o governo colocou o Exército para as obras iniciais, abusando do papel das Forças Armadas, militarizando a região. A decisão do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, de Brasília, em 10/12 deste ano, obrigando a suspensão das obras, é mais uma evidência disso.
O mais revoltante, porque chega a ser cruel, é que o governo insiste em chantagear a opinião pública, em especial a dos Estados pretensos beneficiários, com promessas de água farta e fácil, escondendo quem são os verdadeiros destinatários, os detalhes do funcionamento, os custos e os mecanismos de cobrança pelos quais os pequenos usos subsidiariam os grandes, como já acontece com a energia elétrica. Os destinos da transposição os EIAs/Rima esclarecem: 70% para irrigação, 26% para uso industrial, 4% para população difusa.


Temos um projeto muito maior. Queremos água para 44 milhões de pessoas no semi-árido. Para nove Estados, não apenas quatro. Para 1.356 municípios, não apenas 397. Tudo pela metade do preço previsto no PAC para a transposição.


O Atlas Nordeste da ANA (Agência Nacional de Águas) e as iniciativas da ASA (Articulação do Semi-Árido) são muito mais abrangentes, têm prioridade no abastecimento humano e utilizam as águas abundantes e suficientes do semi-árido.


Fui chamado de fundamentalista e inimigo da democracia porque provoquei que o povo se levantasse e, disso, os "democratas" que me acusam têm medo. Por que não se assume a verdade sobre o projeto e se discute qual a melhor obra, qual o caminho do verdadeiro desenvolvimento do semi-árido? É nisso que consiste a nossa luta e a verdadeira democracia.


DOM FREI LUIZ FLÁVIO CAPPIO, 61, é bispo diocesano da cidade de Barra (BA) e autor do livro "Rio São Francisco, uma Caminhada entre Vida e Morte".