10/07/2011

RETURN




De repente, duas bandas que passei décadas sem ouvir - mas que no último semestre ficaram girando REPETIDAMENTE em todos os aparelhos emissores de som ao meu alcance - iam tocar na cidade na qual me encontro.

Calhei de ouvir antes DeFalla, e depois, Beijo aa Força, desde que me mudei para São Paulo.

DeFalla porque me pareceu cru o bastante para expressar toda a euforia e desforra pelo fato de eu estar numa megalópole após 13 anos de desidentificação cultural nos cantos onde morei.

Ouvia na academia quando tentava emagrecer para novamente ter a vida saudável e o corpo almejado, ouvia ao levantar em horário mais tardio que o recomendado pela culpa cristã, ouvia ao enfim começar meu dia, e cantava alto enquanto me embrenhava nas tarefas domésticas, fingindo que elas eram realmente essenciais para que as profissionais (re)começassem.

Ouvia antes de sair, sempre sozinha, para todas as agora atingíveis programações culturais e pensava que sim, logo logo eu estaria ambientada e não sairia, como sempre, sozinha.

Ouvia ao chegar, invariavelmente sozinha, em casa e subir com meus caros e espalhafatosos sapatos cosmopolistas os degraus do meu tão suado sobradinho da Mooca.

Já Beijo aa Força eu ouvia menos - e menos para uma pessoa superlativa nunca é pouco - por absoluta covardia. A covardia que me afastou 16 anos de Curitiba, com raros e sumários retornos.

Conforme a resistência ao visitar Curitiba se esvanescia, minha história sonora com a cidade se refazia. Por meio de downloads no Stereo Toaster, as fitas cassete remendadas com durex e as coletâneas de vinil compartilhadas com as amigas ressonavam, de uma maneira que não precisava ser dolorosa nem incômoda.

Eu não precisava mais fugir da minha juventude. Afinal, parece que eu já sou gente grande.